Somos parte da história da nossa gente. Sou maior que a história grega, sou gaúcho e me chega para ser feliz no universo
Ser gaúcho e tradicionalista é ser especial, vivemos cultuando nossas tradições no nosso dia a dia. O tradicionalista também pesquisa, se informa, lê muito, sempre queremos saber mais sobre nossa cultura. Nos identificamos com o declamador que declama com todo o seu coração, vivenciando cada palavra que ele fala.
Nos identificamos com o trovador que a cada rima tira palavras lá de dentro do seu eu. Nos identificamos com as danças tradicionais, quando dançamos numa invernada é como se estivéssemos dançando lá nos tempos de nossos antepassados.
Nos identificamos com a música gaúcha que fala do nosso pago, nossa querência, do gaúcho, do cavalo, do mate e da prenda. Nos identificamos com a gineteada, o tiro de laço e a paleteada.
Nos identificamos com a gaita, o violão e a melodia. Assistimos o desfile do dia do gaúcho, como se estivéssemos lá na Guerra dos Farrapos e os cavaleiros que desfilam sentem-se como personagens do passado. Isso é ser um tradicionalista raiz.
Hoje temos mais uma entrevista com uma pessoa que viveu no tradicionalismo toda a sua vida, criou uma entidade e foi coordenadora da 4ª Região Tradicionalista.
ILVA MARIA GOULART
“Vida de tradicionalista”
“…O movimento tradicionalista é o modo em que vivemos é uma filosofia de vida. Sempre os CTGs que levam as pessoas pra dentro da entidade e eu fui levada por um CTG de campanha. Para eu te falar do hoje, preciso voltar um pouquinho lá atrás.
A minha caminhada dentro da cultura gaúcha, faço desde os 9 anos de idade na fundação do CTG Quero-quero do Passo Novo. Dancei 35 anos nas invernadas de danças, fundei o Grupo Nativista Ibirapuitã, fui prenda da 4ªRegião Tradicionalista e 3ª prenda do RS.
No movimento tradicionalista ou tu optas por ser tradicionalista ou não. Eu sou desde criança, mas tem pessoas que estão tradicionalistas. Todos que nascem no RS são gaúchos. Temos o gaúcho sul-rio-grandense, o gaúcho pampiano e o gaúcho da pampa inteira, mas ser tradicionalista é o ideal, uma filosofia de querer.
As nossas entidades impulsionam o ser tradicionalista, porque esse é o que pesquisa, por exemplo, eu tenho o livro de indumentária, fiz outra pesquisa sobre o traje do charqueador e foi aprovado na convenção, onde vai sair o livro. Nos dedicamos muito para isso e o que pesquisamos os CTGs que levam a diante nossos estudos.
As entidades são importantes para o movimento, são eles que fazem seminários, tem o grupo de danças, preparam as prendas para os concursos, eles que fazem girar a cultura gaúcha, juntamente com os piquetes. Se não tivéssemos as entidades, acho que não teríamos essa cultura gaúcha, seriam apenas bailes e desfile.
Lá em 1947, quando aquele grupo de 8 jovens fizeram o resgate da nossa indumentária, danças, músicas, na qual os CTGs fazem com que estejam vivas até hoje. Por isso que tem essas entidades gaúchas na nossa formação e temos que valorizá-las, pois são as mantenedoras do movimento organizado que são filiados ao MTG.
O meu papel hoje no movimento é de pesquisas, de trabalho, estou alavancando outras pesquisas, porque eu penso que a cultura gaúcha, assim como a nossa história tem muito a ser descoberto. Sou tradicionalista por filosofia, mas me dedico as pesquisas até porque sou formada em história.
Nós sabemos que após a pandemia, vamos que ter outro momento de vida para todo mundo. A cultura gaúcha foi muito agredida, nós temos muita preocupação, porque as entidades vão ter que serem ajudadas, impulsionadas, fazem quase 1 ano que os CTGs não possuem eventos, os grupos de danças parados e os músicos também. Temos que ver o pós pandemia, como vai ser o retorno da cultura gaúcha do RS.
Vai ter que ter uma reestruturação dos municípios com as entidades tradicionalistas.
Sou muito otimista com essa juventude que vem acompanhando o movimento, tenho certeza de que eles terão todo um compromisso e o movimento pode ser melhor e até mais unido. A nossa juventude tem condições de tocar esse movimento tradicionalista que já completou 50 anos e eles levarão o movimento para o centenário…”
Ilva Maria Goulart é funcionária pública aposentada; presidente da comissão de sindicância da prefeitura de Alegrete por 12 anos; formada em história pela URCAMP Alegrete; foi coordenadora da 4ª Região Tradicionalista por 13 gestões; conselheira do MTG; medalha do mérito tradicionalista Barbosa Lessa 2016; troféu Germinar 2016; coautora do livro “indumentária Gaúcha”; patroa e fundadora do Grupo Nativista Ibirapuitã.
Edição: Dulce Maria Rodriguez
Fotos: Reprodução