Secretaria Estadual do Meio Ambiente luta contra à Covid19 no Amazonas profundo

Entrevista com o Secretário do Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira

A SEMA se reestrutura com barreiras sanitárias para evitar que a pandemia atinja com força às comunidades ribeirinhas e unidades de conservação.

O Amazonas concentra uma das maiores biodiversidade do mundo, concentrada na floresta e nos rios. “É extremamente relevante abordar as questões ambientais no momento atípico em que todos atravessamos diante de uma pandemia; vale ressaltar que não acabou, então todas as estratégias são pensadas para esse modelo na pandemia e, obviamente, na retomada econômica em relação a tudo que nós estamos vivendo”, destaca o secretário estadual do Meio Ambiente, Eduardo Taveira, que concedeu entrevista exclusiva ao www.agroflorestamazonia.com reafirmando o balanço das atividades da Sema em 2020 durante a pandemia.

Agroflorestamazônia: Quais foram às atividades da Sema em 2020, à luz de uma situação inusitada como a pandemia?

EduardoTaveira: A Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amazonas  priorizou realizar  primeiro a reestruturação,  para que pudesse ter um cinturão nas comunidades, em especial comunidades ribeirinhas ou comunidades tradicionais, dentro das nossas unidades de conservação do Estado, para que nós tivéssemos barreiras sanitárias adequadas para evitar que a pandemia chegasse com força nessas áreas, entendendo que, em geral, a partir da Amazônia profunda há menos infraestrutura disponível para esse tipo de atendimento em casos mais graves, provocados pela covid-19.

“Reforçamos parcerias que já tínhamos com a Unicef, Penud, Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde do Estado, para que toda a nossa infraestrutura de ação em campo fosse destinada para levar em primeira mão, medicamentos, kits que ajudassem na parte de limpeza de acesso a água que foi um tema bastante usado nessas ações, e nós conseguimos ter  um resultado muito positivo, pois tivemos um quadro de infecção pela covid-19 proporcional ao que aconteceu no interior do Estado, mas sem maiores impactos nas unidades de conservação, algo bem diferente do que aconteceu em Manaus, por exemplo’’.

Apoio em unidades de conservação durante a pandemia

A Sema desenvolveu ações de prevenção e combate a Covid-19 em Unidades de Conservação, em parceria com Instituições de Governo e Organizações Não Governamentais. As entregas também contaram com apoio financeiro do Programa Arpa na ordem de R$ 164.125,10. Entre os principais resultados obtidos destaca-se:

  • Envio de 300 kits sorológicos de diagnóstico COVID-19;
  • Entrega de 612 kits de higiene pessoal;
  • Distribuição de 496 cestas básicas e entrega de 500 pacotes de leite para Campanha do Fundo de Promoção Social (FPS);
  • Distribuição de 150 máscaras caseiras produzidas por comunitários.

Agroflorestamazônia- E que tipo de atividades foram realizadas na área de comunicação?

Eduardo Taveira – Informamos as comunidades do que estava e está acontecendo e fechamos o trânsito de barcos para as unidades de conservação no momento de maior intensidade de atuação do vírus. E, com essas ações, fomos diminuindo o impacto da pandemia. Mesmo com restrições de movimento de pessoas e de cargas, nunca deixamos de nos preocupar coma retomada econômica, porque sabemos que com os cuidados preventivos podemos contornar os problemas de saúde causados pelos vírus e retomar as atividades econômicas com mais segurança.

Recursos destinados

“Mobilizamos nossos parceiros institucionais em geral organizações não governamentais, para que todos os recursos que fossem destinados tivessem como prioridade o apoio às cadeias produtivas, em especial pensando na retomada do Turismo de Pesca Esportiva, no qual temos muitas garantias do ponto de vista sanitário do controle da entrada do Turismo e também da Assistência Social promovida por esses organismos’’.

