Coletivo incentiva agricultura urbana na periferia de Recife

Por conta de sua densidade demográfica e elevada deficiência do sistema de saneamento básico, Recife é citada entre as cidades brasileiras mais vulneráveis às mudanças climáticas. O problema, indicado em relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, datado de 2017, foi um dos motivos para a criação do coletivo Rede Pela Transição Agroecológica. Com atuação na periferia da cidade pernambucana, o grupo acredita que a agroecologia é a saída para reverter essa situação.

“A gente quer tornar as cidades mais resilientes, e as pessoas mais conscientes de que seus hábitos têm consequências. Por isso, trazer a educação como forma de fomentar a agroecologia, sempre com a ideia de que a cidade já foi o campo e as matas”, afirma Geovana Oliveira, que integra a rede.
Segundo ela, o coletivo foi criado durante a pandemia, em 2020, por pessoas, instituições e movimentos sociais. “Foi no SAFe, Sistema Agroflorestal Experimental, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que nós nos conhecemos. Então, sentimos a necessidade de expandir a agroecologia para outros territórios fora do meio acadêmico e também ver o que já estava sendo feito lá fora.”

A primeira troca de experiências do coletivo foi feita em Passarinho, comunidade da região metropolitana de Recife. No lugar, um grupo de mulheres já trabalhava com agricultura urbana e compostagem doméstica. “Era uma produção que caminhava junto com as reivindicações delas quanto às políticas públicas para a comunidade”, explica.


Nesse momento, segundo Geovana, a Rede Pela Transição Agroecológica foi se articulando com outros movimentos e atingindo mais pessoas. Eles participaram de um projeto sobre Mulheres e Soberania Alimentar em Tempos de Pandemia, que, além de propor a agroecologia como ferramenta para lidar com a situação, distribuiu cestas básicas.
“Com isso, nós também entramos em contato com uma comunidade rural, de agricultores indígenas que forneciam cestas básicas orgânicas para o projeto. Tudo isso foi contribuindo para a nossa formação enquanto coletivo”, destaca.

A partir dessas experiências, o grupo criou uma cartilha sobre agricultura urbana agroecológica. Intitulada Somos Todxs Passarinhxs, o material traz informações sobre saúde e agroecologia, abordando desde o plantio à colheita. Além de propor práticas como a compostagem e a medicina fitoterápica.

“O trabalho de agricultura urbana aqui começou lá em 2015, com o Grupo Espaço Mulher, e já melhorou muita coisa, como a questão do descarte do lixo, hoje em dia as pessoas têm muito mais consciência”, conta Ediclea Santos, líder do bairro Passarinhos.

Mas, segundo ela, embora esse trabalho já acontecesse, a troca com a Rede Pela Transição agregou conhecimento. “Foi um intercâmbio de conhecimento, nós falamos mais sobre a compostagem e essas hortas suspensas. E eles trouxeram mudas e espécies diferentes, que nós não conhecíamos, além de um sistema de captação de água que fez muita diferença para a gente”, lembra Ediclea.
Ravi Rocha, biólogo e também membro da Rede Pela Transição Agroecológica, afirma que o sistema de captação de água foi pensado inicialmente para minimizar os impactos da pandemia. “Aqui no Recife, há um grande racionamento, então tem comunidades que chegam a ficar até 15 dias sem água”, explica. Ele também afirma que embora os recipientes de armazenamento sejam simples e não garantam totalmente o acesso, ajudam, pelo menos, com alguma água para manter a horta.

Com toda essa experiência, as próprias mulheres de Passarinho, articuladas com a Rede Pela Transição, propuseram uma extensão desse projeto para outras oito comunidades na capital pernambucana. O grupo entrou com uma campanha de financiamento coletivo e conseguiu arrecadar R$ 32.423. Agora eles estão elaborando um plano de ação do projeto para iniciar em meados de abril.

“Esse dinheiro vai ajudar a gente a distribuir kits agroecológicos com mudas, ferramentas, cartilhas sobre compostagem e tudo o que nós já fizemos em Passarinho. Assim as comunidades vão poder iniciar esse trabalho agroecológico ou fortalecê-lo, no caso das que já trabalham com isso”, afirma Rocha.

Texto e Fotos: Globo Rural

Post Author: Agro Floresta

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