O emprego de tropa paraquedista na Amazônia

Desde a criação do Comando Militar da Amazônia em 1950, o Exército Brasileiro vem ao longo dos anos aperfeiçoando sua capacidade operacional na região

Muitas pessoas perguntam: Por que empregar paraquedistas na Amazônia se não há Zonas de Lançamento na selva?

Antes de responder a essa pergunta, se faz necessário alguns esclarecimentos ao leitor sobre antecedentes na região a respeito do tema, disse o general de Brigada na Reserva e ex comandante do Centro de Instrução Paraquedista General Penha Brasil (Escola de Paraquedista) no Rio de Janeiro, Franklimberg Ribeiro de Freitas.

A rica e densa floresta amazônica tem carecido de maior e melhor proteção contra os ilícitos e descaminhos praticados diuturnamente na região. A atuação de ONGs tem procurado inibir os produtores de alcançarem o desenvolvimento sustentável da região.

Na realidade, a população amazônica sonha com a melhoria de suas condições de vida. No entanto, diversas amarras legislativas literalmente impedem a exploração de suas riquezas naturais. Essas leis precisam ser revisadas pelo Congresso Nacional para permitir essa tão desejada quimera tropical.

As dificuldades estruturais apresentadas pelos órgãos institucionais voltados para a fiscalização, vigilância e proteção de uma área que ocupa mais da metade do território nacional é imensa. Contrabando de ouro, nióbio, diamantes, biopirataria, tráfico de drogas e a exploração ilegal de madeira são rotinas dos ilícitos praticados na região, sem contar com a atuação velada de ONGs.

Neste contexto, cresce a cada dia a importância das Forças Armadas auxiliar as atividades de proteção e fiscalização dessa estratégica e cobiçada região natural, conforme previsto na Lei Complementar 136, de 2010. Esse trabalho vem sendo feito por intermédio da constante presença de tropas da Marinha patrulhando as vias interiores, do Exército com suas 122 organizações militares capilarizadas na região e da Força Aérea Brasileira realizando operações de vigilância do espaço aéreo e transporte de suprimento aos Pelotões Especiais de Fronteira.

O Exército Brasileiro possui na Amazônia 2 (dois) Comandos Militares de Área, o Comando Militar da Amazônia (CMA), sediado em Manaus, e o Comando Militar do Norte (CMN), em Belém. Subordinadas a esses Comandos existem 6 (seis) Brigadas de Infantaria de Selva, estrategicamente localizadas na região, voltadas para as atividades de defesa, vigilância e proteção dos longínquos rincões amazônicos. 

Considerando a foz do rio Oiapoque no Amapá à foz do rio Cabixi entre Rondônia e o Mato Grosso são cerca de 11.200 km de faixa de fronteira de selva e de rios vigiados por tropas das federais, órgão de segurança pública nos níveis federal, estadual e municipal, além de algumas agências governamentais.

Os diversos Batalhões de Infantaria de Selva, subordinados a essas Brigadas, possuem 28 Organizações Militares na fronteira, sendo 2(duas) Companhias Especiais de Fronteira, 22(vinte e dois) PEF e 4(quatro) Destacamentos que se desdobram ao longo dessa faixa. Entretanto, diante da vastidão continental que é a Amazônia, são insuficientes para guarnecer toda a sua extensão, por isso, foram instalados estrategicamente nos pontos de passagem mais importantes que adentram nosso território.

Desde a criação do Comando Militar da Amazônia em 1950, o Exército Brasileiro vem ao longo dos anos aperfeiçoando sua capacidade operacional, aumentando significativamente seu efetivo operacional na região.

Diante de um cenário na Amazônia em que haja a necessidade de uma resposta imediata por parte das Forças Armadas, o Exército Brasileiro dispõe das Forças de Emprego Estratégico, como a Brigada de Infantaria Paraquedista e o Comando de Operações Especiais que podem utilizar seus paraquedistas para se fazer presentes rapidamente em qualquer local da região.

Em 1991, membros das FARC atacaram de surpresa um Destacamento Brasileiro no Rio Traíra causando a morte de três militares brasileiros, ferindo outros nove, além de roubar diversos armamentos e equipamentos. Foi imediatamente desencadeada a Operação Traíra com o objetivo de resgatar o armamento roubado. Paraquedistas, do então 1° Batalhão de Forças Especiais no Rio de Janeiro, foram deslocados rapidamente para a região. O Comando de Aviação do Exército deslocou helicópteros de Taubaté para apoiar a missão na longínqua fronteira com a Colômbia. 

A Marinha do Brasil e a FAB apoiaram com seus meios os deslocamentos necessários das tropas envolvidas. Graças à rapidez dessas forças estratégicas, o armamento e outros equipamentos foram recuperados.

Desde as operações realizadas em Xambioá na década de 1970 e as do Rio Traíra em 1991, observou-se a necessidade do Comando Militar da Amazônia possuir em sua organização uma tropa de Forças Especiais, cujos integrantes paraquedistas, poderiam se deslocar rapidamente para qualquer local da Amazônia.

No ano de 2000, foi criado o então Destacamento de Operações Especiais, atualmente a 3ª Companhia de Forças Especiais, sediada em Manaus, para atendimento dessa demanda operacional na região amazônica.

Foi observado, também, a necessidade de se criar uma força de helicópteros permanente como peça de manobra de combate, apoio ao combate e apoio administrativo, proporcionando rapidez nas operações do Exército na região. Então, em 1993 foi criada uma Unidade de Aviação do Exército em Manaus, embrião do atual 4° Batalhão de Aviação do Exército.

Força Tarefa Biguá em salto de adestramento no mar

As forças de emprego estratégico, particularmente, de paraquedistas tiveram ampliado seus adestramentos na região amazônica para que, em caso de necessidade, possam reforçar as tropas do Comando Militar da Amazônia e Comando Militar do Norte no exercício de suas missões institucionais.

A Brigada de Infantaria Paraquedista, sediada no Rio de Janeiro, desde 2012,  vem mantendo em constante adestramento a “Força Tarefa Biguá”, tropa com o efetivo de uma Companhia, em condições de saltar em Zonas de Lançamento sobre massa d’água, ou seja, rios ou lagos da região amazônica, caso a premência de tempo exija tal ação. Essa capacitação, poucos exércitos do mundo possuem. Na Operação Amazônia de 2020, A FT Biguá estará sendo lançada em um rio da região.

Se faz importante esclarecer que o lançamento de paraquedista pode ser realizado por salto semiautomático ou livre. No primeiro, há necessidade de zonas de lançamento terrestre ou aquática. O “lavrado” do leste do Estado de Roraima é bastante propício para esse tipo de lançamento. Já o Salto Livre Operacional (SLOP), realizado por tropas com capacitações específicas e com maior experiência, requer uma área de pequena dimensão como uma clareira, uma praia ou uma pequena pista de pouso para a chegada dessas frações.

Salto de adestramento realizado no Rio Negro por integrantes da 3ª Companhia de Forças Especiais

Frequentemente tem-se observado em Manaus a presença de paraquedistas militares realizando estágios de Operações na Selva no CIGS e/ou saltando no Rio Negro. Essas atividades de adestramento, retratam a importância que o Exército Brasileiro tem concebido para apoiar as tropas do CMA e do CMN no cumprimento de suas missões constitucionais de defender à soberania e de proteger as riquezas da Amazônia Brasileira.

Exército pode passar cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado… Rui Barbosa

Selva!

Artigo do general de Brigada na Reserva Franklimberg Ribeiro de Freitas

Post Author: Agro Floresta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *