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Nossa entrevista de hoje é com o engenheiro agrônomo Marcos Caraffa, professor da Faculdade de Agronomia da Sociedade Educacional Três de Maio no RS, que vai nos falar sobre a Canola

Como está o cenário atual da cultura a nível municipal, da região Noroeste e Estado?  Nós estamos aproveitando a cultura da melhor maneira possível e por quê?

 

…”A ótima safra de inverno ocorrida em 2022 influenciou o aumento de áreas com cultivos de inverno, não sendo diferente com a canola. Cabe salientar que essa safra não deverá gerar patamares de produção semelhantes ao do ano passado, ficando aquém, perdendo-se potencial de rendimento de grãos tanto por semeaduras na abertura da janela de cultivo quanto pelas temperaturas altas que tivemos no outono e no inverno.

 

Entendo que, de forma geral, utilizamos muito mal essa cultura, sobretudo pela contribuição que ela fornece em um sistema de produção de grãos, rotacionando de forma excepcionalmente favorável com o trigo.

 

Nas regiões noroeste e missões do Rio Grande do Sul concentra-se a maior área cultivada com canola, mas se considerarmos o potencial de área de cultivo, ela ainda é relativamente pequena.”…

 

 

Quais os cuidados e manejos que essa cultura demanda, desde a semeadura até a colheita? Como é a questão de defensivos agrícolas para a canola?

                                   

…”Semeadura e colheita são dois fatores fundamentais para a canola, havendo necessidade de se entender muito bem esses processos e dominá-los. A densidade de plantas e a boa distribuição das mesmas na área é fundamental para o potencial de rendimento. Já, quanto a colheita, ela deve ser efetuada em momento adequado, sob pena de ocorrer muita perda por debulha, demandando, inclusive, ajustes específicos nas colheitadeiras.

 

As pragas que costumam atacar a canola aqui em nossa região, basicamente são as lagartas das crucíferas (a mais comum) e os pulgões (mais raros em termos de incidência e geração de danos). Para o controle das lagartas muitos produtores têm utilizado inseticidas, o que tende a afetar a população de abelhas, devendo haver cuidado especial com essa prática. Mas temos uma alternativa excepcional para o controle dessas lagartas, sem efeito colateral, que é o controle biológico, com aplicação de vespas nas lavouras (atualmente já se faz essa prática com uso de drones).

 

Quanto às doenças, tem sido usual a aplicação de fungicidas nas áreas de cultivo, em que pese não termos resultados de pesquisa apontando eficácia da mesma. Particularmente, entendo ser essa ação mera geradora de custos de produção.

 

Outra atividade comum nas lavouras de canola é o uso de herbicidas dessecantes para facilitar a colheita. Essa prática, entendo novamente, ser questionável, pois além de potencializar ocorrência de resíduos nos grãos e óleo, apresenta custo com o agroquímico, perdas por amassamento na área de cultivo, excesso de grãos verdes (que serão descontados da produção como impureza) além de menor massa dos grãos e óleo nos mesmos, pois a dessecação inibe boa parte da translocação do nitrogênio das síliquas, ramos e racemos para os grãos. Todos esses aspectos diminuem o rendimento de grãos. O segredo da colheita é o adequado monitoramento para que ocorra no momento correto, lembrando que canola, diferentemente que trigo, soja, milho, etc, não se colhe com a planta totalmente seca e isso requer muito cuidado com a regulagem do sistema de trilha da colheitadeira.”…

 

 

Quanto ao clima, o que é necessário para o desenvolvimento?

                                                                                                                    

…”A canola não demanda muita água, podendo produzir muito bem com aproximados 400 milímetros em seu ciclo, no entanto, como a canola produzida no Brasil é primaveril, é muito importante temperaturas baixas por ocasião do estádio vegetativo assim como temperaturas amenas nos estádios reprodutivos. Embora haja muita preocupação com geadas por ocasião do período reprodutivo, o calor excessivo, com temperaturas acima de 25 a 28 graus no enchimento de grãos acaba afetando substancialmente o potencial de rendimento, com perdas, de modo geral, muito superiores às geradas por geadas.”…

 

 

 

Existe alguma relação maior da canola com as abelhas (ou algum outro inseto) para a polinização? Por exemplo, se é uma cultura que dependeria mais deste inseto do que as demais ou se a canola auxilia, de alguma forma, na sobrevivência de abelhas?

