Ela é uma mulher extraordinária e como os campos de geada é Branca no nome e na alma! Na alvura de minha mãe vislumbro os campos do Rio Grande do Sul cobertos de geada no inverno…Não por acaso ela é conhecida pela alcunha Branca. Essa guerreira da fronteira com o Uruguai, nasceu lá na Querência Querida de Quaraí – RS, é a quem dedico este texto de filha agradecida por tudo que me ensinou, no Dia Internacional da Mulher.
Branca Nélida Ximenes Nunes, mulher do Pampa, flor do amanhecer com sua beleza e sabedoria, guerreira desde pequena, enfrentou todos os desafios dessa vida, mesmo nascendo em tempos difíceis onde tudo era quase impossível nessa vida.
Nascida em uma família de cinco meninas e um menino, e tinha outros irmãos por parte de pai, é a filha do meio e com 7 anos de idade atravessava sozinha o rio Quaraí em um barco até o outro lado da margem, na cidade de Artigas no Uruguai, para fazer compras para a sua mãe (Ramona), era farinha de trigo, massas, cebola, feijão, coisas do dia a dia que sua mãe precisava para cozinhar, enquanto seu pai (Sérgio) trabalhava fora, pois era construtor.
Essa travessia era arriscada, pois ela não sabia nadar, mas como era uma mulher forte fazia o que sua mãe pedia, já que as irmãs mais velhas não podiam. Tempos muitos difíceis que criaram mulheres de coragem e se superaram ao longo da vida e depois passaram para as suas filhas tudo que aprenderam.
Ela estudava sozinha para fazer a prova de admissão ao Ginásio e foi o seu irmão mais velho conhecido por “Negro” que pagou a sua inscrição dessa prova que era como um vestibular hoje em dia, suas irmãs faziam aulas particulares para fazerem as prova, e ela precisou estudar sozinha, pois ela passou na prova e ainda pulou um ano para entrar no Ginásio.
Uma mulher sempre determinada desde menina, encontrou o amor da sua vida (Gaspar) quando tinha seus 12 anos de idade, casou-se com ele, teve seu primeiro filho aos 15 anos de idade e aí começou a sua luta maior.
Seu marido era militar de carreira, precisou mudar de cidade, na maioria de sua vida viveu na cidade de Alegrete –RS, como ele era da área de saúde teve que fazer cursos em Curitiba e no Rio de Janeiro.
Precisou viajar de trem quando tinha 16 anos de idade e com seu filho (Gaspar) no colo para encontrar o seu marido na cidade de Curitiba, com muitos medos e angústias que apertavam o seu peito, mas sempre de cabeça erguida pensando no melhor para a sua vida e dos filhos.
Foi criando maturidade, embora fosse uma adolescente ainda, depois vieram as duas filhas Márcia e Mônica, seus netos amados e três bisnetos.
Ainda quando pequena carregava baldes com água potável do estádio da cidade de Quaraí até sua casa, para terem água para beber, eram tempos diferentes dos de hoje em dia, tudo era mais difícil.
Fixou sua morada na cidade de Alegrete, e lá passou a maior parte da sua vida, porque havia o Hospital da Guarnição de Alegrete onde seu marido trabalhava, ele se formou em enfermagem e depois em Economia e passou a dar aulas na Faculdade da cidade.
Lá a vida era mais difícil, o marido que trabalhava e nunca se ganhou tão bem no exército, tinham três filhos para criar, dar estudo,… Não se tinha muitos recursos, mas nunca faltou nada para os filhos de uma sobra de comida, a janta virava um banquete nas mãos dela.
Ela entrou em um curso de corte e costura e começou a confeccionar as roupas para os filhos e no inverso tricotava roupas de lã.
Ela se virava e ajudava a economizar as contas da casa, em um mês comprava tênis para um filho ir na escola e os outros esperavam, era uma calça jeans para cada um, e chegavam da escola e já tiravam a roupa para ela cuidar.
Mas chegou a hora que ela resolveu voltar a estudar, seu filho mais velho já tinha idade para cuidar das irmãs menores para que ela pudesse ir no colégio, acabar seu estudos e fazer uma faculdade, trabalhar e ajudar nas contas da casa.
Foi cursar o Contador no 2º grau, como era chamado o que hoje é Ensino Médio, seus colegas eram adolescentes que a ajudavam muito nos estudos. Sendo que naquela época não era normal uma mulher estudar e deixar os filhos em casa, e trabalhar também, porque o machismo e o preconceito eram muito grande, os homens não sabiam lidar com isso e as mulheres foram guerreiras e enfrentaram todos os preconceitos, por isso ela foi uma guerreira enfrentando tudo isso e, às vezes, eram as próprias mulheres que eram machistas e preconceituosas com as outras.
Terminou o Contador, sempre lutando contra tudo e todos, apareceu um concurso para trabalhar na PROCERGS, eram poucas as vagas, e desestimulavam ela bastante, diziam que os concorrentes já tinham faculdade e seria difícil de ela passar.
E o que aconteceu? Ela passou no concurso e começou a trabalhar, na qual entrava as 6hs da manhã, saía de sua casa ainda de noite para chegar no trabalho. Ela foi valente e seguiu lutando com muita raça pra passar por cima dos preconceitos e machismo daquela época, que eram muitos, imagina uma mulher trabalhar e sair de casa a essa hora naqueles tempos. Mas ela sempre pensou em poder dar algo mais aos filhos dela e seguiu firme. Deixava o seu almoço iniciado a noite e o filho que chegasse primeiro da escola já ia colocando água no arroz.
Fez vestibular e passou em Administração, se formou e passou em uma banca de professores para ser uma professora universitária, e passou, começou a dar aulas na URCAMP.
Com certeza ela faria tudo isso de novo, enfrentou tudo isso e nós mulheres agradecemos essa luta diária dela pelos seus direitos de viver como ela queria. Depois a vida ficou melhor, mais tranquila, os filhos começaram a trabalhar e depois veio os netos que ela ama tanto e quando estava perto ajudava a cuidar.
No ano de 2023 perdeu seu companheiro de vida, toda família perdeu um pedaço dele, pois eles nos ensinaram a ser FAMÍLIA de verdade, sermos unidos e ajudarmos uns aos outros e é o que a gente tentou passar para os nossos filhos esse conceito de união.
É a história de uma guerreira, mulher forte, de fibra e que nunca teve medo de ir à luta, e segue firme, nossa Fortaleza e exemplo de vida, minha MÃE!
Desejo a todas as mulheres um feliz Dia da Mulher e que sejamos todas fortes, determinadas, guerreiras, honradas e que nunca desistamos dos nossos sonhos e das nossas vontades e ainda temos muitos preconceitos a vencer.