Nossa última parada em Tefé, é na comunidade São Francisco do Aratamã, distante cerca de 50 minutos de catraia da sede do município, localizada no que antes era um lago de mesmo nome, mas com o passar dos anos o rio Solimões está levando as terras e o tornou em um braço de rio.
A comunidade possui cerca de cinquenta moradores, todos familiares do fundador o Sr. Francisco da Silva Gomes e a sua esposa Elizabeth de Oliveira, que estão casados há cinquenta anos. Para sobreviver cultivam hortaliças, macaxeira, galinhas e gado de corte, que estavam em outro terreno, devido à localidade estar em área de várzea e com a subida das águas ficam inviáveis os animais permanecerem no pasto ou fazer grandes marombas (estrutura de madeira construída para erguer assoalhos de casas e pequenos currais para poucos animais). No local os próprios moradores construíram um colégio e uma pequena igreja.
Quando nossa equipe chegou a família estava na plantação, distante 15 minutos da casa (via barco), fomos até o ponto e nossa embarcação não conseguiu passar, devido à dificuldade da mata do igapó (floresta alagada), com bastantes tocos e árvores, somente embarcações leves como botes de alumínio conseguiria aproximar-se, por isso resolvemos retornar a casa do morador mais antigo da região para entrevistá-lo juntamente com sua esposa.
Agrofloresta – Quanto tempo vocês vivem na comunidade e qual tipo de produção vocês têm?
Sr Francisco – Estamos há mais de trinta anos na comunidade, produzimos de tudo um pouco, melancia, milho, cebola, cheiro-verde, macaxeira e mandioca amarela. Quando cheguei aqui havia só duas casas nas mediações, as pessoas estranhavam “o que ele vai fazer nessa mata?”, porém chegamos aqui para trabalhar duro.
Elizabeth – Tivemos 14 filhos, morreram dois filhos, porém morando aqui são oito e demais moram em Tefé e Manaus, produzimos também ovos cerca de 120 ovos por dia.
Agrofloresta – A produção de vocês é vendida para quem?
Sr Francisco – Como produzimos muito vendemos para os atravessadores que vêm aqui na comunidade e a outra parte é vendida na feira de Tefé, para os consumidores.
Agrofloresta – Como está sendo para vocês a produção em tempos de Corona vírus?
Sr Francisco – Temos medo de ir lá (em Tefé), muitos amigos meus que eu conhecia lá na feira morreram, por isso estamos vendendo mais para quem vem aqui, estamos com muito medo. Quando é necessário ir à cidade, mandamos nossos filhos, e vão no máximo três pessoas é mais para comprar o que falta aqui e receber a nossa aposentadoria, para evitar nossa permanência na cidade, já que somos diabéticos, do grupo de risco e só vão se for de máscaras e álcool gel.
Ao contrário do que muitos pensam, o período de seca é o que mais castiga os ribeirinhos, pois têm que vencer grandes distâncias, para escoar alimentos ou receber qualquer tipo de ajuda. Devido as mudanças impostas pelo rio Solimões, o sr Francisco, no período de seca faz uma espécie de represa no paraná de suas terras, para escoar com maior facilidade os alimentos, transformando de volta o lago que conheceu em outrora e que em todos os anos some na cheia do rio.
Texto: Milena di Castro
Fotos: Anderson Oliveira