Ana Cleia Lima Machado com trabalho e persistência mostrou que é competente e virou diretora da Central das cooperativas de Transporte de passageiros do Amazonas, mas, não foi fácil
No setor de transporte, as mulheres são minoria não apenas nos cargos de chefia. Conquistar respeito e confiança em um ambiente dominado pela mão de obra masculina não é tarefa fácil, mas, Ana Cleia Lima Machado (40) conseguiu.
Com determinação e persistência Ana Cleia abriu seu espaço no cooperativismo de transporte urbano, tradicionalmente dominado por homens. Estamos em 2020 e muita gente ainda acredita que o feminismo é a luta da superioridade da mulher em relação ao homem. Não é isso! É um movimento social e político que luta pela igualdade de gênero. E nesta quarta-feira, 26/08, em que é celebrado o Dia Internacional da Igualdade Feminina, vale a pena relembrar como o cooperativismo está empoderando as mulheres.
“Tudo o que eu conquistei na minha vida foi graças ao cooperativismo”, admitiu Ana Cleia.
Ela começou no cooperativismo em 2010 e foi cooperando que ela conseguiu se formar em Direito pela Universidade Paulista Unip. Passou no exame da Ordem de primeira se tornando Advogada.
Lembra que seu trabalho financiou seus estudos e de ser cooperada passou a formar parte da liderança e atualmente é a presidente da Cooperativa de Transporte Urbano do Estado do Amazonas (CVTRAM) mas também é responsável pelas finanças da Central das Cooperativas de Transporte de passageiros do Estado do Amazonas.
“Hoje está mais fácil, mas tive que matar três leões por dia para estar onde estou hoje”, disse com orgulho.
Pelo fato de ser mulher foi um grande desafio liderar uma cooperativa no ramo de transporte. Começou a destacar posicionando-se nas reuniões da diretoria na defesa dos direitos dos cooperantes e na procura de melhorias para a classe. “Eu não ficava calada nas reuniões. Sempre colocava minha opinião baseada nos princípios do cooperativismo. Até que os cooperados me fizeram um convite para que formasse parte da diretoria. Isso nem era meu desejo, mas foi o resultado das minhas ações na luta pelo cooperativismo”, salientou.
A presidente operava junto com seu esposo. Conciliava casa, filho e esposo. Tinha que demostrar a mesma competência que um homem, mas se virar para cumprir com todas as responsabilidades com a família.
“O maior desafio é equilibrar a liderança no cooperativismo e ainda dividir o tempo de trabalho com a família”, reconhece e admite que isso só é possível porque tem apoio do marido Antônio Mendes Souza (50) e do filho, Kauan Anthony Machado Souza (14)
Estou com muita responsabilidade, cobranças, eventos e cursos, mas observa “eu gosto muito e amo meu trabalho”.
Pediu para as mulheres cooperantes que não baixem a cabeça frente as dificuldades. “Procure resolver, de seu jeito e não se entregue. Tudo o que eu consegui foi pela persistente. Vocês também podem conseguir”, frisou Ana Cleia.
Além do preconceito
A participação feminina e a importância das mulheres dentro do âmbito cooperativista só têm crescido. Segundo dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB), atualmente, cerca de 52% dos cooperados são mulheres.
Em uma instituição cooperativa, cada pessoa – independentemente do cargo, da renda, do gênero, da idade, tem direito a um voto e a ser votados. Assim, o cooperativismo permite igualar as oportunidades para ambos os sexos. Inclusive, as mulheres ocupam apenas 25% dos cargos de governança das cooperativas e, portanto, ainda há um longo caminho a percorrer.
Os princípios cooperativistas que valorizam e empoderam as mulheres são:
1o – Adesão voluntária e livre – Um modelo para todos.
Qualquer pessoa interessada em utilizar seus serviços pode ingressar numa cooperativa, desde que o faça de forma livre e espontânea, e esteja disposta a aceitar as responsabilidades da sociedade.
2o – Gestão democrática – Todos têm os mesmos poderes.
Todos os associados têm igual direito de voto em uma cooperativa (um sócio = um voto). O poder de decisão não está vinculado à posse. Todos acompanham as políticas e a evolução da instituição, participando de todas as decisões.
3o – Participação econômica dos membros – Todos são donos.
Em uma cooperativa, todos são associados, que adquirem cotas para entrar na sociedade e têm direito a participar democraticamente de todas as decisões da instituição.
4o – Autonomia e independência – Todos têm autonomia de decisão.
Acordos e parcerias podem ser firmados pelas cooperativas, desde que não afetem o controle democrático dos membros.
Um caso especial é o das cooperativas de crédito que, como instituições financeiras, estão submetidas à fiscalização do Banco Central (o que não deixa de ser uma segurança para seus associados).
5o – Educação, formação e informação – Todos ensinam e aprendem.
A fim de contribuir com o desenvolvimento do modelo como um todo e com o seu próprio, as cooperativas promovem a educação e a formação de seus trabalhadores e associados, informando-os e capacitando-os. Uma prática cujos benefícios socioeconômicos vão muito além das instituições em si.
6o – Intercooperação – Todos se ajudam.
Além dos associados de uma mesma cooperativa unirem-se e cooperarem uns com os outros, essa ajuda mútua também se estende para as relações entre as diversas cooperativas. Por meio de estruturas locais, regionais, nacionais e até internacionais, todas as cooperativas colaboram umas com as outras.
7o – Interesse pela comunidade – Todos saem ganhando.
Sem fins lucrativos e formada por pessoas físicas, as cooperativas têm na comunidade seu objeto constituinte e seu principal objetivo. Dessa forma, trabalham para o desenvolvimento sustentável de suas comunidades, gerando benefícios sociais e econômicos não apenas para seus associados, mas para toda a sociedade.
Texto Dulce María Rodriguez
Fotos: Arquivo Ana Cleia Lima Machado