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Série II – “Ser Tradicionalista”, a força da mulher gaúcha dentro da tradição gaúcha

A mulher tem um grande papel na cultura gaúcha, sempre fizeram parte do

movimento tradicionalista gaúcho, tanto dentro como fora das entidades.

A tradição já começa dentro de casa, quando as mães e avós ensinam receitas

tradicionais da culinária gaúcha, a tomar chimarrão e seguir os usos e costumes gaúchos

como a hospitalidade e a generosidade.

As mulheres fazem o tradicionalismo seguir em frente, tanto no dia a dia, como

na parte artística e parte campeira nas estâncias e Centro de Tradições Gaúchas.

 

Durante a Revolução Farroupilha, que durou 10 anos, as mulheres foram muito

Importantes, os maridos foram para as guerras e elas ficaram tomando conta da casa,

dos filhos, das estâncias, do gado e das plantações, também tem aquelas que foram  a luta

 junto com os revolucionários, lutando, cozinhando e sendo enfermeiras.

Hoje em dia temos mulheres estancieiras e patroas dos CTGs, sempre buscaram

à igualdade, liberdade e a humanidade.

 

Hoje entrevistamos a prenda Milena Antunes de 24 anos, do Alegrete-RS

 

Acadêmica de Medicina Veterinária- UNIPAMPA

1ª prenda mirim CFTG

1ª prenda juvenil CFTG

1ª prenda CFTG

Mais prendada prenda mirim da 29ª Campereada Internacional de Alegrete

Mais prendada prenda mirim dos festejos farroupilhas de Alegrete

Mais prendada prenda juvenil dos festejos farroupilhas

1ª Prenda dos Festejos Farroupilhas de Alegrete

3ª Prenda Mirim da 4ªRT

1ª Prenda juvenil da 4ªRT

Vice Campeã do Festmirim em dança de salão

3º lugar em danças tradicionais força A do ENART 2014

4º Lugar em danças tradicionais força A do ENART 2015

Declamadora, dançarina e prenda.

Atualmente, 1ª Prenda do CFTG e integrante do departamento cultural da 4ª Região Tradicionalista

                          

Como entrou no movimento tradicionalista gaúcho?

 

…”Eu costumo dizer que nunca entrei no tradicionalismo, o tradicionalismo já fez parte

da minha vida desde o meu nascimento. Eu venho de uma família tradicionalista,

onde meu avô foi fundador de CTG (Centro de Tradições Gaúchas) e patrão da entidade também.

Minha mãe sempre dançou na invernada (grupo de danças tradicionais), ela e meu pai foram

prenda e peão respectivamente.

A minha inserção foi natural, pois com apenas 3 anos de idade comecei a participar dos concursos de declamação de poesias gaúchas. Na época, eu não sabia ler nem escrever, decorava os poemas através de desenhos na poesia.

A paixão foi tamanha da minha parte, que comecei a dançar na invernada, a qual faz parte na minha vida até os dias de hoje. Já são 19 anos dançando, e a cada dia que passa, me apaixono mais.

Confesso que a minha permanência e paixão pelo tradicionalismo, foi quando me tornei prenda. Fui convidada para participar do Concurso de Prenda Mirim do Centro Farroupilha de Tradições Gaúchas, e foi bem ali que me apaixonei pela história do MTG, do Rio Grande do Sul e seus costumes.

Foi sendo 1ª Prenda Mirim do CFTG, que desbravei o Rio Grande do Sul, conhecendo sua história, usos e costumes, o verdadeiro tradicionalismo. Afinal, passei pelas três categorias de prenda: mirim, juvenil e atualmente, sou prenda adulta.”…

 

 

Nos concursos para escolher a prenda de uma entidade tradicionalista, da região tradicionalista e depois prenda do Rio Grande do Sul, as meninas precisam estudar muito sobre nossas tradições, usos, costumes, história e geografia do Rio Grande do Sul e do Brasil, conhecer e saber sobre as tradições artísticas de nosso povo, como declamar, cantar,

dançar, tocar um instrumento, fazer nossos artesanatos, etc.

