Ranqueado na posição 65.700 entre os 100 mil cientistas mais influentes no mundo, Dario Grattapaglia disse que o Brasil está num caminho bom, no que diz respeito a conservação da Floresta Amazônica. Para ele a visão correta é aquela que abrange as 24 milhões de pessoas que moram na região e precisam sobreviver
O pesquisador da Embrapa, Recursos Genéticos e Biotecnologia, Dario Grattapaglia, pelo segundo ano consecutivo, está no ranking dos 100 mil cientistas mais influentes no mundo, segundo o grupo de Stanford. Mas ele ressalta, que o mérito não é só dele, e sim de um grupo de pessoas com as quais ele trabalhou ao longo de sua carreira. Muitos deles foram seus estudantes e agora são pesquisadores no Brasil, Estados Unidos e outros países.
Além disso, ele confessou em entrevista exclusiva com Agroflorestamazonia.com que chegar nesse patamar só foi possível com o apoio de sua esposa Tania, com quem é casado há 35 anos e tem dois filhos: Rafael (26) e Renata (21) estudantes de medicina.
Dario nasceu em Turim, na Itália, e aos 12 anos chegou no Brasil, mais exatamente em Alto Paraíso de Goiás (GO), onde teve o primeiro contato com a área florestal, preparando mudas de eucalipto. Ele é Engenheiro florestal pela Universidade de Brasília (1985) e PhD em Genética pela North Carolina State University (1994) (Phi Kappa Phi Honor Society Chapter 33 – 1992).
Chegou na Embrapa em 1994, após finalizar o doutorado nos Estados Unidos, e começou a tocar duas áreas em paralelo: genética das espécies das florestas plantadas, voltada para plantios de eucalipto de rápido crescimento; e a conservação das espécies nativas do Brasil.
1- Agroflorestamazonia: Como se sente estando no ranking dos 100 mil cientistas mais influentes no mundo?
-Dario: Desde o ponto de vista pessoal é legal, é um reconhecimento interessante. Mas o mais importante mesmo é o trabalho que estamos fazendo. No ranking do grupo de Stanford, entre os 100 mil cientistas de maior impacto no mundo, tem 254 brasileiros. Eu fiquei na posição 65.700.
O expressivo do Ranking é que o grupo de Stanford contempla o impacto de publicações científicas dos últimos 24 anos (1996-2019), ou seja, é avaliada a construção de uma história profissional.
Isso agrega valor, porque o cientista não é medido simplesmente pela quantidade de artigos publicados num determinado ano, mas sim é avaliado ao longo de um período de anos. A qualidade é mais importante que a quantidade. Não adianta fazer muitos artigos de qualidade duvidosa, que ninguém lê, só para aumentar o currículo.
Sou engenheiro florestal com doutorado em genética florestal e trabalho na área de genética das plantas florestais
2- Agroflorestamazonia: Qual você acha que é sua contribuição mais importante para a sociedade?
-Dario: Eu trabalho com espécies florestais, principalmente, na área de florestas plantadas. Tenho uma atuação forte na área de uso da biologia molecular genômica no melhoramento florestal dos eucaliptos. Colaboramos com várias empresas florestais no Brasil.
A importância das florestas plantadas e muito grande na nossa civilização, porque se não temos floresta plantada acabamos derrubando a floresta nativa, para poder produzir os produtos de madeira que nós usamos no dia a dia. Precisamos de madeira para produzir papel, embalagem, papel higiénico, fraldas e outros.
Muitas pessoas olham para uma floresta de eucaliptos de uma forma negativa, porque não entendem que na verdade aquilo é uma fazenda de produção de fibra, que se não tivesse sido plantada, se estaria provavelmente, derrubando a floresta nativa.
Meu trabalho é utilizar as tecnologias avançadas para produzir muita madeira em pouca área, ou seja, ser eficiente na produção de madeira através de melhoramento genético. É um aporte muito importante para a preservação da floresta nativa.
Também atuo na genética da conservação das espécies nativas do Brasil, na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica para entender a genética das espécies.
3-Agroflorestamazonia: Qual considera o maior desafio para que a floresta Amazônica seja produtiva e sustentável, ao mesma tempo?
-Dario: Nós temos que usar a intensificação sustentável: produzir o máximo de madeira na menor área possível, deixando a terra disponível para outras coisas como a produção de alimentos e respeitando as áreas conservadas.
A floresta plantada, tem uma significação para a civilização moderna tão importante como um plantio de milho, de feijão o de arroz, porque além de comer, as pessoas precisam dos produtos da madeira.
Para poder preservar as florestas nativas para outros usos, por exemplo: serviços ambientais, utilização da biodiversidade, recreação, conservação da fauna e flora, se precisa ter florestas sustentáveis e muitos produtivas.
Nesse contexto entra a participação da genética para produzir arvores mais tolerante a seca, resistente a insetos e pragas, utilizando a variedade de espécies de rápido crescimento como o eucalipto e outras
4-Agroflorestamazonia: Como especialista florestal, qual seria sua mensagem para os representantes dos países que dizem estar preocupados pela conservação da Amazônia?
-Dario: Tem muita informação errada, questões políticas e ideológicas envolvidas. O Brasil preserva 62% das suas florestas, mas os Estados Unidos preservam 12% e a Europa nem 20%, nos preservamos muito mais que os países desenvolvidos.
O Brasil faz um esforço muito grande de conservação, infelizmente, em algumas situações, tem ainda momentos de exploração predatória e avanços da pecuária.
Sem dúvida, o Brasil tem um papel mundial importantíssimo na preservação da floresta, porque as florestas tropicais têm uma relevância ambiental enorme. Nós temos um código florestal diferenciado e temos mantido uma política ambiental nos últimos anos.
Se olhar os gráficos de desmatamentos na Amazônia há 20 anos, vai encontrar que reduzimos entre 60% e 70% do que tínhamos em 2002, 2003, mas temos que tomar cuidado para não voltar aos níveis antigos. Muita coisa tem sida feita, por vários governos, e estamos no caminho bom.
Muitas vezes os ambientalistas têm uma visão muito radical, mas eu acho que a visão correta é aquela que abrange as 24 milhões de pessoas que moram na Amazônia e que precisam sobreviver. Eles necessitam de alternativas de renda e emprego para seu desenvolvimento. Não se pode pedir para se conservar tudo, que ninguém mexa em nada, e não estar nem aí para as pessoas que moram lá.
5-Agroflorestamazonia: Qual mensagem você passaria para os pesquisadores que estão iniciando na profissão?
-Dario: Para ser cientista no Brasil tem que ter muita persistência. Para ter impacto a nível mundial tem que falar e ler muito bem o inglês e montar uma rede de colaborações internacionais de alta qualidade, porque ninguém trabalha sozinho. Além disso, ter inteligência emocional de saber colaborar com pessoas diferentes.
Tudo o que eu consegui fazer ao longo destes anos foi com o trabalho de muitas pessoas colaborando. Eu apareço nessa lista, mas o mérito não é só meu é de um grupo de pesquisadores.
Texto Dulce Maria Rodriguez
Fotos: Divulgação