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Não é de agora que a tradição de reunir os mais próximos à mesa para comemorar é feita nas famílias. Os motivos são diversos, seja em um almoço de aniversário, a comemoração de uma promoção no emprego, a tradicional ceia no Natal e até renovação de votos matrimoniais.
Em tempos de isolamento social voltamos nossos olhos para dentro do lugar mais importante da convivência: dentro de casa. Relembramos anos mais aconchegantes de reunião com filhos na mesa, sem nenhuma interferência de fora, sem visitas inesperadas. Ninguém entra e ninguém sai.
O período pascoal em confinamento traz esperança no repartir do peixe e pão. Assim como lembra a enfática história de um menino que ajudou Jesus Cristo no milagre da multiplicação. Ele não titubeou ao dar aquilo que parecia ser seu almoço: cinco pães e dois peixinhos. O santo André fez a pergunta mais difícil de ser respondida: o que é isto para tanta gente? O menino sabia bem o que é ter fome e repartiu o pouco que tinha.
Esperança de dias melhores é a crença dos últimos meses. Repartir o pão entre os seus com presença física pode ser a esperança perdida. Lares voltaram a funcionar dentro das quatro paredes. O almoço em família da sexta-feira santa aconteceu, talvez pela primeira vez, depois de anos com as interferências externas ou aquela desculpa “Hoje não posso, estou muito ocupado. Tenho outros planos. Deixa para a próxima”. Hoje não há interrupções, não há penetras, tudo é feito em família.
Em nenhum momento, há anos, deu-se tanta importância em permanecer em casa, no seio familiar, com aqueles a quem escolhemos ter laços e outros que, como presente divino, dividem conosco o sentido de sermos família. O poder das relações à mesa divide conversas importantes, intimidades, risadas, discussões e cultuam à vida privada. Faltava.
A comida nos une em comunhão. Alimento na mesa significa riqueza, familiares ao redor para repartir significa ser um milionário em tempos de introspecção e isolamento pessoal. As renovações de vínculos familiares estão mais estreitas no partir do pão. A esperança de dias melhores está atrelada dentro de casa, seja no milagre da multiplicação ou no milagre da vida.
Texto: Bruna Oliveira Foto: Reprodução