 

O que é ser tradicionalista pra você?

 

…”Tradicionalismo para mim é uma filosofia de vida, a qual eu vejo como o melhor lugar

para crescer e se Deus me permitir, vir a criar meus filhos.

Acredito nesta filosofia, pois é o único movimento onde conseguimos unir gerações, desde

o mais novo até o mais velho, todos juntos em um único propósito.

Foi como prenda que encontrei meu propósito. Eu sempre fui uma menina revolucionária,

querendo mudar o mundo, e foi através do tradicionalismo, de ações como prenda, que pude

em pequenas ações voluntárias, contribuir um pouquinho na melhoria da nossa sociedade.

Como prenda, realizei projetos sociais, ambientais e na luta de empoderamento e direitos das mulheres.

Muitas pessoas julgam o tradicionalismo, como um movimento machista, mas o tradicionalismo é um movimento de inclusão onde todos tem vez e voz.

Já possuímos mulheres nos mais altos cargos do MTG, como presidentes do movimento, presidentes de congressos tradicionalistas e de lideranças em todos os demais cargos.

Cada dia que passa, conquistamos mais nosso lugar, e a prenda além de ser a representante

da mulher gaúcha, carrega consigo a responsabilidade de dar voz a todas as mulheres do RS.”…

 

Qual a tua expectativa em relação ao desfile do dia 20, que com a pandemia não aconteceu?

 …”A pandemia veio de forma arrasadora para todos os setores do tradicionalismo.

As entidades tradicionalistas tiveram grandes perdas econômicas, muitas não conseguiram

se manter, e tiveram que fechar suas portas.

Os grupos de danças, não tinham como pagar músicos ou instrutores.

Os comércios gaúchos, que giravam em torno dos Festejos Farroupilhas, não conseguiram se manter.

Acredito que todos os setores econômicos do Rio Grande do Sul foram afetados com

a não realização das festividades no ano de 2020.

Alegrete por possuir o maior desfile de cavalarianos do Rio Grande do Sul, amanheceu na manhã daquele vinte de setembro em silêncio. E logo que clareou o dia, ao chegar ao CTG Farroupilha, pois eu tinha uma live para apresentar, meu coração apertou. Pois, eu não ouvi o bater de cascos dos cavalos, não tinham gaitas animando as festanças, nem prendas e peões colorindo nossas ruas.

Ali estava eu, com meu vestido de prenda, através da tela de um computador transmitindo para os alegretenses, um pouquinho de cultura para aquecer o coração deles.

Confesso que este dia jamais sairá da minha memória.

Já no ano de 2021 foi diferente. Ainda possuímos grandes medidas protetivas, mas com a benção do nosso patrão celestial, conseguimos realizar de uma maneira diferente os Festejos Farroupilhas.

O desfile do 20 de setembro, aconteceu de uma maneira diferente, onde pudemos realizar uma cavalgada na manhã do 20 de setembro, passando pelas principais ruas de Alegrete.

Senti ali, naquela cavalgada a chama da tradição sendo reacendida no coração de todos os alegretenses.

Talvez, este tenha sido o ato de encorajamento e fé que todos nós gaúchos precisávamos.

As minhas expectativas para o ano de 2022 são as mais altas. A minha felicidade já é tamanha só em pensar que poderemos realizar nossas festividades normalmente.

Penso também em todo comércio alegretense, que gira em torno dessas festividades no mês de setembro, podendo retornar as suas vendas e reequilibrar seus estabelecimentos.

As invernadas de danças já retornaram, com dificuldades, com menos pessoas, mas com uma vontade imensa.

Então sim, a chama da nossa tradição não foi apagada, e para 2022 ela terá muito a arder no coração de todos os gaúchos.”…

 

 

 

Escritora

Márcia Ximenes Nunes Chaiben

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