Nesta sexta-feira, 1/3, a Vale e a Embrapa Cocais celebram uma parceria que viabilizará a transferência de tecnologias rurais desenvolvidas pela Embrapa, voltadas para a produção de alimentos na busca da segurança alimentar e nutricional. No total, serão beneficiadas 500 famílias do distrito de Maracanã, em São Luís, e outras 500 de comunidades quilombolas do município de Itapecuru-Mirim. O evento será no Instituto Formação, localizado no Maracanã, às 15h.
O projeto conta com a parceria do Instituto Formação e do Núcleo de Desenvolvimento Rural de Arari, os quais, juntamente com a Embrapa, realizarão a implantação das tecnologias e o acompanhamento das famílias beneficiadas.
De acordo com a Diretora de Investimento Social da Vale e Diretora-Presidente da Fundação Vale, Flávia Constant, faz parte das estratégias da empresa atuar também na causa do combate à pobreza extrema. Em 2021, a companhia assumiu o compromisso de apoiar a saída de 500 mil pessoas da situação de pobreza extrema até 2030.
“Entendemos a pobreza como um fenômeno multidimensional, que envolve a ausência de renda, mas, também, a negligência de outros direitos fundamentais. A insegurança alimentar e nutricional, ou a fome, talvez seja a dimensão mais urgente e perversa na agenda de enfrentamento à pobreza. Uma causa como essa exige uma atuação em rede, em parceria com empresas, comunidades, instituições sociais e, principalmente, com o poder público. Daí a importância deste momento em que ampliamos a nossa parceria com a Embrapa, essa organização que tanto contribui para difundir a qualidade da ciência brasileira”, afirma Flávia Constant.
Para o chefe-geral da Embrapa Cocais, Marco Bomfim, a parceria permitirá a expansão do uso das tecnologias sociais em benefício da população. “Agradecemos a essa parceria, que proporcionará que os sistemas desenvolvidos pela Embrapa, voltados para a produção de alimentos e o bem-estar, sejam utilizados e alcancem ainda mais famílias no estado do Maranhão”, diz o gestor.
Entre as tecnologias sociais desenvolvidas pela Embrapa voltadas para a produção de alimentos está o Consórcio Rotacionado para Inovação na Agricultura Familiar, o CRIAF, também conhecido por Roça Sustentável, que diversifica a produção e otimiza a produtividade da mandioca, arroz, milho, feijão e outras culturas da agricultura familiar. É um conjunto de tecnologias que organiza cultivos em fileiras para não haver competição por nutrientes, água, luz e espaço e faz a rotação das culturas. Essas práticas agrícolas aliadas ao uso de defensivos na dose e hora certa intensificam a eficiência do uso da terra, o controle de pragas, doenças e ervas daninhas e ainda recupera áreas degradadas. A reconfiguração do “roçado” também permite mais fertilidade ao solo e nutrição às plantas. O resultado é o aumento em até cinco vezes da produtividade da mandioca e em 50% a produtividade do arroz e do milho. A Roça Sustentável preserva a biodiversidade porque evita prática de derruba e queima e o desmatamento de novas áreas. “Também reduz a carga de trabalho e o gasto com mão de obra, sobrando mais tempo e dinheiro para a família. O retorno social é mais renda, segurança alimentar, saúde e qualidade de vida da comunidade, contribuindo para o desenvolvimento regional”, completa Carlos Santiago, analista da Embrapa Cocais que desenvolveu a tecnologia.
O Sisteminha (Embrapa/UFU/Fapemig) também marca presença. Conhecido nacional e internacionalmente por criar oportunidades para que o indivíduo possa se alimentar com o que produz, utilizando estruturas simples, e partilhar ou mesmo negociar seus produtos com vizinhos e a comunidade, ampliando benefícios econômicos e sociais. Ele se baseia na atividade de piscicultura, como motor de um sistema integrado para a produção de alimentos e, quando comparado com métodos tradicionais de cultivo, apresenta baixo consumo de água e energia elétrica. Esse modelo sistêmico para produção integrada de alimentos permite disponibilizar para as famílias que o adotam, uma diversidade de alimentos de origem animal (peixes, ovos de galinha e codornas, frangos de corte, suínos, porquinhos da índia e outros) e vegetais e frutas diversas, ricos em carboidratos, proteínas, minerais e vitaminas. Luiz Carlos Guilherme, pesquisador da Embrapa Cocais e criador da metodologia do Sisteminha, explica a tecnologia. “O Sisteminha é uma das tecnologias que será apresentada, fazendo uma interação com o que há de mais moderno na ciência na produção de alimentos e gerando, então, o suprimento de produtos que vão combater a fome das famílias mais pobres”, explica.
