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Entenda o tradicionalismo gaúcho

Cultuamos nossas tradições desde o amanhecer nos pampas, tomando o nosso chimarrão a beira de um fogo de chão, cuidamos do cavalo e honramos a nossa bandeira

O gaúcho vive o seu dia a dia sendo um tradicionalista, preparando um arroz de carreteiro, um churrasco, com nosso jeito educado de falar. O gaúcho do cavalo que preserva a história da Revolução Farroupilha, dos piquetes, aquele que tem uma bandeira do RS em casa

Vamos conhecer visões diferente do que é ser um tradicionalista:

 Gerson Brandolt 

Locutor e Radialista

“Tradicionalismo para os gaúchos que lidam com o cavalo, participam de rodeios, esse não tem a mesma visão do tradicionalismo do que este gaúcho que coloca a bombacha para ir ao CTG (Centro de Tradições Gaúchas), que participa das invernadas de danças, declamações.

Eu já participei de tudo isso e de paleteadas, gineteadas, rodeios, tiro de laço, já fiz no meio tradicionalista de tudo um pouco, participando sempre da parte artística e campeira do CTG.

Esse gaúcho do cavalo, ele preserva muito a história da Revolução Farroupilha, sempre fala algo sobre os farrapos, ainda preserva o Rio Grande antigo. Para o homem do campo o cavalo é a nossa tradição. E o ponto alto do gaúcho que se pilcha para ir no CTG é a história, Bento, Garibaldi, Anita é muito dessa história folclórica do gaúcho.

O gaúcho do cavalo preserva muito daquele costume antigo do homem rural, das estâncias, o modo como trata as pessoas, a fala, por exemplo de como se faz um mate, como se alcança, o sentido da roda, aquele silêncio de se tomar o mate, aquela madrugada no galpão, isso é tradição pra esse gaúcho do meio rural. Este homem do cavalo que é o tradicional gaúcho.

Eu sou uma mistura do gaúcho tradicional do campo e do tradicionalista da cidade, mas me identifico mais com o campo. Sou esse homem do cavalo, não me apego muito aos chefes revolucionários, a história do RS, porque eu não vivi naquele tempo e não sei como eram aquelas pessoas. Eu gosto de preservar o que eu vivi com pessoas da família, nossos avós, bisavós, trisavós que viveram antes de nós, a tradição vem vindo através da nossa criação, perpetuação das famílias e isso é tradição que é passada de pai para filho.

Eu exerci meu tradicionalismo fazendo um pouco de cada coisa, sem ser radical em tudo o que eu fiz. Sempre gostei de declamação, de danças, de músicas, de gineteadas, o tempo foi passando e eu fui entendendo que tudo foi um ciclo na minha vida e vai nos transformando por dentro, na hora de falar, de se expressar, na hora de citar algo, dar exemplo de alguma coisa, temos esse conhecimento de causa, porque vivemos isso no passado. Sempre cultuei nossas tradições. 

Hoje eu trabalho com rádio, mas o meu linguajar é rural e gauchesco, estou sempre falando para o homem do campo.

Já participei de alguns piquetes tradicionalistas, porque nossa cidade sempre teve muitos piquetes. Os piquetes também tiraram muito a força dos CTGs. Quando comecei no tradicionalismo o CTG era muito forte no Movimento Tradicionalista Gaúcho, tudo girava em torno do CTG e não em torno dos piquetes, pois os piquetes faziam parte do quadro social da entidade.

Foram filiando piquetes e mais piquetes, buscando trazer mais sócios e acabou havendo uma ação inversa. O quadro social acabou indo para os piquetes e eles fundando suas sedes e viraram minis CTGs.

Hoje as sedes dos piquetes fazem uma concorrência com o CTG e com isso o movimento tradicionalista acabou enfraquecendo, principalmente nessa parte de bombacha, vestido, de se usar a pilcha completa para entrar na entidade. 

Foi perdendo força muito pela praticidade de ir ao piquete de bombacha e alpargatas, camisetas e o CTG não se preparou para isso, as entidades tem que passar por uma reestruturação para levarem a comunidade de volta pra sede, isso independente de usarem pilcha ou não.

Com o cancelamento do desfile farroupilha, eu espero que as tradições sejam mais efervescentes durante essa semana, podemos fazer uma semana virtual, contando a histórias dos CTGs, fazer um festival de poesias, canto, declamação, tem muita coisa que dá para fazer e acabaria sendo muito mais cultural do que o desfile do dia 20 de setembro. Seria a chance de fazer uma semana farroupilha diferente.

Agradeço o espaço e a oportunidade no portal e dizer que nesse tempo de hoje, já com meus cinquenta e dois anos, que esse meio tradicionalista me deu uma bagagem muito grande para o que eu faço. 

Eu lido com o rádio e uso muito da minha parte declamatória no microfone, nos programas que eu faço, acrescentou muito no meu trabalho, expressão, o jeito de falar, tempo de fala.

Se teve uma coisa que foi base pra mim e me deu tudo o que eu sei dentro do rádio, tudo tem algo da arte da declamação, o palco do declamador é uma grande história para nós, pois a poesia nos faz viajar no passado…”

Texto Márcia Ximenes Nunes

Edição: Dulce Maria Rodriguez

Fotos: Gerson Brandolt e arquivo

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