Difícil saber quando se iniciou a atividade de inteligência. Contudo, pode-se supor que ela possua seu berço na própria origem das civilizações.
A civilização suméria é considerada a mais antiga de que se tem conhecimento (estima-se que os sumérios existiram há mais de 3.500 anos a.C.). Na região onde viveu, em 3.200 a.C., foram encontradas tabuletas de barro gravadas que registravam uma operação, arcaica, de inteligência, na qual os “espiões”, por meio de sinais de fumaça, informavam sobre as defesas da Babilônia.
Dando um salto no tempo, a história detalha, em uma passagem bíblica, os antecedentes da Terra Prometida. A busca da Terra Prometida realizada por Moisés, contada no Livro Números 13, do Antigo Testamento, poderia ser denominada, nos dias atuais, uma verdadeira operação de inteligência.
E o Senhor Deus disse a Moisés:
– Mande alguns homens para espionar a terra de Canaã, a terra que eu vou dar aos israelitas. Em cada tribo, escolha um homem que seja líder. Do deserto de Parã, Moisés enviou os espiões, de acordo com as ordens de Deus, o Senhor.
Depois de espionarem a terra por quarenta dias, eles voltaram a Cades, no deserto de Parã, onde estavam Moisés, Arão e todo o povo de Israel. E contaram a eles e a todo o povo o que tinham visto e mostraram as frutas que haviam trazido da terra. Eles disseram a Moisés:
– Nós fomos até a terra aonde você nos enviou. De fato, ela é boa e rica, como se pode ver por estas frutas. Mas os que moram lá são fortes, e as cidades são muito grandes e têm muralhas. Além disso, vimos ali os descendentes dos gigantes. Os amalequitas moram na região sul da terra. Os heteus, os jebuseus e os amorreus moram nas montanhas. Os cananeus vivem perto do mar Mediterrâneo e na beira do rio Jordão. (Antigo Testamento, Números 13).
A narrativa ocorreu há mais de 3.000 anos e descreve, perfeitamente, uma operação de inteligência com uma ordem de busca e um relatório do agente. A ordem de busca foi dada por Deus, o encarregado do caso foi Moisés e os agentes foram os espiões. A missão foi cumprida e, ao final, foi gerado um detalhado relatório.
Anos depois, há 2.500 anos, distante do Oriente Médio, surgiu, na China, uma importante obra, contendo um capítulo dedicado à Inteligência: “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, dividida em 13 capítulos, sendo o último sobre Inteligência.
Qualquer operador de inteligência conhece a famosa frase contida no capítulo 3 do livro:
“Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas.” (SUN TZU)
O parágrafo, a seguir, lembra alguma ação, no nível tático, para localizar os envolvidos com o crime organizado?
“Se você planeja golpear as tropas de um inimigo, ou atacar suas cidades, ou assassinar o comandante inimigo, você deve descobrir, inicialmente, o nome do chefe da guarnição de defesa, seu ajudante de campo, seus conselheiros, suas sentinelas e seus guarda-costas, e você deve orientar seus espiões para que investiguem esses detalhes.” (SUN TZU)
É simplesmente um texto atualíssimo.
Um dos melhores empregos da inteligência estratégica no mundo antigo, em torno de 350 a.C., foi o do imperador Alexandre, o Grande. Ele dominou um vasto território entre a Ásia e a África, em um período no qual não havia satélite, rádio, telefone, etc., havendo a necessidade de manter uma maneira eficaz de enviar e de receber informações dos territórios que conquistava.
Sabiamente, implementou uma rede de comunicações que permitia saber onde havia rebeliões e espionar inimigos, para aprender seus movimentos e suas fraquezas. O imperador também adotou formas de coletar informações. Costumava interrogar os viajantes que vinham de terras distantes para conhecer mais sobre os territórios e obter dados populacionais, de situação de estradas, de rios, de perfil de lideranças, entre outros assuntos de interesse.
Na atualidade, um dos serviços de inteligência mais reconhecidos do mundo é o de Israel, o Mossad. Dentre as suas operações mais divulgadas, destaca-se a “Cólera de Deus”, cuja missão foi localizar e eliminar todos os responsáveis pelo “Massacre de Munique” nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972. Outra interessante operação conduzida foi a “Moisés”, em homenagem ao personagem bíblico. Ela teve como missão a evacuação secreta de judeus etíopes que fugiram para o Sudão durante uma crise de fome em 1984.
Além de ser uma questão de sobrevivência do país, a eficiência do Mossad não ocorre por acaso, pois está cercado de desafetos que desejam riscá-lo do mapa. Existe a possibilidade de que os genes dos “espiões” de mais de 3.000 anos atrás tenham sido transmitidos, de geração em geração, aos seus atuais agentes.
No Brasil, a atividade de inteligência teve sua origem em 1927, durante o governo do Presidente Washington Luís, com a criação do Conselho de Defesa Nacional (CDN), tendo, entre suas atribuições, coordenar a reunião de informações relativas à defesa do País.
Em 6 de setembro (Dia do Profissional de Inteligência) de 1946, o então Presidente da República, General Eurico Gaspar Dutra, por meio de decretos-lei, resolveu atribuir à 2ª Seção da Secretaria-Geral do Conselho de Segurança Nacional a responsabilidade de “organizar e dirigir o Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI)”.
No entanto, quase 80 anos antes, o Brasil já se utilizava de meios modernos, à época, para a busca de informações. Pode-se considerar que o emprego de balões de observação, na Guerra do Paraguai, foi importante na obtenção de informes sobre o inimigo, às vésperas e durante a famosa “Marcha de Flanco”, comandada pelo Marquês de Caxias em 1867. Nos dias atuais, esses meios seriam considerados, possivelmente, as fontes de imagens.
A história da humanidade está recheada de fatos relacionados à Inteligência. Aqueles países e governantes que bem souberam utilizar essa ferramenta conseguiram se manter ou se expandir. No sentido inverso, o seu mau emprego levou impérios a serem destruídos, fazendo com que reis, rainhas e imperadores perdessem o poder.
Assim, verifica-se que, desde o passado mais longínquo das civilizações até os dias atuais, a atividade sempre foi necessária para auxiliar no processo decisório de qualquer chefe ou líder, seja pela sobrevivência do Estado, seja pela necessidade de manter a soberania ou de conquistar o poder.
Por fim, James Bond e tantos outros espiões dos cinemas e das histórias em quadrinhos são apenas personagens da ficção, já sobre o Soldado do Silêncio, não se pode dizer o mesmo.
Fonte: Coronel Swami de Holanda Fontes, Chefe do Estado-Maior da 7ª Divisão de Exército em Recife / Eblog;
Fotos: Exército Brasileiro;