A partir de setembro, entrará em vigor a Portaria Nº 462, que trata da Política de Inovação da Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira). A política servirá para orientar as ações da Comissão na promoção da inovação por meio da geração de tecnologias, produtos, processos e serviços em benefício da cacauicultura brasileira.
O Brasil ocupa hoje o 6º lugar na produção mundial de cacau, segundo a International Cocoa Organization. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, há mais de 93 mil estabelecimentos produtores de cacau no país. Eles estão concentrados na Bahia e no Pará, que juntos representam 96% da produção nacional.
O diretor da Ceplac, Waldeck Araújo, explica que a política propiciará a busca por recursos para a pesquisa e inovação do cacau e apresentação de projetos a organismos nacionais e internacionais.
Em 2020, a Ceplac foi reconhecida como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT). Para se tornar uma ICT plena, conforme o diretor, era necessária a publicação da política de inovação, em cumprimento a uma exigência legal. Com esse arcabouço legal, será possível utilizar a Lei de Inovação, ou Lei do Bem, para, dentre outras coisas, participar de chamadas públicas que promovam, por exemplo, a fabricação de bioinsumos para combater a vassoura-de-bruxa, praga que mais afeta as lavouras de cacau no Brasil.
A Ceplac será responsável por aprimorar os mecanismos institucionais de estímulo à inovação, por meio de programas de fomento e indução específicos, criados e regulamentados por normas, para auxiliar, dar suporte e estimular atividades relacionadas ao desenvolvimento, aperfeiçoamento, gestão e difusão de soluções em agricultura, e sua disponibilização à sociedade.
Além disso, contará com um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) para promover a inovação e a adequada proteção das invenções geradas nos âmbitos interno e externo da Comissão, e a sua transferência ao setor produtivo, com intuito de contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico.
Em 2020, o Mapa publicou o Decreto nº 10.253, segundo o qual deixou de ser atribuição da Ceplac a promoção da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). No entanto, a Ceplac continua apoiando a ATER de forma indireta, capacitando técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e de outras instituições de diversas esferas de governo, além de cooperativas, por meio de acordos de cooperação.
Processo de mecanização e os benefícios para o setor
Além de pesquisa e inovação, um dos focos é incentivar a mecanização da indústria de cacau no pós-colheita. Segundo a Comissão, o Brasil é o único país que reúne a cadeia completa do cacau em seu território, desde a produção até o chocolate para consumo, passando ainda pela fabricação de cosméticos.
Existem três fases de industrialização: no pós-colheita, quando o fruto é colhido e aberto, as sementes são retiradas, há a extração da polpa, a fermentação das sementes, a secagem e o armazenamento das amêndoas para serem transformadas em manteiga de cacau, licor ou pó. Logo depois, vem a indústria chocolateira que compra esses derivados e produz o chocolate, o cosmético e outros produtos.
Na primeira fase, o processo é feito manualmente, o que se torna um gargalo para a produção, pois pode influenciar a qualidade do produto e a mão de obra no campo é insuficiente. Hoje, o produtor colhe o cacau e faz a quebra do fruto. Na fermentação das sementes, é preciso todos os dias tirar as amêndoas de um cocho e colocar em outro (revolvimento da massa para uniformização da fermentação).
“A mecanização do pós-colheita, evitará a quebra no facão, é arriscada. É preciso acabar com isso e, assim, ter ganho de produtividade. Outra coisa é a secagem artesanal, principalmente em períodos chuvosos. Pode-se usar máquina de secagem, como já tem no café”, explica o diretor.
Expansão do cacau
A meta é atingir a autossuficiência na produção de cacau até 2025, com 300 mil toneladas por ano, e alcançar 400 mil toneladas até 2030, o que permitirá ampliar as exportações de cacau, derivados e chocolate. Esses valores têm potencial de elevar o Brasil para a terceira posição entre os maiores produtores de cacau no mundo.
O país também mantem outro título, o de maior banco ativo de material genético de cacau do mundo, com mais de 60 mil plantas no campo, cujo material genético, nas formas seminal e clonal, foram coletados em 12 expedições botânicas abrangendo cerca de 30% da bacia amazônica. Nesse desafio de preparação para a pesquisa e inovação na área de melhoramento genético do cacaueiro, atualmente, encontram-se disponíveis mais de quatro mil genótipos diferentes de cacaueiros. Todo esse patrimônio encontra-se instalado nos Centros de Pesquisas de Cacau administrados pela Ceplac nos estados da Bahia, do Pará e de Rondônia.
Mas, como se dará a expansão da produtividade brasileira? Segundo a Ceplac, ocorrerá nas regiões tradicionalmente produtoras: Pará e Bahia, que juntos representam 96% da produção nacional, com cultivares mais produtivas e mais resistentes às pragas, entre elas a monilíase. E continuará pelas novas áreas como o bioma Cerrado; Caatinga: Bahia, Ceará e Sergipe; em Roraima, Amapá, São Paulo e Minas Gerais.
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