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Produção leiteira do Matupi segue padrão de excelência genética

João Grilo e esposa Regina Rech (Foto: Mário Linhares)

Região fornece leite para Laticínio Matupi, o maior do Amazonas

Com a economia aquecida pela instalação da Fábrica de Laticínios Matupi, em 2014 e que hoje emprega mais de 300 pessoas em sua planta fabril, o distrito de Santo Antônio de Matupi produz 35 derivados do leite, da manteiga comum e em garrafa, doce de leite e requeijão; além de dezenas de tipos de queijo, com as marcas Matupi e Segredo Real. Ambos pertencentes ao grupo empresarial. A fazenda própria da indústria produz 15% do leite, o restante é garantido diariamente pelas 150 famílias de pequenos agricultores rurais, que investem em gado leiteiro e buscam na tecnologia do melhoramento genético aprimorar seus rebanhos e aumentar a produção.

O programa de melhoria genética começou a ser executado, principalmente, pela influência da agroindústria, que se tornou parceira decisiva do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que incluiu na proposta, o apoio da empresa aos pequenos produtores, para que estes pudessem participar da parceria de embriões.

O gado Girolando  é uma raça de bovinos resultante de cruzamento bimestiço, na proporção de 5/8 de sangue da raça Friesland-Holstein e 3/8 de sangue da raça zebuína Gir, tendo o holandês como uma raça notável para produção de leite e o Gir com muita rusticidade e longevidade, ambas com notável aptidão para a produção leiteira. 

No programa, o Sebrae subsidia até 70% dos custos, os 30% restantes ficam por conta dos produtores, mas a Matupi negociou pagar em duas parcelas os custos dos demais produtores ao Sebrae e ser reembolsada em quatro parcelas pelos beneficiados. Dessa forma, foi desencadeado o processo de desenvolvimento genético na região.

Uma das famílias beneficiadas é a do João Carlos Rech, mas conhecido na região por João Grilo, residente há quase 20 anos no sítio São João, localizado no assentamento agrário do INCRA, na vicinal Matupiri, distante da sede do distrito oito quilômetros que, desde 2018, participam do melhoramento genético do rebanho.

Agrofloresta – Quantos animais Girolando há no sítio?

Temos 40 animais, que fizeram testes e as amostras foram para os Estados Unidos da América ( EUA). Através desse exame elas mostram que deverão produzir acima de 40kg de leite. Hoje, os animais estão com 18 meses.

Agrofloresta – Além da produção do leite, o que mais é produzido pela família?

O leite é o principal, mas também temos plantação de mandioca, banana que nos dão o sustento.

Agrofloresta – Com a pandemia da COVID-19 a produção foi afetada?

Tá tudo muito difícil. Deu um ‘paradeiro total’. Tudo parou ou ‘o que compra’, só compra tudo pela metade e só a metade que é a parte dos alimentos. O leite, a indústria ainda está vindo pegar e comprar, que é o que garante o nosso sustento.

Agrofloresta – Qual é o medo de vocês com relação à doença?

Aqui se pegar esse corona aí, acredito que a pessoa vai é ‘pro’ céu e se tiver um espaço lá, porque aqui não tem recurso pra isso não. Temos muito cuidado com máscara, gel na mão e quando ‘nós vai’ na cidade, vai à correria para voltar logo, por que se pegar esse negócio aí – já era.

Agrofloresta – Qual é a maior dificuldade para os agricultores da região?

A gente precisa de muita coisa. Não tem saúde, estrutura de manutenção para o produto, as estradas vicinais quem banca somos nós, a saúde é precária, o escoamento que fazemos é por conta, a gente passa muita dificuldade, porque tudo é longe; qualquer coisa que precisamos e não tem na sede são 200 a 400 quilômetros para conseguir. O pessoal fala muito em meio ambiente, mas eles não veem o nosso lado, fala de proteção de árvore, mas estão esquecendo de proteger o ser humano.

No teste genômico (identificação do DNA do animal), coordenado pelo Sebrae e executado pela empresa Zoetis, chamado “Clarifide Girolando”, mostrou que a média de produtividade em Santo Antônio do Matupi, no Amazonas, é superior ao resultado encontrado em todos os outros estados, a análise das características de produção e componentes de leite, reprodução e condições genéticas via DNA dos animais testados, na região, resultou na probabilidade de produção anual de 639 litros, superior aos demais animais da mesma raça usados como parâmetro.

“Durante os testes, uma novilha com capacidade de produção de até 1.063 litros foi identificada no rebanho de um pequeno produtor da localidade. O animal vai receber classificação nacional, como um dos mais valiosos da raça, somando-se a raros existentes hoje no país”, explica o especialista em Agronegócio do Sebrae Amazonas, Erivan Oliveira.

Sítio modelo de produção leiteira

Família Gollo apresentando um de seus animais Girolando (Foto: Milena di Castro)

No Sítio Babaçu, localizado no KM 5 da vicinal Matupi, visitei a família Gollo, do produtor rural e técnico agrário, Fabiano Gollo, que nos recebeu com sua esposa Márcia e o filho Henrique (14 anos). Atualmente, a propriedade  têm 70 animais com produção somente de leite, destes, foi investida em 50 animais a seleção genômica.

O sítio Babaçu é de agricultura familiar, ou seja, de pequeno porte. Qual é a produção de vocês e quantidade?

Trabalhamos exclusivamente com gado de leite, a produção é vendida para o laticínio e temos uma produção diária de 150 litros. Temos uma pequena produção de melancia, além de milho, que fazemos silagem, onde alimentamos os animais no período de escassez.

Fabiano Gollo e a esposa Márcia fazendo a ordenha mecânica do leite (Foto: Anderson Oliveira)

O que afetou vocês com a pandemia?

Afetou mais no dia-a-dia, pois somente eu vou lá fora, as crianças não podem ir para aula e quando vou comprar os mantimentos para casa, aproveito e passo na escola para trazer as atividades semanais, pois aqui não tem como fazer aula on-line e foi a forma que os professores fizeram para não se perder o ano. Com relação às atividades do leite, continuamos recolhendo às 05h30 da manhã o gado da pastagem para o curral, com a finalidade de retirar leite e aguardar o caminhão do laticínio levar.

Nossa economia não foi tão afetada, porque trabalhamos com leite, mas vejo que muitos outros agricultores tiveram queda em sua economia de mais de 50%.

Com a seleção genômica sendo uma realidade praticada em todo o Brasil, cada vez mais famílias desse lugar “santo” investem nos rebanhos garantindo economia e desenvolvimento para a região, mesmo em pleno período de pandemia.

Texto: Milena di Castro

Foto de capa: Paulo César Ferreira

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