A Sema contou com o apoio de uma cooperação entre organizações, chamada Aliança, que juntou organizações não governamentais, associações indígenas, organismos internacionais para levar cestas básicas para essas comunidades, para garantir pelo menos uma segurança alimentar e, logo, depois da retomada, com abertura dessas atividades um empenho da nossa equipe de organizar toda a parte de estrutura das cadeias produtivas, então nós conservamos o manejo do Pirarucu, conseguindo dar saída para o mercado deste peixe manejado por comunidades tradicionais e indígenas.

Agroflorestamazônia- E no turismo?

Eduardo Taveira– “No turismo nós tivemos áreas da economia que tiveram queda de 60%; mas nas unidades de conservação as quedas foram de pouco mais de 15%, ou seja uma realidade econômica muito favorável às comunidades e o mais importante de tudo, conseguimos fortalecer por meio da Secretaria de Saúde, a Secretaria de Interior na área da Saúde, o atendimento no interior do Estado por meio da Tele Saúde. Hoje, essas comunidades estão mais fortalecidas no ponto de vista social, econômico e também de saúde, do que antes da pandemia”.

Agroflorestamazônia- E o que o senhor tem a comentar sobre o Programa Amazonas Mais Verde?

Eduardo Taveira– O Governo do Estado lançou o Programa Amazonas Mais Verde, que prevê o apoio de uma maneira mais ampla, fugindo um pouco da área só da Sema, para estimular a retomada econômica, em especial do setor primário. O Amazonas Mais Verde está contemplado no tripé, que é comando e controle ou seja o combate efetivo as causas do desmatamento das queimadas; ele está concentrado também na regularização fundiária e ambiental para pequenos produtores, e produtores da agricultura familiar, e, por fim, o estímulo à novos modelos econômicos da bioeconomia e também da produção rural de baixo impacto, como sistemas agroflorestais e agricultura em áreas degradadas.

 

Agroflorestamazônia- Quanto o governo destinou em recursos para este programa?

Eduardo Taveira– O governo destinou R$ 56 milhões para este programa, são recursos que foram repatriados da Petrobras pela operação lava jato que o Superior Tribunal Federal destinou diretamente aos Estados para que se compusessem essas ações de combate aos ilícitos ambientais e, também, a retomada das atividades econômicas no pós pandemia. Esse recurso já está sendo implementado tanto pela Secretaria de Meio Ambiente, o sistema Sepror e também a secretaria de Cidades e Territórios, esperamos até 2021 ter dois mil cadastros ambientais rurais no sul do estado feitos, isso vai ajudar muito ao produtor rural dessas áreas a se regularizar para poder ter crédito rural, e ter a modernização do seu trabalho”.

Agroflorestamazônia: Temos informações que o BNDES vai disponibilizar recursos da ordem de R$ 33 milhões para investir na regularização fundiária, neste cinturão do Sul do Amazonas, como está esta questão?

-Eduardo: Estive em Brasília com o ministro do meio ambiente e o secretário de Flora da Amazônia; tanto o ministro Ricardo Salles quanto o secretário Joaquim Leite estão estreitando as relações com o governo do Amazonas através do Programa Floresta mais do Governo Federal, que é, justamente, para recompensar produtores rurais que mantém as suas áreas de reserva legal compensadas.

Nada mais justo do que esse esforço de conservação, que parte também do produtor rural. A ideia é que a gente possa trazer isso com todos os municípios do Sul do Amazonas.

Recentemente, na visita do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao Amazonas, mantive uma conversa com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, nesta direção que teve excelente aceitação, através do Cadastro Ambiental Rural, que está sendo implementado. Com isso, o produtor rural terá crédito para fortalecer suas atividades dentro da sua área titulada.

 Agroflorestamazônia– Isso vai ajudar no combate aos crimes ambientais?

 -Eduardo: É criando um cinturão de prosperidade entre o pequeno produtor familiar que torna a vida do grileiro mais difícil, porque o grileiro se abastece, visto que às vezes o produtor rural não consegue mais produzir na sua terra e vende a sua terra. Ele vira um alvo fácil para esse sistema de grilagem, é importante fortalecer essa cadeia do pequeno e do agricultor familiar para que seja um cinturão virtuoso, contra esse processo de grilagem, que tem sido tão comum e voraz na região Sul do Amazonas.