Conheça as demais tecnologias a serem transferidas:
Técnicas de processamento da mandioca, com ênfase na produção de farinha
A Embrapa Cocais realiza cursos para técnicos e agricultores sobre processamento da raiz de mandioca e Boas Práticas de Fabricação de farinha, tradicional produto da mesa do brasileiro, em especial do maranhense. São informações sobre boas práticas de higiene das instalações e dos equipamentos de processamento e técnicas de prensagem da massa e de torrefação e ainda uso de peneira para classificação da farinha. As boas práticas garantem mais qualidade, sanidade, textura e sabor diferenciados, agregando valor à farinha para a conquista de novos mercados e segurança alimentar no campo.
Técnicas de produção de hortaliças com uso das hortas pedagógicas e hortas comunitárias
No Maracanã e Itapecuru serão implantadas Hortas Pedagógicas em escolas da área urbana e rural. A iniciativa é aliada da educação, pois em todas as disciplinas são trabalhados conteúdos relacionados ao tema de cultivo de hortaliças, e ainda conscientiza estudantes, famílias e comunidade para a importância de uma alimentação saudável. Já as Hortas Comunitárias representam mais comida e renda para as família e contribuem para o desenvolvimento da agricultura urbana e periurbana. O objetivo é a inclusão socioprodutiva de famílias que se encontram em condições de vulnerabilidade econômica e de insegurança alimentar. O trabalho utiliza metodologias participativas, “aprender e fazendo”, capacitações e oficinas com os parceiros locais e atores sociais e educativos para formar agentes multiplicadores das tecnologias.
Manejo de açaizais nativos incrementa produção
O Maranhão é o terceiro estado maior produtor de açaí no País, perdendo somente para o Pará e o Amazonas. A tecnologioa busca equilibrar a população de açaizeiros que ocorrem naturalmente na floresta de várzea garantido mais alimento e renda às famílias ribeirinhas. A técnica baseia-se na limpeza e manutenção de número de plantas de açaí por touceira e na substituição de plantas de espécies arbustivas e arbóreas de baixo valor comercial por outras espécies de valor econômico, como frutíferas e florestais. O segredo está na relação e no equilíbrio entre as plantas de açaí e outras espécies na mesma área. Não exige investimento em infraestrutura, a produtividade do açaizeiro pode dobrar de 4,2 t/ha para 8,4 t/ha de frutos.
Clorador Embrapa
Tecnologia simples, de baixo custo e fácil instalação, desenvolvida para clorar a água do reservatório (caixas d’água) das residências rurais. Pode ser montado pelo próprio morador, com peças adquiridas em lojas de material de construção e deve ser instalado entre a entrada de captação de água e o reservatório da residência. Auxilia a descontaminação da água, reduzindo o risco de a população rural ser exposta a doenças como a hepatite, diarreia, tifo, giardíase e outras.
Fossa séptica biodigestora
Tecnologia que trata o esgoto do vaso sanitário (a água com urina e fezes humanas), de fácil instalação e custo acessível, produz um efluente que pode ser utilizado no solo como fertilizante (recomendado para plantas perenes). Substitui a chamada “fossa negra”, não gera odores desagradáveis, não procria ratos, moscas, baratas e evita a contaminação do lençol freático. O sistema básico, dimensionado para uma residência com até 5 moradores, é composto por três caixas interligadas e a única manutenção é adicionar mensalmente uma mistura de água e esterco bovino fresco (5 litros de cada).
A solução é uma alternativa frente à falta de saneamento básico em algumas regiões rurais, o que afeta diretamente a saúde do morador do campo; evita a contaminação do solo e da água consumida pelos moradores (os resíduos não chegam ao lençol freático e aos rios que abastecem as cidades), além da proliferação de doenças.
Foto: Carlos Santiago