Os cientistas conseguiram manter o trabalho da Unidade nesta pandemia? Tem pesquisas em desenvolvimento? O que vai acontecer com a produção científica depois do que o governo bloqueou seu orçamento?
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O Governo federal bloqueou mais de R$ 240 milhões do Ministério da Agricultura e parte dos cortes foi repassado para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que deve perder R$ 119 milhões do orçamento previsto para este ano.
De todo o orçamento da Embrapa para o ano 2020, R$ 200 milhões foi destinado para pesquisa e inovação. Porém, para o ano que vem, com menos dinheiro no caixa, pesquisas fundamentais para a agropecuária e inovação do país podem sofrer impactos.
O corte no orçamento pegou pesquisadores e funcionários da Embrapa de surpresa, mas o Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Amazônia Ocidental, Everton Rabelo Cordeiro, acredita que vão conseguir de novo ter acesso aos recursos. “No momento a situação está sob controle, não temos perdas e o trabalho acontece dentro do planejado. Acredito que o bloqueio do orçamento possa ser revertido. De acordo com o depoimento da ministra Tereza Cristina, ela continua empenhada e confia que a medida possa ser revertida”.
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Se acontecer o bloqueio e os recursos faltarem “A gente vai ficar preocupada com o que desrespeita a conservação dos materiais, porque trabalhamos com seres vivos, então não dá para esperar”, salientou.
Segundo o cientista o trabalho de pesquisa é caro. Equipamentos de 13 laboratórios demandam manutenção e por estarem localizados no Amazonas os custos são maiores. Os laboratórios prestam serviços especializados às pesquisas desenvolvidas na Unidade e ao público externo, principalmente de outras instituições de ensino e pesquisa.
Também são utilizados para apoiar a formação acadêmica e a iniciação científica, com a oferta de estágios, cursos e palestras.
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Além disso, tem que cuidar de 5 campos experimentais localizados em Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Iranduba (Caldeirão) e Maués que dão suporte às atividades de pesquisa em diversas áreas temáticas e servem de base também para a realização de capacitações de acordo com sua área de atuação. Mais, o campo sede, na Rodovia AM 010, Km 29, Zona Rural / Manaus-AM.
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De acordo com o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento o orçamento para o custeio da Unidade, sem o pagamento dos salários, varia entre R$ 1 milhão e 2 milhões e nos últimos anos tem decrescido, no entanto, tem sido suficiente para fazer as pesquisas e dar resposta para a sociedade.
Se houvesse uma retomada no crescimento do orçamento, naturalmente teríam a oportunidade de fazer mais pesquisas e obter mais resultados e novos conhecimentos. Os cientistas também trabalham em parcerias com outras agências de fomento que ajudam a financiar parte dos custos das pesquisas.
“Entendemos a situação do país e do mundo, formamos parte de um contexto que sofre e padece essa pandemia e suas dificuldades”, acrescentou Cordeiro.
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Funcionamento
A Embrapa Amazônia Ocidental é uma das 43 Unidades Descentralizadas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Mapa, atuando no Estado do Amazonas desde 1974.
A Unidade com sede no AM, tem atuação eco regional, orientada por planejamento estratégico, atualizado a cada quatro anos, elaborado a partir de análise dos ambientes interno e externo, de políticas governamentais e de estudos de cenários futuros. Para o desenvolvimento de suas atividades, conta com um quadro funcional formado por 204 funcionários sendo que 48 são pesquisadores.
Segundo o Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento, as pesquisas são previamente definidas em função de uma agenda que cada unidade tem. “Trabalhamos com culturas que foram predefinidas, porém no caso de ser uma cultura nova a Embrapa abre um Edital e submete o projeto. Esse Edital é enviado a vários pesquisadores do Brasil que queiram fazer a avaliação dos projetos e escolher os melhores e com a metodologia mais bem definida. Depois de aprovado recebem os recursos para tocar o projeto dentro do prazo que foi anunciado”, disse.
Outra situação é quando recebem uma demanda para um projeto de uma cultura que já existe na região e fazem uma parceria com outra instituição que não seja da Embrapa. Apresentam o projeto e orçamento dos recursos que precisam.
