Denunciou mediante ofício Nº 007/2020/TWRK /MPKK ante a Procuradoria da República em Tabatinga/AM, o total desconhecimento da realidade do Comando Militar da Amazônia dentro do Hospital de Guarnição de Tabatinga
O Movimento do Patriarcado Cacicado Geral do povo indígena kokama do Brasil deu entrada ao ofício Nº 007/2020/TWRK /MPKK ante Procuradoria da República em Tabatinga/AM, hoje 26/05/2020, em resposta a nota de imprensa do Comando Militar da Amazônia de 21/05/2020, acerca dos “fatos noticiados por órgãos de imprensa relativos à decisão liminar proferida pela Justiça Federal do Estado do Amazonas, em 18 de maio de 2020, que trata de medidas atinentes ao combate do Coronavírus na região do Alto e Médio Solimões e Vale do Javari, mostramos o total desconhecimento da realidade do Comando Militar da Amazônia (CMA) dentro do Hospital de Guarnição de Tabatinga”.
Parte do documento segue a continuação:
“Em Tabatinga já teve 48 óbitos confirmados por Covid-19 e mais 13 em investigação, fora as inúmeras mortes de pessoas sub-notificadas falecidas em residências, sendo um grande numero do povo Kokama, que alguns foram enterrados como pardos, e na época no HGUT só tinha 10 respiradores, chegaram mais 10 recentemente, sendo ainda muito pouco para a realidade de Tabatinga, que no referido hospital escolhiam quem iria viver ou morrer, basta ir ao novo Cemitério aberto para enterrar vitimas do Covid-19, sendo que as pessoas já não querem ir para esse hospital e se tratando por conta própria.
* Não vemos os “esforços continuados para que as comunidades indígenas e a população local do Alto Solimões”, uma vez que HGUT não entregam para as famílias dos casos confirmados, ainda mais quando são humildes ou indígenas, primeiro não entregam cópia do teste confirmando ou qualquer tipo de exame feito ao paciente, segundo que no Boletim Médico que acontece somente às 11 horas da manhã, os médicos que vem dar informação as famílias são grosseiros e arrogantes, não sabem passar informações de forma humanizada como prevê o SUS e são mal educados, se valem de patentes militares que tem para dar informação repetidas, informações sem estar atualizadas no SISTER e ainda querem amedrontar com oficial de dia que colocam a mão na arma da cintura ou cercado por militar que aparenta um segurança. E se questionado tentam intimidar a família do paciente. Pior ainda quando o paciente e o acompanhante dominam a sua língua materna e não o português.
* Conforme a nota do CMA escreveu que “O Hospital da Guarnição de Tabatinga (HGuT), desde 10 de julho de 1982, presta assistência médico hospitalar aos militares e dependentes das três Forças Singulares lotados na região. Além disso, em virtude de convênio celebrado entre o Comando Militar da 12ª Região Militar e a Secretaria de Estado de Saúde do Estado do Amazonas, atende tanto a população em geral, de Tabatinga e municípios vizinhos, quanto a comunidade indígena”.
*Mas no dia 14/05/2020, por volta as 10:55 da manhã, no setor de Serviço Social do HGUT, o Diretor do Hospital de Guarnização de Tabatinga falou a AUTORIDADE SUPREMA TRADICIONAL DO POVO KOKAMA que estava lá devido o falecimento de GUILHERME PADILHA SAMIAS (Comandante tradicional Supremo dos Guerreiros – Ayukaka wanaku): “Que esse Hospital Militar não recebe verba para atender civis e nem indígenas e que como lá em Marabá o Hospital Militar só atende militares, deveria ser feito o mesmo em Tabatinga, que a única coisa que tem de fora são alguns funcionários civis”.
