A Reserva Indígena do Vale do Javari, onde vivem sete etnias e mais de 2000 índios isolados, é prioritária no atendimento do Exército Brasileiro no combate à Covid-19. O Ministério da Saúde confirma 42 indígenas infectados
Profissionais de saúde chegaram, nesta quinta-feira (18), ao município de Atalaia do Norte, interior do Amazonas, para reforçar o combate à Covid-19 na região do Vale do Javari, a segunda maior terra indígena do Brasil. A medida ocorre após a confirmação de casos da doença em aldeias. Em todo o Amazonas, o número de índios infectados passa de mil.
Ao todo, 23 profissionais devem reforçar o enfrentamento ao novo coronavírus na localidade. Médicos especialistas, enfermeiros e técnicos em enfermagem das Forças Armadas participam da missão.
Duas aeronaves ajudam no transporte de materiais e insumos. Medicamentos, equipamentos de proteção individual, testes rápidos e ventiladores pulmonares foram destinados ao hospital de Atalaia do Norte e Dsei Vale do Javari.
A região tem mais de seis mil índios de sete etnias, além de dezenas de grupos de índios isolados. O novo coronavírus foi confirmado nas aldeias São Luis, do povo Kanamari, e Lago Grande, dos índios Mayoruna.
O Ministério da Saúde confirma 42 casos de indígenas infectados pelo novo coronavírus no Vale do Javari.
A preocupação das autoridades locais é que o vírus continue se espalhando e contamine outras comunidades indígenas. As associações dos índios Kanamari e Mayoruna denunciaram ao Ministério Público Federal que quatro funcionários da Secretaria Especial de Saúde Indígena chegaram à aldeia São Luis infectados pelo novo coronavírus. A Sesai negou que a situação tenha ocorrido.
O procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo pede ações mais efetivas no combate à doença. Ele afirma que é esperado o genocídio da comunidade, ou seja, extermínio parcial ou total desses povos.
Dois grupos
A equipe de 23 militares profissionais de Saúde das Forças Armadas que reforçam o atendimento médico na região do Vale do Javari, foi dividida em dois grupos para melhor atender os pacientes. Um grupo foi para Atalaia do Norte, enquanto outro seguiu para a região onde fica o Pelotão Especial de Fronteira de Palmeiras do Javari.
A missão, que partiu de Brasília na quarta-feira (17), deu início aos atendimentos na quinta-feira (18). Com o acompanhamento de profissionais de enfermagem do Distrito Especial de Saúde Indígena (DSEI) do Vale do Javari, os militares de saúde que se deslocaram para Atalaia do Norte atenderam a população em quatro pontos: na Unidade Básica de Saúde Dona Joana, nas Escolas Estaduais Carmosina Baima e Pio Veiga, além de um posto específico para receber indígenas, o Univaja.
A Coronel Lucia, médica da Aeronáutica, liderou a equipe em Atalaia do Norte. Ao fim do dia, somaram 122 atendimentos. “Unimos forças com os profissionais de saúde do município de Atalaia do Norte e do Estado do Amazonas, nesta missão conjunta dos Ministérios da Defesa e da Saúde, com a finalidade de estreitar o enfrentamento municipal à pandemia de Covid-19 e proporcionar atendimento médico nas diferentes especialidades. O diferencial dessa missão é a proposta de atender a população indígena do Vale do Javari”, destacou. A médica acrescentou que apenas um paciente foi encaminhado ao hospital, com sintomas moderados da Covid-19.
Palmeiras do Javari
Acompanhados por representantes da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), a outra parte da equipe prestou assistência às comunidades indígenas e não indígenas, situadas próximas ao Pelotão Especial de Fronteira (PEF) de Palmeiras do Javari. Esse Pelotão está subordinado ao Comando de Fronteira Solimões / 8º Batalhão de Infantaria de Selva. No local, foram realizados 59 atendimentos e consultas médicas nas especialidades de ginecologia, pediatria, ortopedia e clínica geral.
Uma das atendidas, Maria Vieira da Costa, 75 anos, contou que, para ter acesso a uma consulta médica, precisa ir para Atalaia do Norte ou Tabatinga, a uma distância de sete dias de barco. “Essa visita é muito boa para todos nós, porque o atendimento especializado aqui é muito difícil”.
Na parte da tarde, a equipe de saúde seguiu para a aldeia Cruzeirinho, às margens do rio Javari. Nessa comunidade, vivem 32 famílias de indígenas da etnia Mayuruna. Lá, foram atendidos cerca de 19 indígenas, principalmente crianças.
O líder da aldeia, Bene Mayuruna, falou que muitos indígenas foram para a roça de cultivo de mandioca para se isolarem e evitar, assim, o contato com a comunidade ribeirinha ou com pescadores da região.
Conforme o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 18 de junho há, atualmente, entre os indígenas do Vale do Javari, somente dois casos de infectados e nenhum óbito. Dos 42 casos que surgiram na área, 40 já tiveram cura clínica.
Área indígena
A região do Vale do Javari é a segunda maior área indígena do Brasil, localizada nos municípios de Atalaia do Norte e Guajará, no oeste do Estado do Amazonas. A região possui população aproximada de 7 mil indígenas de sete etnias diferentes, que vivem em uma área de 85.445 km².
A operação interministerial das pastas da Defesa e da Saúde, além dos 23 profissionais, transportou 70 mil itens de proteção individual e insumos médicos para reforçar a assistência à saúde e o enfrentamento à Covid-19 entre os indígenas. Os materiais foram destinados ao Hospital Municipal de Atalaia do Norte, que é referência de atendimento em toda a região do Vale do Javari, e ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), Vale do Javari, para atendimento nas aldeias. A missão prossegue até domingo (21), com atendimentos e assistência médica na região.
Texto Dulce Maria Rodriguez com informação das Forçãs Armadas
Fotos: divulgação