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Pesquisas, desenvolvimento e inovação
A Embrapa Amazônia Ocidental possui uma equipe dedicada a buscar soluções de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação que ajudem a aumentar a produtividade da agricultura no Amazonas, de modo sustentável, preservando os recursos naturais e a biodiversidade.
Por se tratar de uma Unidade de Pesquisa Eco regional, contempla estudos em diversas linhas de atuação, tais como: Aquicultura ; Culturas Alimentares; Plantas Medicinais; Cultura do Cupuaçuzeiro; Cultura da Seringueira; Cultura do Guaranazeiro; Bananicultura; Cultura da Palma de Óleo (Dendê); Sistemas Agroflorestais; Silvicultura e Manejo Florestal; Citricultura; Olericultura (Hortaliças); Integração Lavoura Pecuária e Floresta; Agricultura sem queima.
Pela pandemia do novo coronavirus, a Embrapa institui o teletrabalho e o revezamento desde o mês de março. Para cuidar dos campos foi estabelecida uma escala de trabalho que incluiu o revezamento, para limitar a quantidade de pessoas que podem, por exemplo, estar no mesmo laboratório ou veículo. No entanto, como trabalham com espécies e plantios tem momentos específicos que precisa colher ou ainda plantar e precisam de mais pessoas.
De acordo com o cientista, conseguiram manter o trabalho da unidade e atualmente tem pesquisas em andamento, em desenvolvimento, finalizando e finalizadas.
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Resultados 2020
No que diz respeito às cultivares de cupuaçu e guaraná continuam sendo avaliadas (as cultivares). Os trabalhos com mandioca, milho, tecnologias para o controle de pragas e relacionadas as bananas, seguem em andamento.
Sedimentos de rios amazônicos
O cientista destacou os resultados obtidos pela pesquisa com microrganismos coletados de sedimentos de rios amazônicos na que identificaram bactérias e fungos com potencial biotecnológico, essenciais para o controle de doenças em culturas agrícolas, por exemplo, é capaz de melhorar a produção e renda de pequenos e grandes agricultores e também reduzir o uso de defensivos químicos com consequentes impactos positivos ao meio ambiente e à saúde humana.
Esses pequenos seres podem gerar valiosas moléculas para uso médico e agrícola ou para aplicação em processos industriais, segundo explica o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental.
Ele destaca que esse é o primeiro estudo em larga escala utilizando microrganismos cultiváveis e não cultiváveis presentes nos sedimentos da Bacia Amazônica. Os pesquisadores percorreram quase 7 mil km de rios para fazer o levantamento.
O trabalho além de contribuir para o estudo da biodiversidade amazônica e identificação de novas espécies de microrganismos, a pesquisa está permitindo a capacitação e maior domínio no uso de tecnologias de ponta na biologia molecular e o avanço para resultados com aplicação prática para diversos segmentos industriais.
A futura aplicação desses resultados servirá ao desenvolvimento de bioprodutos com base na microbiota amazônica. Além disso, o trabalho tem importância científica, permitindo avanços nas áreas de biologia molecular, química e genômica aplicadas à microbiologia.
“Nesse momento, acreditamos que os trabalhos que estão começando agora vão dão resultados muitos relevantes”, frisou.
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Soluções tecnológicas
Cordeiro explicou que trabalham de acordo com as demandas que são muito relacionadas com a produção das cadeias que estão inseridas no estado. As principais são banana, abacaxi que tem um sabor diferenciado. Citrus, com a introdução de materiais mais produtivos e melhores combinações. Nas espécies florestais as plantas industriais, caso seringueira, que o maior problema que enfrenta é das folhas.
Estão realizando pesquisa com o dendê para a produção de óleos vegetais. Destacou que na sede está inserido o maior banco genético, plasma, do dendê no mundo.
Também trabalham com a conservação da castanheira do Brasil, açaí, cupuaçu e guaraná.
Além de estudar as pastagens e quais seriam as mais adaptadas para o rebanho de gado na região
Com peixes, no que diz respeito à sanidade, tem foco no tratamento de doenças com plantas, reprodução do Tambaqui, processos eficientes e com menos impacto ambiental.
Um resumo das soluções tecnológicas será apresentado amanhã numa próxima reportagem, não perca
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Texto Dulce Maria Rodriguez
Fotos: Embrapa Amazônia Ocidental