E pior ainda que naquele momento queria colocar na Declaração de óbito de GUILHERME PADILHA SAMIAS como “pardo”, exigiam RANI (um documento interno da FUNAI) ou um funcionário da FUNAI para comprovar se era indígena, um total desrespeito ao povo Kokama e seus chefes tradicionais superiores. ·
*A Nota do CMA ainda “Ressalta-se, ainda, que cerca de 85% dos atendimentos realizados pelo Hospital de Guarnição de Tabatinga são destinados à população civil, ou seja, militares e seus dependentes representam 15% dos atendimentos”. Nós confirmamos que é um atendimento autoritário, desumano, preconceituoso e não transparente. Por isso, solicitamos que MPF, órgãos de policia judiciária, indigenistas e imprensam venham observar a situação dos leitos, dos tratamentos, de como fica o paciente e como é o BOLETIM MEDICO feito aos familiares. ·
*Ainda conforme a Nota do CMA “O Hospital de Guarnição de Tabatinga está equipado com leitos semi-intensivos e de enfermaria, que estão operando com 40% e 25% de suas capacidades, respectivamente. Os casos com maior gravidade estão sendo encaminhados para Manaus/AM, por intermédio da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (UTI aérea)”. No caso do paciente GUILHERME PADILHA SAMIAS que foi a óbito dia 14/05/2020, eles (HGUT) não atualizaram o SISTER que foi confirmado para a SUSAM (que não atualizaram o Sistema de regulação desde o dia 06/05/2020) e precisa de investigação e punição dos culpados. Os cidadãos com casos suspeitos de COVID-19 estão preferindo se tratar em casa, a ir para o Hospital morrer e não ter chance de ser velado de acordo com protocolos internacionais de “velórios de vitimas de Covid-19”. Pois o tratamento fica a desejar como “salvar vidas”! Ninguém confia no HGUT!!! Nem nós povos indígenas confiamos no HGUT. E queremos respeito aos povos indígenas, suas organizações e aos seus lideres tradicionais. ·
*Amanhã dia 26/05/2020 vão inaugurar uma ALA PARA ATENDER INDÍGENAS em MANAUS, mas uma vez esquecem-se do ALTO SOLIMÕES, dos povos do interior e de Tabatinga-Am, que é cidade pólo e já precisa urgentemente de um HOSPITAL CIVIL para atender a população civil e os povos indígenas. Aqueles 10 respiradores que vieram para Tabatinga foi uma espécie de maquiagem em política publica de saúde, uma saúde precária, uma saúde desrespeitosa. Mas uma vez o Alto Solimões fica no esquecimento! · Tabatinga e o Alto Solimões precisa com urgência de um Hospital civil, seria necessário um hospital universitário para atender a nossas demandas. ·
*Os povos indígenas da cidade precisam ser atendidos pela SESAI, pois como a FUNAI não tem distinção de indígenas que residem em aldeias ou em cidades, atende a todos. Queremos demarcação de Terras para aqueles que morram em aldeias e não aceitamos mineração, madeireiras, monocultura, agronegócio, missionários evangélicos e nem agropecuária nas terras indígenas. ·
*Nós estamos aqui antes da invasão européia (portuguesa e espanhola), fomos divididos em três países (Brasil, Peru e Colômbia), e temos que obedecer a Constituição dos governos descente de invasores nos três países, ainda mais hoje na Republica Federativa do Brasil, onde estamos e continua nossa morada, que estamos sujeitos as suas normas e amparados pela Carta Magna, como povos originários e vamos resistir como um povo, que temos uma língua própria e uma forma tradicional de hierarquia, paz e respeitamos o que esta na Constituição Federal de 1988 que nos dar respaldo para sobreviver neste país e queremos respeito.
* Estamos sofrendo descaso desse governo fascista, já são 51 Kokama falecidos vitimas de Covid-19 ou suspeito de Covid-19 em todo o Estado do Amazonas. Estamos de luto e queremos justiça.
Atenciosamente, Ai na ta, Tsurpaki!
AUTORIDADE SUPREMA TRADICIONAL DO POVO KOKAMA PATRIARKA KANA MAYURU TAPƗYA KUKAMƗ MINU
Sem mais, atenciosamente,
Edney da Cunha Samias
Patriarca Cacique Geral do povo indígena Kokama Líder tradicional
RG: 1688124-9 CPF: 745.361.762-6