 

…”A imensa e intensa florada da canola se constitui em pasto apícola excepcional, atraindo muito os polinizadores e as abelhas de forma especial. Temos diversos estudos demonstrando que a colocação de colmeias no entorno das áreas cultivadas com canola pode gerar aumento de rendimento de grãos próximos a 25 %, graças ao trabalho de polinização efetuado pelas abelhas. Assim, num processo ganha-ganha, o aumento de produção de canola é acompanhado pelo aumento na produção de mel.”…

 

 

 

Quais as vantagens de cultivar a canola? Há mercado?             

 

…”O mercado para canola é muito bom, sendo um grão de alta liquidez, com empresas praticando preços semelhantes aos da soja. Atualmente o Brasil importa canola, principalmente do Paraguai, mas já tivemos exportações sendo efetuadas. Entende-se que a canola tem potencial para ser cultivada no Brasil em área superior a 1 milhão de hectares. Esse ano, segundo dados da ABRASCANOLA, a área cultivada superou em pouco os 100.000 hectares. 

 

Se considerarmos que hoje existe conhecimento vasto sobre a cultura (a SETREM, por exemplo, efetua pesquisas com ela há mais de 20 anos, tendo um arcabouço enorme de informações importantes sobre ela), que novas variedades têm sido introduzidas no mercado, com diferentes funcionalidades e ótimos patamares produtivos (já temos registro de mais de 80 sacas por hectare em experimentos e próximo de 60 sacas por hectare em lavoura), que existe financiamento para a cultura, que ela está enquadrada no zoneamento agrícola de risco climático (ZARC), passível, portanto, de seguro, e que tem gerado renda (com receita líquida interessante) em período que praticamente dois terços da área cultivada no verão fica sem cultivo no inverno, o aumento de área cultivada tem todo a condição logística para ocorrer. No entanto, para que isso se torne uma realidade, há necessidade de domínio do processo de cultivo e assistência técnica de qualidade.”…

 

 

Como é a relação de diversificação de culturas para a propriedade?

                                           

…”Com o advento do “plantio direto”, o grande desafio é fazer com que ele se constitua em um Sistema de Semeadura Direta e, para tal, a rotação de culturas, com diversificação de espécies cultivadas, é algo necessário, pois, uma vez praticado, diminuem os insetos-pragas, as doenças e as plantas concorrentes, sendo todas elas controladas com mais facilidade e eficácia, além de melhorar em muito as condições químicas, físicas e biológicas do solo, fator crítico ao processo produtivo primário.”…

 

 

Quais fatores o professor considera relevantes para que os agricultores locais prefiram utilizar suas áreas de terra para cultivarem trigo, por exemplo, em vez da canola neste período do ano? Seria uma questão de preços, sementes, manejos que os agricultores ainda não dominam? Quais os principais pontos que podem indicar a menor preferência pela canola?

 

…”A questão não deve ser colocada como dúvida entre semear canola ou semear trigo. Costumo dizer que não é canola ou trigo, é canola e trigo. Isso porque, como já se sabe há muitas décadas, o ideal é semear trigo em uma área cada três anos, fazendo rotação de culturas. Com canola intercalada com o trigo no inverno (e, quem sabe mais uma cultura, que pode ser o linho ou a aveia, por exemplo) a pressão de patógenos ao trigo diminui imensamente, pois, nenhuma das doenças que afetam o trigo conseguem proliferar em área cultivada com canola. Sistemas radiculares diferentes se sucedendo também auxiliam na melhora do solo e na extração de nutrientes do mesmo. Cabe salientar ainda que a canola disponibiliza em torno de 20 quilos de nitrogênio por hectare para a cultura em sucessão, como o milho, por exemplo, diminuindo o custo de produção.”…

 

 

 

Escritora

Márcia Ximenes Nunes Chaiben

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