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Agroflorestamazônia: O Amazonas criou com a ajuda da Alemanha os Centros Multifuncionais em Parintins, Apuí, Lábrea, Humaitá e Boca do Acre. Como eles estão funcionando?

Eduardo Taveira: Os Centros Multifuncionais estão funcionando em parceria com a Secretaria de Segurança Pública e vai ser instalado um centro integrado de comando e controle, um centro interagências do estado para ser feito um monitoramento em tempo real, do combate aos ilícitos em especial ao tráfico de madeira, que já está funcionando.  Em Apuí funciona desde setembro e Humaitá está previsto para o primeiro trimestre de 2021.

Agroflorestamazônia: Como a Secretaria do Meio Ambiente pode buscar equilíbrio entre a preservação ambiental e a produção rural?

-Eduardo: Essa é uma resposta que o mundo todo tem buscado, como equilibrar a conservação dos recursos ambientais e à expansão das suas atividades produtivas. Então, a pergunta é como fazer isso de forma harmoniosa?

O governador tem falado que é necessário investimentos em tecnologia, para que seja possível encontrar esse equilíbrio; basta lembrar que estamos vindo de um processo agora por conta da pandemia, da diminuição drástica da nossa economia, e, ao mesmo tempo, temos um câmbio favorável à exportação e temos um processo de desindustrialização do Brasil nos últimos dez anos muito profundo. Desta forma, a base da nossa economia é a exportação e às commodities são a alternativa imediata.

Agroflorestamazônia- E o que o governo Wilson Lima tem feito nesta direção?

Eduardo Taveira– O governo do estado tem investido no setor da tecnologia na Secretaria do Meio Ambiente, para fazer o monitoramento remoto da expansão dessas áreas e tem trabalhado em parcerias com o Ministério Público Federal e estadual, para que a gente possa identificar essas atividades de grilagem, que são, inclusive, prejudiciais para essas atividades produtivas legalizadas. O Governo do Estado demonstrou a importância do papel da assistência técnica rural fazendo a chamada, contratação e dando posse a 227 profissionais que trabalham nessa área de assistência técnica, do IDAM, e mais de 100 da ADAF, justamente, para que se possa compatibilizar essa parte do crescimento da atividade primária, com a sustentabilidade; porque sem floresta, não se recicla a água e sem a água não se tem a produção rural. O que nós estamos fazendo é desenvolver metodologias de sistemas, para remunerar, quem não tem a floresta em pé.

 

Agroflorestamazônia – Mas e a economia como fica?

Eduardo Taveira– Então, a lógica é econômica, é preciso ter instrumentos econômicos, para garantir que um hectare de floresta em pé, tenha o mesmo valor ou mais de um hectare de soja plantado, para o produtor rural ter uma opção em ter uma boa reserva de floresta em pé e encontrar alternativas para viabilizar sistemas econômicos, que sejam cada vez mais compatíveis com o tempo da natureza.

E outra meta é que as áreas abandonadas podem ser utilizadas para ampliar essa participação do setor primário sem derrubar uma única árvore. Agora, o que nós do nosso Estado é uma extensão que é muito maior do que grandes centros produtores como Rondônia, por exemplo, você pode com saneamento e técnica identificar estas áreas e aumentar em três, quatro, cinco vezes a produção sem derrubar uma única árvore. Então, é possível compatibilizar isso que o governador tem buscado e pedido as secretarias.

Texto: Luana Santos com informações da Assessoria de Comunicação (SEMA)

Fotos: Michell Melo

Post Author: Agro Floresta

1 thought on “Secretaria Estadual do Meio Ambiente luta contra à Covid19 no Amazonas profundo

    Sara Miranda

    (dezembro 3, 2020 - 10:06 pm)

    Entrevista muito bem elaborada, tema muito assertivo.
    Muito bom ficarmos por dentro das ações tomadas pelas secretária, inclusive a do meio ambiente, e do governo.

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