A urgência de enfrentar obstáculos estruturais para garantir o desenvolvimento pleno das comunidades amazônicas ganhou destaque durante a apresentação da superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Valcléia Solidade, no último sábado, dia 24 de agosto, durante a realização da Glocal Amazônia 2024. O evento reuniu, em Manaus (AM), lideranças, empresas e organizações comprometidas em promover soluções de inovação social, tecnológica e ambiental na região.
Durante o painel “Colaboração como estratégia de impacto sistêmico”, Valcléia enalteceu a relevância da escuta ativa nas comunidades. “Antes de intervir em um território, é essencial compreender o contexto local e ouvir atentamente as necessidades das comunidades. Caso contrário, é melhor não começar nada. […]. Em alguns momentos temos que escutar mais e falar menos, porque as comunidades têm muito para nos ensinar”, afirmou.
Segundo ela, os maiores entraves enfrentados pela Amazônia estão relacionados à logística, energia e comunicação. A superintendente ressaltou que, em períodos de vazante dos rios, esses problemas se intensificam, deixando as comunidades sem acesso adequado a alimentos, água e energia, além de dificultar o transporte.
Ela também chamou atenção para a precariedade no fornecimento de energia elétrica. Em 2022, das 582 comunidades atendidas pela FAS, 313 recebiam apenas quatro horas diárias de eletricidade, forçando as famílias a recorrerem a alternativas como lamparinas, velas e gerador de energia, que são poluentes.
Embora ações emergenciais, como a distribuição de água durante a seca, sejam necessárias, Valcléia destacou a importância de soluções definitivas. “Falamos de sociobioeconomia e de uma Amazônia mais poderosa, mas precisamos superar esses desafios estruturais para avançar”, pontuou.
A FAS desenvolve vários projetos em parceria com empresas, organizações do terceiro setor e órgãos públicos, com o objetivo de levar sustentabilidade às comunidades da Amazônia. Porém, isso requer mais investimentos financeiros e de pessoas, que muitas vezes são negligenciados para solucionar os desafios vividos.
“[Esses] problemas que são caros, porque o preço da logística é alto e, muitas vezes, falamos muito da Amazônia, colocamos nela a responsabilidade de salvar o planeta, mas poucas pessoas estão dispostas a pagar a conta do investimento de estrutura social que as comunidades precisam. Nenhum pai de família vai pensar em gerar dinheiro, se ele não resolver o problema de educação ou saúde que existe na comunidade, porque isso gera segurança de que o seu filho está perto”, acrescentou.
Valcléia também sublinhou a falha na implementação de políticas públicas na região. “Precisamos garantir que essas políticas [que já existem] cheguem efetivamente às comunidades. Nenhum comunitário quer sair do lugar em que está, do seu lar”, concluiu.
Sobre o painel
O painel “Colaboração como estratégia de impacto sistêmico” aconteceu no último sábado (24/08), no Palco Global Contemporâneo Eventos, instalado ao lado do centenário Teatro Amazonas.
Além da superintendente da FAS, participaram Tatiana Monteiro de Barros, fundadora do Movimento União BR; Roberto Brito, ex-madeireiro, liderança comunitária e empreendedor na área do turismo de base comunitária; Raimundo Leite, presidente Associação de Povos e Comunidades Tradicionais da Reserva Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista (APCT-RDS Puranga Conquista); e Enoque Ventura, pedagogo da Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (Amaru), e supervisor de projetos educacionais da FAS.
Entre as iniciativas mencionadas no painel, destacam-se o Programa Guardiões da Floresta, Aliança Covid Amazônia, Aliança Clima Amazônia, Programa Água+Acesso, Conexão Povos da Floresta, Projeto Sempre Luz, Programa de Educação para Sustentabilidade, Telessaúde e Monitoramento Ambiental.
*com informações da assessoria