Por Beatriz Costa, Editora-Chefe
Marcada para acontecer em novembro de 2025, em Belém (PA), a COP30 — Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas — promete colocar o Brasil e, especialmente, a Amazônia, no centro do debate ambiental global. Mas, para além de negociações técnicas e compromissos entre governos, o evento abre espaço para uma pauta urgente: a justiça climática.
O conceito, que ganha força no discurso de ambientalistas, acadêmicos e movimentos sociais, reconhece que os efeitos da crise climática não atingem todas as pessoas da mesma forma. Populações vulneráveis, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, comunidades periféricas e agricultores familiares, estão entre as mais impactadas pelas mudanças no clima — e, paradoxalmente, são as que menos contribuíram para o aquecimento global.
O impacto nas margens
Secas prolongadas, cheias extremas, escassez de alimentos, aumento de doenças transmitidas por vetores e perda de território são algumas das consequências que já afetam a vida de milhares de famílias na Amazônia e em outras regiões do país. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), eventos climáticos extremos têm se tornado mais frequentes e severos nos últimos anos, exigindo respostas mais robustas do poder público.
“As populações que vivem da terra, da floresta e dos rios estão na linha de frente da crise climática. É com elas que o Brasil deve aprender a construir um modelo mais justo e resiliente de desenvolvimento”, destaca a pesquisadora em justiça ambiental, Letícia Andrade, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A COP30 como ponto de virada
Especialistas defendem que a COP30 pode ser uma oportunidade histórica para o Brasil redefinir suas políticas ambientais, incorporando a justiça climática como princípio central. Isso inclui a criação de políticas públicas que priorizem a proteção de populações vulneráveis, garantam acesso a recursos e tecnologias de adaptação e promovam a reparação de danos ambientais históricos.
Organizações da sociedade civil também cobram participação ativa das comunidades tradicionais nos debates e decisões. “Não se trata apenas de ouvir, mas de garantir voz, voto e representação efetiva”, afirma Rafael Braga, ativista do movimento Jovens pelo Clima da Amazônia.
Caminhos possíveis
Entre as propostas discutidas por especialistas estão:
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Ampliação de fundos climáticos com critérios de equidade;
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Fortalecimento da bioeconomia local, com incentivo a atividades sustentáveis;
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Titulação de terras e proteção dos direitos territoriais dos povos originários;
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Educação ambiental e climática voltada para contextos periféricos e tradicionais.
Além disso, o evento pode impulsionar o acesso a financiamento internacional, desde que haja transparência, rastreabilidade e foco nas comunidades mais afetadas.
Um novo modelo de desenvolvimento
A justiça climática exige repensar o modelo de crescimento econômico, valorizando práticas sustentáveis, conhecimento ancestral e protagonismo comunitário. Com a COP30 sediada na Amazônia, cresce a expectativa de que o Brasil assuma um papel de liderança global com base em sua diversidade e riqueza socioambiental.
“Essa conferência não pode ser apenas um evento diplomático. Ela precisa ser um marco de transformação real, que comece pelas pessoas que historicamente ficaram à margem das decisões ambientais”, conclui Letícia Andrade.