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Matupi trabalha com madeira manejada e sofre com ataque de quem não entende o mercado madeireiro

Empresária Rosa Valentim (foto: Anderson Oliveira)

Empresária Rosenir Valentim do Carmo (Rosa) fala da luta para manter as atividades locais

O distrito de Santo Antônio de Matupi, além de produtor de gado de corte e leite, é um grande polo madeireiro. A madeira produzida no local é comercializada para grandes centros urbanos do Brasil e do exterior, ao contrário do que muitos pensam – que os madeireiros são grandes vilões – não é isso que vimos de perto na região.

A Madeireira Santa Rosa, com sede dentro da área urbana do distrito, trabalha, exclusivamente, com madeira oriunda de manejo e tem como carro chefe a madeira beneficiada, ou seja, a extração desta ocorre em um local previamente estudado e certificado, pelos órgãos responsáveis, especificando a metragem cúbica de madeira e tipos que poderão ser manejados. Devido aos estudos e certificações é uma madeira com o valor mais elevado, porém com valores agregados para o nosso planeta.

Entrevistei a proprietária da madeireira, a empresária Rosenir Valentim do Carmo, conhecida como Rosa, que está no Quilometro 180 há mais de 14 anos, uma mulher inteligente, convicta e que luta pela sustentabilidade da Floresta, pois sabe que sua empresa beneficia renda para cerca de cem pessoas.

 Agrofloresta  – Quais são as dificuldades que o empresário no ramo da Madeira tem aqui em Santo Antônio do Matupi?

Rosa Valentim – Matupi é um distrito longe da sede do município que nos rege, que é Manicoré. Tudo que precisamos está longe da gente. Cartório, saúde, prefeitura, além da distância da capital, Manaus, mas um dos nossos maiores entraves é o serviço do IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) que está muito reduzido, e aí peço, encarecidamente, para que o nosso governador olhe com carinho para o órgão, pois há poucos funcionários, contrate mais. Afinal, isso atrasa o trabalho de quem está no campo e que está sempre em busca de trabalhar com tudo certinho, dentro da regularização e da lei. Para você ter uma ideia, quando precisamos de alguma vistoria do IPAAM temos que tirar o servidor lá de dentro, para vir fazer esse serviço aqui. Quem vem fazer essa vistoria é a mesma pessoa que vai tá lá dentro do órgão, em Manaus, que vai fazer o relatório final e assinar para liberar o OK, para trabalharmos no manejo. Uma demora desnecessária se tivesse mais pessoas. A minha empresa, por exemplo, passou um ano para que fosse liberado a L.O (Licença de Operação).

Pátio da madeireira Santa Rosa (Foto: Anderson Oliveira)

Agrofloresta  – Como está o pátio da madeireira hoje com a pandemia?

Rosa Valentim – Meu pátio tinha pouca madeira, pois estávamos saindo do defeso da madeira que vai do período de 15 de janeiro a 15 de maio, quando era para liberar o manejo a justiça decretou que não se podia transportar madeira na pandemia.

 Agrofloresta  – Além das dificuldades habituais, recentemente a justiça decretou a proibição do transporte de madeira, pela Amazônia, devido à pandemia, como isso afetou vocês?

Rosa Valentim – Isso afetou bastante todos nós, pois aproximadamente 80% das famílias da região trabalham direta ou indiretamente com a madeira. Para te explicar melhor temos trabalhadores nas madeireiras, o pessoal que trabalha no manejo, os donos de áreas de manejo que vendem estes para nós e atrás dessas pessoas vêm suas famílias. Quando a justiça determinou que o trabalho do setor madeireiro não “era essencial” imagine o sufoco que passamos nesses 30 dias. Praticamente todas as madeireiras seguraram seus funcionários, para não demitir e aguardamos a decisão da justiça, para nosso retorno. Ainda bem que estamos de volta aos trabalhos.

Agrofloresta  – Nesse período que vocês estão isolados devido a pandemia, alguma instituição internacional ajudou vocês, seja com cursos ou com recursos?

Rosa Valentim – Ah não, dessas instituições nós só recebemos peia e porretada.  Na verdade, a visão que se tem hoje do madeireiro é que: madeireiro desmata, queima, destrói e a verdade não é essa.

Como é que você vai destruir aquilo de que você sobrevive?

Eu não posso chegar e jogar uma mata inteira no chão, se eu dependo dela para sobreviver. Se a minha empresa, o meu ramo de negócio depende da mata dela em pé. Qual é o motivo de eu querer acabar com tudo? Nenhum, por isso é importante o manejo e mais ainda conhecer a realidade de perto de quem trabalha no campo.  A única visão que as pessoas têm lá fora quando essas instituições falam, é que o madeireiro é um “monstro”, e essa não é a verdade, inclusive essa visão já deveria ter mudado há anos, pois imagina você ser taxado pelo que você não é, de bandido, destruidores, bicho papão e não somos isso não. Nós geramos renda, emprego, tanto aqui, quanto fora, pois é uma cadeia produtiva. O mais chato é passar por esse tipo de humilhação, sendo cidadãos que pagam os seus impostos.

O distrito de Santo Antônio do Matupi é assim, com sua população hospitaleira, trabalhadora, que acorda muito antes do sol raiar com seus primeiros raios e que sonha, um dia, em ver a BR 230, Transamazônica, asfaltada para facilitar à logística e seu dia-a-dia.    

Texto: Milena di Castro

Foto de capa: Anderson Oliveira

 

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