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Chimarrão ou mate? o símbolo da amizade do gaúcho

Não significa apenas tomar uma água quente com erva mate, dentro de um porongo. Aqui no sul, temos muito respeito pela nossa tradição do chimarrão. Quem não conhece o sistema de matear, tem muito que aprender ainda

O chimarrão ou mate é uma bebida característica da cultura do sul da América do Sul, legado das culturas indígenas Caingangue, Guarani, Aimará e Quíchua. Estudos detectaram no chimarrão a presença de muitas vitaminas como: as do Complexo B, vitamina C e D, sais minerais como Cálcio, Manganês e Potássio. Combate os radicais livres, auxilia na digestão, diurético, estimulante e laxante.

 A capital nacional do chimarrão é a cidade de Venâncio Aires-RS, onde lá acontece a festa nacional do chimarrão, chamada de FENACHIM.

O gaúcho trás na sua tradição o chimarrão, que é um respeito a vida e a alma do mate. O chimarrão tem a propriedade sagrada de unir os casais e harmonizar com os filhos, desperta a intimidade no núcleo familiar.

Pois é através dos mates conversados que circula a tradição gaúcha, onde conversamos e tomamos mate juntos, pessoas de todas as idades e gerações. Além de ser uma bebida cultural, pode contribuir para a nossa saúde também.

O ato de preparar o chimarrão ou mate

– Cevar o mate ou chimarrão;

– Fechar o mate ou chimarrão;

– Fazer um mate ou chimarrão;

– Enfrenar o mate ou chimarrão;

  A palavra amargo também é usada no lugar do chimarrão.

Como é feito o convite para tomar um chimarrão?

– Vamos matear?

– Vamos gervear?

– Vamos chimarrear?

– Vamos verdear?

– Vamos amarguear?

– Vamos apertar um mate?

– Vamos tomar um mate ou chimarrão?

– Que tal um mate?

– Quer uma cuia?

– Quer um chima?

Para prepararmos um chimarrão, precisamos de uma cuia, erva mate, bomba e água quente.

 As 3 maneiras de tomar ló          

O chimarrão pode ser tomado de 3 maneiras, em relação a companhia de quem vai ou não tomar mate conosco.

– Mate solito

Quando a pessoa não precisa de estímulo para matear, tomar mate sozinho. Dizem que é o verdadeiro mateador, que fica mateando com seus pensamentos.

– Mate de parceria

 Quando a pessoa espera uma ou mais pessoas companheiras a fim de motivar o mate, pois não gosta de matear sozinha.

– Roda de mate

É na roda de mate que essa tradição assume o seu apogeu, agrupando pessoas, sem distinção de raça, credo, cor ou posse material. Dentro desse clima de respeito, o mate vai integrando as pessoas numa trança de usos e costumes, que floresce na intimidade gaúcha. Há um respeito místico nas rodas de chimarrão. Induz o homem a uma busca interior, despertando a auto análise em relação ao meio. 

Podendo ter uma prosa amiga, que se estende por horas, ou nos momentos sérios da vida, onde precisamos apenas de um companheiro calado mateando conosco.

As regras

Como tudo na vida, o Chimarão também tem as suas regras:

–  A mão direita

Para receber e entregar a cuia para a outra pessoa, deverá ser feita com a mão direita. Se por acaso a mão direita estiver ocupada, daí se devolve com a mão esquerda dizendo: “desculpe a mão” ou “é a mesma do coração”.

– Água do mate

A temperatura da água para preparar o mate, nunca deve estar muito quente, pois pode queimar a erva deixando o mate lavado.

– Roda do mate

O sentido da volta da roda do mate, deverá partir da direita do enchedor do mate. É comum após o mate que for do cevador (o que faz o mate) ter início a roda de mate, a partir do mais velho ou alguém que se queira homenagear, sendo assim pode furar a fila.

– Só o cevador pode mexer no mate

 Só o cevador pode arrumar o mate, que pode tocar na bomba, arrumar o topete que caiu, ao menos que você tenha permissão para mexer, pois é considerado uma falta de respeito alguém mexer na cuia, ou melhor na bomba.

– Roncar a cuia

O mate deve ser tomado todo, até fazer roncar a cuia.

– Agradecimento

Apenas agradecemos o mate, quando devolvermos a cuia e não quisermos mais tomar mate.

– Mate de estribo

 É o mate que se toma antes de ir embora. Normalmente o cevador costuma dizer para a pessoa que está por sair, “tome outro para o estribo”.

– O último mate

 Nunca se diz: tome o último mate, porque o último nunca se toma, só o destino pode oferecer.

– Mate do João Cardoso

 É o mate que nunca chega, fica só na surpresa. Aquele mate que as pessoas ficam conversando e o dono da casa diz: “já vou fazer um mate” e nunca vai fazer é só promessa.

– Mate tamanqueado

 Costume de chamar assim quando a roda do mate está na sala e a pessoa se levanta e vai na cozinha encher a cuia, fazendo com que o mate chegue na sala frio. Quando se oferece esse mate a alguém, em geral a pessoa não é bem-vinda.

– Mate doce

É mais usado pelas mulheres, toda vez que for servir coloca-se uma colher pequena de açúcar. Também se toma mate com mel, açúcar queimado, leite com canela, casca seca de laranja. Mas a cuia do mate doce não pode ser a mesma do mate amargo. Quando a mulher ganha nenê e o leite não desce para amamentar, é costume dar mate doce ou mate com leite, para o leite materno descer.

Porongo ou cabaça?

O porongo é utilizado nos estados do Sul do Brasil e países vizinhos (Argentina e Uruguai) para se fazer a cuia, recipiente usado para servir o chimarrão, bebida feita pela infusão da erva-mate. A cabaça também é utilizada para fins de ornamentação de residências e festas folclóricas em geral.

Cabaça é a designação popular dos frutos das plantas dos gêneros Lagenari e Cucurbita. Outros nomes incluem o porongo, cuia, Jamari…Porongo é um fruto não comestível de tamanho grande é composto por uma casca grossa e sementes em seu interior. Por ter origem natural, o porongo pode ter diferentes formatos e tamanhos, variando também os tipos de cuia de porongo que existem.

Todo homem que madruga para tomar seu chimarrão, geralmente tem seus negócios equilibrados. Quando tomamos nosso chimarrão ordenamos nosso dia a dia e planejamos nossos negócios, ninguém mateia com pressa.

 CHIMARRÃO (Glaucus Saraiva)

        “…Amargo doce que sorvo

           Num beijo em lábios de prata

           Tens o perfume da mata

           Molhada pelo sereno

           E a cuia, seio moreno,

           Que passa de mão em mão

           Traduz, no meu chimarrão,

           Em sua simplicidade,

           A velha hospitalidade

           Da gente do meu rincão…”

 

Texto Márcia Ximenes Nunes

Edição: Dulce Maria Rodríguez

Fotos: Reprodução

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