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Hoje nossa entrevista será com quem cavalgou durante um mês carregando a “Chama Crioula” até o seu destino, enfrentando frio, chuva, sol e geada pelas estradas do Rio Grande

 

A Chama Crioula é o marco inicial do Movimento Tradicionalista Gaúcho, marca o início dos festejos farroupilhas. A chama  é mantida no candeeiro, não se usa gás, é óleo diesel e pavio de lã. Os grupos de cavaleiros carregam candeeiros com a chama crioula para diferentes destinos, vão acampando pelo caminho até chegar ao local que deixarão a centelha e neste período da viagem enfrentam tempo bom e ruim, e vão seguindo em frente comendo arroz-de-carreteiro e churrasco pelo caminho, ganhando pouso em várias estâncias tradicionalistas.

Qual o teu sentimento de carregar a Chama Crioula em cima de um cavalo até o município de Alegrete, cavalgada essa que durou um mês, enfrentando chuva, frio, vento, geada e sol?

“…O meu sentimento de cavalgar carregando a Chama Crioula é de reviver o que acontecia no dia a dia das pessoas antigamente, as tropeadas, o transporte dos animais e de alimentação para as estâncias e procurando viver tudo isso na nossa atualidade. Passar para os jovens o Civismo e a tradição da Chama Crioula que foi um marco  do Movimento Tradicionalista Gaúcho, esse acendimento da chama tirado da pira da Pátria (7 de setembro) em 1947, isso marcou o grupo dos 8 tradicionalistas que começaram o movimento.

 

Além disso, realizando a cavalgada temos a oportunidade de cultuar o tradicionalismo, levar o conhecimento da chama para várias comunidades que encontramos pelo caminho e aprender com eles também. Eu conheci vários lugares, devido a essa 4ª cavalgada que eu realizei.

Para eu realizar esta cavalgada juntamente com o meu pai é um prazer a parte, já faz mais de 20 anos que cavalgamos juntos, até para acompanhar ele, pois está com 78 anos e tem dificuldades para muitas coisas, mas o tradicionalismo é mais forte que tudo isso, e aproveitamos para convivermos o dia inteiro juntos nessa cavalgada.

Também tem a perseverança em relação ao cavalo, temos muito cuidado com eles, pois não são judiados. O civismo, a tradição e carregar as bandeiras do Brasil, do Rio Grande do Sul, da 4ª Região Tradicionalista e a Chama Crioula é o mais importante de tudo isso…”

                                                                                                                                             

Conte-nos como foram esses 30 dias, o que encontraram pelo caminho, onde almoçavam e descansavam os cavalos?

“…Estes dias de cavalgada no inverno, a gente passa por todos os tipos de climas e temperaturas. Muito frio pela parte da manhã, a tarde ameniza um pouco quando tem sol, alguns dias nublado e outros com geada. Saímos sempre com bastante roupa e levamos o poncho ou o pala, porque a cavalgada dura em torno de três horas e meia pela parte da manhã, paramos para almoçar e descansar os cavalos, e a tarde mais umas três horas e meia de novo. Carregamos o poncho porque pode fazer frio e cair geada, sempre bem agasalhados, vai junto um carro de apoio que nem sempre está junto com a cavalgada. Para nós é uma honra, porque a gente faz porque gosta e é uma tradição do nosso povo…”

Qual o sentimento de cavalgar do lado do teu pai?

“…Sinto o maior prazer em fazer a cavalgada junto com ele, porque foi ele que me apresentou o tradicionalismo e as cavalgadas juntamente com minha mãe. Ele foi patrão de entidade tradicionalista, dançou em invernada de danças artísticas quando ele era jovem, e eu também dancei, fiz parte do departamento jovem tradicionalista e hoje faço parte da patronagem do CTG Nico Dorneles e o meu pai sempre me deu suporte dentro da tradição. Já fizemos quatro cavalgadas juntos, uma honra cavalgar esses 30 dias do lado do meu pai…”

 

O que é ser tradicionalista para ti?

“…Ser tradicionalista é uma opção de vida para mim, eu me considero um tradicionalista os 365 dias do ano, até por causa do meu trabalho, porque trabalho diariamente na estância lidando com o gado e o cavalo é o meu companheiro todos os dias. Sou pecuarista e gosto do cavalo e tudo que envolve ele, isso faz parte da tradição campeira. E na parte do Centro de Tradições Gaúchas, eu tinha 5 anos quando foi fundado o CTG Nico Dorneles em 1977, eu me criei dentro dessa entidade, fez com que eu sempre vivesse no meio da tradição.

Ser tradicionalista é uma filosofia de vida, sempre procuro integrar os jovens dentro do tradicionalismo.  Ser tradicionalista é o que sou durante todos os dias do ano…”

 

 

 

 

Escritora

Márcia Ximenes Nunes Chaiben

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