Indicação Geográfica agrega valor a produtos da biodiversidade da floresta Amazônica

O abacaxi, a farinha de mandioca e o cacau da região Amazônica, característicos do seu local de origem, detêm valor intrínseco, identidade própria, o que os difere dos similares disponíveis no mercado

Indicação Geográfica (IG) é um instrumento de reconhecimento da origem geográfica, conferida a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, que detêm valor intrínseco, identidade própria, o que os distingue dos similares disponíveis no mercado. Na região Amazônica a IG contribui para a valorização dos produtos.

“As Indicações Geográficas são ótimas ferramentas para promover o desenvolvimento rural com sustentabilidade. E no caso da região Amazônica, ela tem o potencial de dar visibilidade aos produtos da biodiversidade, relacionados as tradições das comunidades locais, o que contribui para a preservação de saberes,” ressalta a coordenadora de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Débora Gomide Santiago.

No município de Tomé-Açu (PA), habitado originalmente pelos índios Tembé, os primeiros imigrantes japoneses que chegaram à cidade há 90 anos, fizeram da agricultura sua principal atividade. A produção começou com o cultivo de pimenta-do-reino, mas, depois de uma doença que dizimou os pimentais, o cacau foi implementado como alternativa para a agricultura na região, como em seu bioma de origem, a floresta Amazônica.

O diferencial do cacau de Tomé-Açu é o processo de cultivo do produto, simulando a floresta nativa, para que a fruta cresça de forma sustentável. Neste modelo de plantio, o cacau é plantado junto a outras culturas de árvores, palmeiras ou frutas, como ocorre em seu bioma de origem, na Amazônia.

“Nosso cacau é diferenciado, com sombreamento, dividindo espaço com outras culturas. Ele é plantado de uma forma completamente sustentável, sem agressão ao meio ambiente, sem utilização de queimadas. As plantas dividem espaço com outras e se ajudam mutuamente, através das folhas e dos galhos que caem e funcionam como adubo orgânico. É uma prática de agricultura que deu certo e que é a melhor forma de exercer a agricultura na região Amazônica”, afirma Silvio Shibata, presidente da Associação Cultura de Fomento Agrícola de Tomé-Açu.

Uma prática de agricultura que deu certo e que é a melhor forma de exercer a agricultura na região Amazônica

O cacau de Tomé-Açu recebeu o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG), na espécie de Indicação de Procedência (IP), em 2019.

O processo da IG de Tomé-Açu foi iniciado a partir de uma demanda do mercado japonês. Atualmente, a produção de cacau é de 500 toneladas/ano e as amêndoas são exportadas para o Japão. “A forma de cultivo é um dos grandes diferenciais do produto no mercado, o que foi fundamental para a conquista da IG”, ressalta o presidente.

A detentora dos registros é a Associação Cultural e Fomento de Tomé Açu (ACTA), responsável por manter um conselho regulador que deve preservar, divulgar, proteger os produtos registrados.

Abacaxi

O abacaxi produzido em Novo Remanso, município de Itacoatiara, região Metropolitana de Manaus (AM), recebeu o selo de Indicação Geográfica (IG), na categoria Indicação de Procedência (IP), em 2020. Há mais de 60 anos são desenvolvidas atividades voltadas para a cultura do abacaxi nas comunidades de Novo Remanso e Vila do Engenho, em Itacoatiara e Caramuri.

A mão de obra familiar ainda é uma prática muito utilizada nessa cultura, tanto nos plantios tradicionais como nos semimecanizados, o que tornou o abacaxi o principal sustento das famílias da região.

“Através da organização social e do empoderamento do cooperativismo, o agricultor consegue galgar caminhos nos horizontes, acessando a política pública voltada ao setor primário. Isso foi um ganho imensurável na região”, ressalta o presidente da Associação dos Produtores de Abacaxi da Região de Novo Remanso, Daniel Leandro.

O selo garante estabilidade econômica e ambiental na região. Além disso, promove a viabilidade de mercado e garante maior qualidade de vida ao homem do campo beneficiado com o selo.

