Instituições, com apoio do Sebrae/AM, ofereceram oportunidades de emprego e renda para os venezuelanos imigrantes em Manaus

Uma semana de palestras no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AM) mudou a vida de Nelarys Lanz, 49 anos, confeiteira e refugiada venezuelana. Ela entendeu que tinha que aprender sobre o mercado manauara e, principalmente, uma nova forma de fazer negócios voltados para retomar sua profissão em outro país.
Nelarys chegou em Manaus em agosto de 2018, sem falar português e com o sonho de recomeçar a vida fazendo o que mais gostava: bolos. Mas o começo de sua história não foi nada doce.
“Eu era a fornecedora de bolos para uma famosa rede de confeitarria em Barquisimeto, minha cidade natal na Venezuela. Porém, quando cheguei em Manuas, vendia din-din, água e bolos de pote nas ruas da cidade. Eu voltava pra casa com todos os bolos, ninguém queria experimentar meus produtos. Eu ficava muito triste. Sempre tinha prejuízo”, contou.
Foi o coach Carlos Oshiro quem lhe abriu os olhos durante uma palestra do Sebrae/AM no bairro Educandos.“Ele me fez perder o medo de falar e me encorajou para empreender meu negócio“, contou ela, durante o Encontro Empresarial: Contratação de Refugiados e Migrantes, organizado pelo Sebrae/AM, em dezembro de 2019.
Assim, a confeiteira aprendeu que não vendia apenas bolos; ela gerava uma experiência incrível para quem os comia.
Depois das palestra, Nelarys começou a colocar etiquetas com seu logo: Mela’s Cake_Ve, nos potes e deixou mostras em muitas lojas no Centro de Manaus. Ficou feliz quando foi chamada pelo dono de um restaurante para lhe fornecer 150 bolos de pote por dia.
Ela estava confiante em que sua vida estava mudando, até que chegou a hora do pagamento e o dono do restaurante lhe deu calote. No entanto, os bolos ganharam a preferência dos clientes e Nelarys começou a ver seu talento reconhecido.
Nelarys agora vende seus bolos por encomenda para restaurantes, aniversários e festas diversas. Ela divulga seu trabalho através do perfil no Facebook e Instagram por onde recebe pedidos e consegue pagar suas contas.
Aproveitar a oportunidade
Jennifer Olaizola, 35 anos, manicure e cabeleireira venezuelana, também teve que vencer a barreira da confiança para ganhar seu lugar ao sol. Há um ano, ela atendia cerca de oito mulheres por dia e tinha sua agenda lotada de clientes. Porém, quando começou a trabalhar em Manaus atendia a uma ou, às vezes, nenhuma cliente. “Foi muito difícil ganhar a confiança delas até porque eu não falava português ”, contou.
Como manicure, cabeleireira e maquiadora experiente, Jennifer só precisava de uma oportunidade de trabalho. E ficou feliz quando uma esmaltaria lhe abriu as portas. No começo, ela falava por meio de sinais e mostrava revistas para as clientes. Aos poucos, foi aprendendo o português básico, criou uma página no Instagram, distribuiu folhetos pelo bairro e foi ganhando clientes. Sua maior satisfação foi quando começaram a reconhecer seu trabalho e passou a ser contratada para serviços de maquiagem e cabelereira particular para casamentos e aniversários.
Jennifer comenta orgulhosa que graças a seus conhecimentos com colorimetria, química, penteados e maquiagem na esmaltaria, ela começou a receber outros serviços além da manicure e pedicure. A esmalteria então se transformou em um salão completo. Hoje, com o seu trabalho na área de beleza Jennifer já consegue pagar o aluguel e suas despensas mensais.
O melhor é o que sucede
Silvia Guzman, de 45 anos, foi assessora de projetos para alunos de ensino médio e tinha um pequeno negócio na cidade de Maturin, na Venezuela. Com a hiperinflação, seu dinheiro valia cada vez menos e, mesmo com seu esposo, não conseguia sustentar as despesas da casa e de seus filhos.
Decidiu emigrar para o Chile, mas o visto de sua filha não foi aprovado. Então, o destino lhe trouxe junto com a família para Manaus. A mudança fez que ficasse em depressão e sem vontade de fazer nada. Com ajuda dos religiosos Jesuítas, ela estudou português, fez um curso de culinária e foi se animando.
Seu esposo teve a ideia de abrir um negócio familiar. Com ajuda dos Jesuítas, quem lhe fornecem os ingredientes, nasceu Henato Duranelli Pizzaria. “O mais difícil é cozinhar sem conhecer os gostos das pessoas”, revelou. Agora, com conhecimento e experiência, cozinham pizzas em casa, entregam os pedidos a domicílio e deram a volta por cima.
Organizações e empresas sensibilizadas
No evento: Contratação de Refugiados e Migrantes em Manaus, realizado em parceria com Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR), Agência das Organizações das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (ACNUR), ONG Hermanitos, com apoio do Sebrae/AM, sensibilizaram as empresas a criar oportunidades de emprego e renda para as pessoas que deixaram seus países e se estabeleceram na capital amazonense.
“Neste momento delicado que vive o povo venezuelano, vamos ajudá-los com empreendedorismo e solidariedade. O Sebrae/AM pode dar uma grande ajuda para essas pessoas que podem encontrar no empreendedorismo uma caminho para melhorar suas condições de vida”, destacou Lamisse Cavalcanti, diretora superintendente do Sebrae AM.
Repórter: Dulce Maria Rodriguez Nunez / Fotos: Divulgação/Sebrae e Acnur