General César Augusto Nardi passou comando para o general Estevam Theophilo. Cerimônia militar foi conduzida pelo comandante do Exército general Edson Leal Pujol, no dia 27 de janeiro

O ex-comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), César Augusto Nardi, passou o posto da instituição para o general de Exército Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, em cerimônia presidida pelo comandante do Exército Edson Leal Pujol. Os governadores do Amazonas, Wilson Lima, e de Roraima, Antonio Denarium; bem como o prefeito de Manaus, Arthur Neto, estavam presentes. As atividades aconteceram na sede do CMA, na avenida coronel Jorge Teixeira, 4.715,na Ponta Negra.Participaram mais de 800 pessoas.
Nardi, oficial com experiência no comando de unidades de forças especiais e comandos, assumiu a chefia de Assuntos Estratégicos (CAE), do Ministério da Defesa, em Brasília. Ele concedeu esta entrevista a Revista Floresta Brasil Amazônia, onde relatou as atividades de sua gestão e destacou o perfil do novo comandante Estevam Theophilo, membro de uma das mais tradicionais famílias militares do Exército Brasileiro.
Em sua gestão de dois anos, mais de 13 toneladas de drogas foram apreendidas. Ação que impactou diversas rotas de transporte da cocaína, maconha e outros tipos de drogas, na maior bacia hidrográfica do mundo, na Amazônia Ocidental (Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima), onde mais de 20 mil militares estavam sob seu comando.
Seu substituto, Estevam Theophilo provém de uma das mais tradicionais famílias militares do Brasil. Seu irmão Guilherme Theophilo, hoje secretário Nacional da Segurança Pública, que também foi comandante do CMA, participou da passagem de comando no dia 27 de janeiro passado, em consideração ao irmão e aos colegas de farda. “É uma honra e grande alegria estar aqui prestigiando meu irmão, um general de Exército exemplar em suas funções de comando”, comentou.
O general Nardi, por sua vez, entregou o posto de comando mais operacional do Exército em área de selva, a um oficial de perfil clássico e conhecido pelo brilhantismo tático e profundo conhecimento da Amazônia. “Comandar o CMA é uma das mais nobres missões, por tudo que ele representa de vanguarda, em uma das áreas mais operacionais do País. Aqui, estamos na linha de frente defendendo a pátria”, destacou Nardi.
FLORESTA BRASIL – General, como foi comandar o CMA?
NARDI – Foram dois anos bem intensos. Atuamos no controle de uma fronteira com mais de 9 mil quilômetros em ambiente de selva, grandes rios, logística complexa, conduzindo o preparo da tropa e enfrentando os crimes ambientais e transnacionais como o tráfico de drogas. Sempre há risco em nossas operações e nossas tropas entraram algumas vezes em confronto com criminosos.
FLORESTA BRASIL – E como é feito este combate contra o narcotráfico na área de fronteira (onde o Exército tem poder de polícia em uma faixa de 150 quilômetros)?
NARDI – Com trabalho de equipe e integração com a Força Aérea Brasileira, Marinha, Polícia Federal e demais agências dos governos federal e estadual. A vanguarda são os 24 Pelotões Especiais de Fronteira e as Unidades de Fronteira, que com suas patrulhas e constantes operações especiais tem impedido que os narcotraficantes ocupem posições em nosso território. Tudo isso, no âmbito das quatro brigadas localizadas no Amazonas (2a Brigada de Infantaria de Selva “Ararigboia” em São Gabriel da Cachoeira; e 16a Brigada de Infantaria de Selva “das Missões” em Tefé); (1a Brigada de Infantaria de Selva em Boa Vista, Roraima); e a (17a Brigada de Infantaria de Selva de Porto Velho, Rondônia).
FLORESTA BRASIL – E como foram feitas essas operações?
NARDI– Cumprimos as missões que nos foram dadas dentro de um planejamento estratégico de defesa e também aquelas que surgiram de forma inopinada, como foi a Operação Verde Brasil, no combate aos incêndios na floresta, e aos desmatamentos ilegais, exercendo o comando e controle na intensa fiscalização de áreas com elevado risco ambiental, como foi o caso à época. Empregamos tropas para combater os incêndios, helicópteros, aviões, barcos, monitoramento via satélite e sensores; e, em conjunto com os diversos órgãos e agências envolvidos, conseguimos diminuir os crimes ambientais, o fogo e o desmatamento nas áreas de nossa atuação, especialmente, na região Sul de nossa área de responsabilidade.
FLORESTA BRASIL – E como foram desenvolvidas as atividades de melhorias dos 24 Pelotões Especiais de Fronteira?
NARDI – Dentro da nossa dotação orçamentária e com nossa experiência e conhecimento da região avançamos na melhora da potabilidade da água; na energia fornecida, buscando opções como a solar; na reestruturação de pistas de pouso; no fornecimento de pontos de internet em áreas remotas; no atendimento das populações indígenas e ribeirinhas, que vivem no entorno dos pelotões; nas remoções de feridos em helicópteros e aviões com serviços aeromédicos; no reaparelhamento dos materiais bélicos empregados no combate aos criminosos; e com intensificação das atividades de inteligência.
FLORESTA BRASIL – Mas com uma fronteira tão ampla entre a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guyana, como se pode impedir a entrada dos criminosos na área de atuação do CMA?
NARDI – Em 2020 inicia o trabalho de instalação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) em 11 pelotões especiais de fronteira. É um trabalho de longo prazo, onde serão instalados sensores e outros equipamentos de detecção, que auxiliarão os pelotões no combate aos criminosos em áreas de difícil acesso nas áreas mais distantes dos rios e florestas da Amazônia das nossas fronteiras.
FLORESTA BRASIL – Em seu comando houve a entrada de milhares de refugiados venezuelanos na região. O que foi feito para acolher esse contingente de estrangeiros?
NARDI – Em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, em Roraima, foi montada a Operação Acolhida, apoiada pelo CMA e outros Comandos Militares de Área, onde milhares de venezuelanos foram acolhidos em acampamentos e, depois, encaminhados para o interior do Brasil, para que eles tivessem a oportunidade de trabalhar legalmente. Aqui no Amazonas, em Manaus, o Exército tem dado todo o apoio com barracas e orientações aos refugiados. Esta é uma questão que temos monitorado e agido, dentro do que nos foi orientado, para diminuir o sofrimento do povo venezuelano, que procura o Brasil fugindo de uma realidade difícil no país vizinho.
FLORESTA BRASIL – No seu comando foi criada e lançada a Rádio Verde Oliva do Exército, que tem seus estúdios no CMA. Como foi isso?
NARDI – A Rádio Verde Oliva era um sonho antigo do CMA, que se realizou, depois de investimentos, planejamento, treinamento de pessoal e muita determinação. Hoje, a programação está sendo ampliada e, temos a certeza, que ela terá um papel social e militar muito importante para a sociedade amazonense.
FLORESTA BRASIL – Em sua gestão 14 militares formados pelo CIGS foram para a República Democrática do Congo, em uma operação da Missão de Paz da ONU, para serem instrutores das tropas deste contingente internacional. Como foi isso?
NARDI – Sem dúvida nenhuma é motivo de orgulho do Exército Brasileiro ter em suas fileiras militares tão bem treinados em ambiente de selva, para serem instrutores em uma importante missão de paz da ONU na África. Isso atesta, mais uma vez, que o CIGS é o mais importante centro de formação de guerreiros de selva do mundo. Ele está subordinado ao CMA, o comando, que passei ao general Estevam Theophilo.
Texto e fotos: Antonio Ximenes