Atualmente, o maior polo de produção de abacaxi é na Vila do Engenho, que alcançou 96 milhões de frutos, em 2019. O abacaxi é comercializado nas feiras, supermercados e restaurantes de Manaus e também destinado ao programa de regionalização da merenda escolar.

“Hoje temos um manual do abacaxi de Novo Remanso. Ele está embasado no conhecimento científico e no olhar empírico do agricultor que contribui muito e, inclusive, desenvolveu técnicas que não eram de conhecimento da Embrapa”, destacou o presidente.

Segundo Leandro, o abacaxi de Novo Remanso reduziu o desmatamento em 99% na comunidade de São Francisco do Caramuri. “O pequeno agricultor, hoje, investe em ciência e tecnologia para produzir com qualidade, mantendo a Amazônia em pé”, diz. .

“Todo esse caminho percorrido ao longo do tempo, toda a história das três comunidades que se destacam dentro da região geográfica de IG, possibilitou ousarmos um horizonte mais promissor. A importância da IG para nós é viabilizar um mercado não só local, como também nacional e internacional”, destacou o presidente.

O maior polo de produção de abacaxi é na Vila do Engenho, Amazonas, alcançou 96 milhões de frutos, em 2019

Farinha de Mandioca amazônica

A farinha de mandioca de Uarini (AM), é um dos alimentos mais consumidos na mesa dos amazonenses, diferenciada pelo sabor e crocância. O produto também recebeu o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG), na espécie de Procedência, em 2019.

A delimitação geográfica da IG Uarini compreende os municípios de Uarini, Alvarães, Tefé e Maraã, onde o cultivo de mandioca e a produção da farinha estão fortemente presentes há um longo tempo.

A Indicação Geográfica busca também a valorização dos pequenos agricultores. “O reconhecimento da IG foi um desafio para nós. Começamos um trabalho de campo na região, participamos de capacitações, orientações e entendemos a importância do reconhecimento da IG para Uarini”, explicou o representante da Associação dos Produtores de Farinha de Mandioca da Região de Uarini, José Albino de Freitas.

O produtor agregou valor com qualidade e conhecimento. Eles reduziram o tamanho do roçado em pequenas escalas, mas com produção de qualidade. “Os produtores produzem farinha boa e torrada. É um resultado muito positivo e gratificante”, afirma o representante da entidade.

IG Uarini compreende os municípios de Uarini, Alvarães, Tefé e Maraã, do Amazonas, onde o cultivo de mandioca e a produção da farinha estão fortemente presentes

Em 2019, a produção de farinha atingiu 80 toneladas, que foi comercializada totalmente em Manaus. “O próximo desafio é buscar o mercado nacional e internacional. Já estamos conversando com países do Mercosul, mas ainda não conseguimos projetar um potencial de produção. Com a certificação da IG, estamos trabalhando com os produtores de Uarini, Tefé e Alvarães, para alcançarmos uma produção relevante de farinha com qualidade”, finaliza.

76 IG

O Brasil contabiliza 76 indicações geográficas: 61 indicações de procedência e 15 denominações de origem.

Na Região Norte, existem oito IGs registradas, sendo que a Terra Indígena Andirá-Marau é a primeira denominação de origem da região, em razão de dois produtos nativos: o waraná (guaraná nativo) e o pão de waraná (bastão de guaraná).

As outras IGs foram registradas na modalidade Indicação de Procedência. São elas: Região do Jalapão do Tocantins, para artesanato em capim-dourado; Rio Negro, para peixes ornamentais; Cruzeiro do Sul, para farinha de mandioca; Maués, para guaraná; Tomé-Açu, para cacau; Uarini, para farinha de mandioca; e Novo Remanso, para abacaxi.

De hoje (23) até o dia 26 de fevereiro, será realizado em Belém (PA) o Seminário Internacional de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas do Pará. Com palestras, paineis técnicos e reuniões virtuais, o objetivo do evento é popularizar o tema e dar visibilidade aos produtos e serviços do estado.  

Com informação da Assessoria do Mapa

Fotos: Divulgação

Post Author: Agro Floresta

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