O crescimento da área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil foi de 14,3% entre os anos de 2009 e 2019. Nesse período, as áreas de cultivo se deslocaram para estados do Centro-Oeste e se concentraram em um número menor de microrregiões. Em 2019, apenas 45 microrregiões brasileiras respondiam por cerca de 75% da área plantada com cana-de-açúcar e 43 microrregiões asseguraram mais de 75% da produção nacional.
Essas são algumas das análises contidas em artigo publicado na Revista Opiniões. Os autores são Evaristo de Miranda, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Territorial, e Paulo Martinho, analista de geoprocessamento do mesmo centro de pesquisa. Os estudos foram realizados a partir de dados da Produção Agrícola Municipal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Evaristo de Miranda, a tendência à concentração do cultivo em menor número de microrregiões pode ser explicada pela ampliação das áreas de cultivo de cana-de-açúcar próximas às usinas com objetivo de redução dos custos de logística. Outro fato que, segundo ele, pode induzir este fenômeno é o declínio de áreas em que a cana-de-açúcar deixou de ser competitiva.
Entre 2009 e 2019, houve aumentos e declínios das áreas de cana-de-açúcar, o que provocou alterações no uso das terras de mais 2,2 milhões de hectares no Brasil. A gramínea deixou de ser cultivada em 22% dessa área, cedendo espaço para cultivos anuais e pastagens. Nos outros 78%, ela substituiu desde lavouras temporárias e permanentes até pastagens. Em 11 estados do País, teve aumento de 19,8% da área plantada e em 16 estados, um recuo de 5,5% com relação ao existente em 2009. A regressão das áreas cultivadas foi generalizada no Nordeste e no Rio de Janeiro.
Líderes na produção
Embora São Paulo continue na liderança na produção canavieira e tenha tido expansão de mais 563 mil hectares em área plantada, a área paulista com cana-de-açúcar passou a ter menor representação no contexto nacional. Em 2009, representava 56,3% do existente no Brasil, em 2019, passou a representar 54,8%.
Em 2009, os cinco principais estados produtores eram São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Alagoas. Em 2019, logo após a liderança paulista, aparece o estado de Goiás, seguido por Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná. Em 2009, os cinco estados líderes reuniam 81,9% da área plantadano Brasil. Em 2019, eles representam 86,6% do total cultivado.
O crescimento da área não foi acompanhado pela produção canavieira. O País passou de uma produção de cerca de 692 milhões de toneladas em 2009 para aproximadamente 753 milhões de toneladas em 2019. A produtividade média caiu, no período, de 78,2 toneladas por hectare para 74,5 toneladas por hectares. Essa redução pode ser justificada, entre outros fatores, pela crise do etanol, ligada à política de preços dos combustíveis, que conduziu a uma crise financeira e de descapitalização das usinas.
Esse cenário, na opinião de Miranda, não impedirá que o setor sucroalcooleiro continue ganhando eficiência e produção. “A demanda por etanol cresce no Brasil e no mundo. Talvez o surgimento de variedades mais resistentes à seca, a maior rentabilidade do etanol, mudanças que autorizem a distribuição local sem passar por refinarias impulsionem um avanço maior em áreas do Brasil central”, prevê.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa
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