A hepatite D pode causar uma das formas mais graves de hepatites virais. Mais de 72% dos casos no Brasil estão concentrados na região Norte, de acordo com o novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Esse vírus depende da presença da infecção pelo vírus da hepatite B para contaminar uma pessoa. Em uma ação inédita, a pasta anuncia o início de um projeto piloto para disponibilizar testes de diagnóstico e monitoramento para essa infecção no país, preenchendo uma lacuna histórica no acesso ao diagnóstico, acompanhamento e tratamento. A expectativa é alcançar a totalidade das pessoas infectadas. No mês de luta contra as hepatites virais – Julho Amarelo – o governo federal também lançou nova campanha digital de conscientização sobre a doença.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a infecção crônica do vírus B, que é responsável por 47% dos óbitos relacionados às hepatites virais, atingiu cerca de 296 milhões de pessoas em 2022 em todo o mundo. Somente no Brasil, segundo o boletim epidemiológico, foram 10.952 casos de hepatite B e 128 de hepatite D no mesmo ano. Em 2023, com a retomada das ações de prevenção, uma redução dos casos já foi registrada: 10.092 casos de hepatite B e 109 de hepatite D.
Da mesma forma que as outras hepatites, a do tipo D pode não apresentar sinais ou sintomas. É nesse ponto de gravidade que a pasta está investindo de forma inédita. O novo modelo de testagem vai facilitar, agilizar e aumentar a capacidade diagnóstica no país. Com o avançar do projeto, que acontece por meio de uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Rondônia, a ideia é expandir para as demais regiões.
Ainda em parceria com a Fiocruz, o Ministério da Saúde garantiu importante medida de acesso a medicamentos para tratamento da hepatite C, com a primeira aquisição e distribuição de sofosbuvir e daclatasvir para estados e municípios. Foram 800 mil unidades farmacêuticas entregues. Com essa nova opção terapêutica de tratamento, além de possibilitar um alto percentual de cura, foi possível proporcionar uma economia em torno de R$ 43 milhões para o Sistema Único de Saúde (SUS), aproximadamente 33% mais barato quando comparado com o esquema anteriormente disponível.
O Ministério da Saúde atua, ainda, em ações de prevenção, principalmente com a vacinação contra hepatite A e B, e na expansão do acesso a diagnóstico e tratamento contra hepatite B e C. Com isso, a pasta espera que a eliminação dessas doenças como problema de saúde pública ocorra até 2030. Nesse sentido, o Brasil foi o primeiro país do mundo a lançar uma política governamental para eliminar ou reduzir, como problemas de saúde pública, 14 doenças e infecções que acometem, de forma mais intensa, as populações em situação de maior vulnerabilidade social. A hepatites virais estão inclusas na ação, conhecida como Brasil Saudável.
Para acelerar essa resposta de eliminação das infecções, o Ministério da Saúde criou uma coordenação-geral específica de hepatites virais, dentro da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. O fortalecimento da estrutura da pasta permite a continuidade do diálogo com a sociedade civil, estados e municípios. Exemplo disso é a construção de um Plano para a Eliminação das Hepatites Virais no Brasil, que será colocado em consulta pública em agosto deste ano, com o objetivo de criar uma linha de cuidado de acordo com as realidades locais. O documento foi construído de forma articulada com gestores estaduais e municipais, sociedades civil e científica, bem como com instituições nacionais e internacionais parceiras.
Cenário epidemiológico aponta redução na detecção de casos e nas mortes causadas por hepatites virais
Os dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2024 apontam que, de 2000 a 2023, foram notificados mais de 785 mil casos no Brasil, sendo 40,6% do tipo C, 36,8% do tipo B, 21,8% do tipo A e 0,6 de hepatite D. Somente em 2023, foram mais de 28 mil novos casos, sendo 7,3% de hepatite A, 35,4% de hepatite B e 56,7% de hepatite C. Do total de casos de hepatite D, ao longo da série histórica, observou-se que 62,8% estavam entre pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, seguidos de 17,3% de brancas, 6,6% de indígenas e 1,3% de amarelas.
As taxas de detecção de hepatites B e C apresentaram redução de 7,9% e 8,7%, respectivamente, quando comparadas a 2022. Em relação aos óbitos – com base na série histórica de 2012 a 2022 com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) – é possível observar redução nas mortes relacionadas às hepatites A (36,8%), B (22,6%) e C (54,9%). A redução das mortes pode ser observada como um resultado de diversas ações, tais como introdução dos antivirais de ação direta a partir de 2015 e a introdução da vacina de hepatite A para crianças em 2014. Contudo, em 2022, a hepatite C foi a principal causa de óbitos entre as hepatites virais com 69,9%, seguida pela hepatite B com 26,1% do total.
Em 2023, cerca de sete mil pessoas iniciaram e mais de 40 mil estavam em tratamento para hepatite B. Quanto à hepatite C, cerca de 17 mil pessoas realizaram tratamento. Assim como para a hepatite B, a maioria (86%) realizou acompanhamento médico no serviço público de saúde e 98% tratou a hepatite C pela primeira vez.
Campanha do Ministério da Saúde incentiva população a fazer testagem
Em 2023, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que institui o Julho Amarelo no país, mês destinado à luta contra as hepatites virais. De acordo com o documento, também assinado pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, a ação tem foco na conscientização sobre os riscos da doença, nas formas de prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos. O projeto originário da lei é de autoria do atual ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha.
Em 2024, com o slogan “4 passos para eliminar a hepatite – conhecer, prevenir, testar e tratar”, a campanha será realizada nas redes sociais digitais, reforçando a importância da ampla testagem, pois, com exceção da hepatite B, as hepatites virais têm cura e o tratamento é oferecido gratuitamente pelo SUS.
Informações sobre as hepatites contribuem para tomada de decisão
A partir de agora, Ministério da Saúde também vai disponibilizar dois painéis de informação para acompanhamento dos dados da doença: o Painel de Indicadores e Dados Básicos das Hepatites nos Municípios Brasileiros e o Painel de Monitoramento das Hepatites B e C.
Os dados disponibilizados foram retirados do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos de Hepatites a partir de janeiro de 2023. Os indicadores descritos consideram as pessoas que receberam dispensação de medicamentos para o tratamento das hepatites B ou C e foram estratificados segundo região geográfica, sexo, raça-cor-etnia, escolaridade, situação de privação de liberdade ou situação de rua.
*Ministério da Saúde