O rio Juruá nasce no Peru e banha os estados do Acre e Amazonas. Com os seus 3.350 km entre a nascente e a foz, é o mais sinuoso rio do planeta (parece uma cobra se contorcendo) e contribui com cerca de 2% da descarga anual do rio Amazonas no Oceano Atlântico. No inverno, suas várzeas são inundadas, transformando-se em um ‘berçário’ para os peixes, pois são ricas em plânctons e frutas.
Entre 1850 e 1913, o rio Juruá e o Purus foram responsáveis pelo fornecimento de borracha para as indústrias americanas e europeias. No auge da demanda internacional produzia-se 80 mil toneladas de borracha, sendo que mais de 70% era consumido pelas indústrias norteamericanas.
O Amazonas saiu de 3 mil habitantes para mais de 50 mil em curto espaço de tempo, fruto de levas e mais levas de nossos irmãos nordestinos, que vieram para colher o látex na região. Manaus se transformou na ‘Paris dos Trópicos’, saindo de uma pequena e esquecida cidade brasileira, para se tornar uma metrópole conhecida e respeitada na Europa e nos Estados Unidos da América. Belos prédios, como o fabuloso Teatro Amazonas, o Palácio da Justiça e o prédio da Alfandega foram construídos com materiais vindos da Europa. As ruas foram calçadas com pedras (paralelepípedos). A borracha era o primeiro produto da pauta de exportação do Brasil. Além da borracha, também fazia parte da cesta de produtos extraídos da floresta: sorva, balata, castanha, sernambi e couros de animais (naquela época não havia proibição).
No rio Juruá, os seringais, cujas casas e barracões eram cobertos com telhas vindo da Europa, também se sentia o desenvolvimento; o rio Juruá transbordava de riquezas!
Mas tudo isso acabou com o fim da segunda guerra mundial e com o roubo de sementes da
seringueiras pelos ingleses (que a plantaram na Malásia).
Foram anos de escuridão; os barracões antes luxuosos, agora abandonados de nada mais
serviam; os ‘soldados da borracha’ desempregados e o Juruá, outrora visitado por inúmeras
embarcações que iam em busca de suas riquezas, ficou esquecido e na pobreza.
Esse extraordinário rio me deu o berço em 1946, e até os 14 anos tive o privilégio de ouvir as
histórias dos seus períodos de pujança. Foi em seus seringais que tive meu primeiro emprego ainda menino, e onde comecei minha trajetória de trabalhador sempre voltado para o bem estar coletivo.
Com o surgimento da Zona Franca de Manaus nos anos sessenta, uma Luz acendeu no final do túnel; mas hoje os municípios do rio Juruá sobrevivem dos empregos e investimentos públicos e, de muito pouco, de suas riquezas naturais.
Nele, a bioeconomia, através da extraordinária biodiversidade florestal e hídrica, pode fazer
renascer o fausto dos tempos remotos, com a marca única da economia verde, que pode
transformar o ‘rio serpente’ em um novo paraíso de abundância na maior floresta tropical do
planeta.
Professor José Melo
Ex-Governador do Estado do Amazonas