Com a chegada de aproximadamente 40 mil venezuelanos ao Amazonas, histórias de esperança e resiliência se entrelaçam com os desafios de integração e adaptação em um novo país.
A migração venezuelana para o Brasil, intensificada pela crise social e econômica, trouxe um número significativo de refugiados e migrantes ao estado do Amazonas. Atualmente, segundo dados da plataforma R4V, mantida pela ONU, pelo menos 40 mil venezuelanos vivem em Manaus. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) tem sido uma parceira fundamental nas ações de acolhimento e na formulação de políticas públicas para a integração dos imigrantes.
Manaus se destaca como um destino atrativo não apenas por suas oportunidades de emprego, mas também por sua proximidade com a Venezuela. O fluxo diário de entrada no Brasil pela fronteira de Pacaraima chega a até 400 pessoas. Desde 2017, mais de um milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira, e 53% permaneceram em solo brasileiro.
Histórias de Imigrantes: Sonhos e Desafios
José Andrés Silva, um jovem venezuelano de 22 anos, imigrou para o Brasil há dois anos em busca de novas oportunidades e experiências. Ele escolheu Manaus devido à presença de um parente na cidade e à proximidade com sua terra natal, o que facilita visitas à família. “Posso dizer que fica perto da Venezuela; qualquer coisa, pego um ônibus e em três dias chego na minha cidade para visitar minha família.”
Belkiss Maria López, de 52 anos, também encontrou em Manaus uma oportunidade de recomeço. Ela chegou à cidade para ficar perto da filha e garantir um futuro melhor. No entanto, seu desejo é retornar à Venezuela assim que a situação em seu país melhorar. “Não vou para outro estado porque, se acontecer alguma coisa, é só retornar à Venezuela, já que fica próximo.”
Apesar das diferenças de idade e objetivos, ambos decidiram permanecer em Manaus devido à proximidade com sua terra natal, refletindo a esperança e a determinação de muitos venezuelanos que optaram por construir uma nova vida na cidade.
Perfil dos Imigrantes e Desafios no Mercado de Trabalho
O perfil dos imigrantes venezuelanos em Manaus revela uma população qualificada, mas que enfrenta dificuldades para se inserir no mercado de trabalho. Segundo um estudo da ACNUR em parceria com a Pólis Pesquisa:
– 51,3% dos venezuelanos em Manaus concluíram o ensino médio.
– 25,6% possuem formação técnica ou superior em áreas como educação, administração e engenharia.
– 60% dos imigrantes possuem alguma atividade remunerada, mas 51% recebem menos de um salário mínimo.
– Mais de um terço das mulheres venezuelanas são as únicas responsáveis pelo sustento da casa, e 15% não trabalham fora para cuidar da família.
Apesar das barreiras, a pesquisa “Diagnósticos para a Promoção da Autonomia e Integração Local de Pessoas Refugiadas e Migrantes Venezuelanas em Manaus” destaca que a presença dos imigrantes pode contribuir para a diversificação da economia local. No entanto, o acesso a serviços públicos, saúde e educação ainda é um grande desafio.
A Operação Acolhida e Outras Iniciativas
Diante do crescente fluxo migratório, o governo brasileiro implementou a Operação Acolhida, uma iniciativa que busca realocar refugiados e migrantes para outras cidades do Brasil. Os principais objetivos são:
– Proporcionar melhores oportunidades de integração socioeconômica.
– Reduzir a pressão sobre os serviços públicos de Roraima.
– Facilitar o reencontro dos imigrantes com familiares em outras regiões.
A realocação é voluntária, segura e coordenada por um comitê de assistência emergencial.
Além da Operação Acolhida, organizações como o UNICEF têm atuado para garantir os direitos das crianças e adolescentes venezuelanos, promovendo ações nas áreas de saúde, nutrição e educação.
Desafios Sociais e a Luta Contra a Xenofobia
Apesar dos esforços para a integração, os venezuelanos enfrentam desafios adicionais, como a xenofobia, que se manifesta de diversas formas, desde violência simbólica até física. O preconceito pode dificultar o acesso ao mercado de trabalho e à educação, aumentando as barreiras para uma adaptação plena.
No entanto, muitas iniciativas vêm sendo desenvolvidas para combater o preconceito e promover a inclusão dos imigrantes. A solidariedade da população manauara tem sido um fator essencial para a construção de um ambiente mais acolhedor e oportunidades mais justas.
A jornada dos venezuelanos em Manaus é marcada por desafios, mas também por histórias de superação e esperança. A trajetória de José Andrés e Belkiss representa a determinação de milhares de imigrantes que buscam reconstruir suas vidas no Brasil.
Com políticas públicas eficazes, apoio da sociedade e oportunidades no mercado de trabalho, Manaus tem o potencial de se tornar um modelo de acolhimento e integração para imigrantes venezuelanos. Apesar das dificuldades, a esperança de um futuro melhor continua viva para aqueles que escolheram recomeçar na capital amazonense.
Texto: Emelin López
Fotos: Divulgação