Hoje vamos entrevistar a Elusa Andrade, médica veterinária de Santa Maria, que vai nos falar sobre a ovinocultura no Rio Grande do Sul

Em que momento da sua vida decidiu ser uma médica veterinária?

…”Aos 19 anos fiz o vestibular após um teste de aptidão no colégio e a 2ª opção era qualquer coisa ligada a vida, gostava muitos de animais, logo pensei nisso.’…

                                                          

O que faz uma médica veterinária?

…”A área de atuação é muito ampla, vai desde clínica de pequenos animais, grandes animais, animais selvagens, saúde pública, inspeções de produtos de origem animal, produção, pesquisas, ensino e no meu caso a extensão rural e assistência técnica.”…

Em algum momento na sua profissão, sentiu algum preconceito pelo fato de você ser uma mulher?

…”Sim, em alguns poucos momentos e não dei muito importância, sinceramente. Sempre foquei em buscar fazer o melhor na área que atuo e recebi muito mais receptividade e reconhecimento, graças a Deus.”…

 

Como funciona o seu trabalho na EMATER?

…”Trabalhei cinco anos e meio diretamente com produtores rurais na extensão rural do município de São Gabriel – RS, em especial ovinocultores e em parceria com a cooperativa de lã Tejupá. Foi uma experiência gratificante e que me rendeu muito aprendizado.

Depois fiz um concurso interno para a EMATER regional e fiquei como assistente técnica regional de pecuária de corte, só que mais voltada a dar o suporte técnico aos colegas dos municípios da região e na organização de eventos regionais de pecuária, como os concursos de borregas, por exemplo. Depois me transferi para a região de Santa Maria, onde sigo trabalhando com produção animal.”…

 

Qual a importância da ovinocultura no Rio Grande do Sul?         

…”A ovinocultura foi um dos grandes sustentáculos da economia do RS até a década de 80, ela trouxe desenvolvimento para o nosso estado no início do século XX, através da produção de lã, quando havia demanda de produção mundial, em especial em decorrência das grandes guerras.

Indústrias têxteis surgiram e diversas cooperativas de lã nas décadas de 40 a 50 no estado. Na década de 80, com o surgimento do sintético as exportações e o preço da lã começou a cair. Algumas cooperativas  quebraram e os produtores começaram a diminuir seus rebanhos. No século XXI aumentou a produção voltada para a carne de cordeiro e aumentou a porcentagem de raças com maior produção de carne no estado e a lã ficou em, segundo plano. Contudo, ainda temos cerca de 50% do rebanho de raça mista que produz carne e lã, e ao redor de 20% ainda de raças produtoras de lã fina. E, é por isso que precisamos urgentemente qualificar a colheita de lã e buscar alternativas de mercado para esse produto que o RS segue produzindo e detendo cerca de 90% da produção do país.

A lã tem inúmeras utilidades e possibilidades, precisamos exprolar  trazendo mais rentabilidade para os produtores, inclusive aqueles que já produzem carne ovina nobre, base de campos nativos e pastagens no Bioma Pampa Gaúcho, único no país.

Enfim, a ovinocultura sempre esteve presente na produção primária do RS e trouxe com ela a tradição e cultura únicas do nosso estado, desempenhando não apenas um papel importante economicamente, mas também socialmente, mantendo muitas famílias no campop e agregando renda extra com o artesanato em lã e pele para muitas famílias de pecuaristas, quilombolas e assentados.”…

 

Como está o mercado da lã gaúcha em relação às exportações?

…”O mercado atualmente está comercializando apenas lãs finas, produzidas pelas raças Merino e Ideal, as lãs médias e grossas estão sem comercialização, ou seja, a maior parte da produção de lã gaúcha está estocada nas cooperativas e barracas aguardando saída. A partir da pandemia, o maior comprador mundial de lã, a China, parou de comprar. Outros países da Europa compras as lãs mais finas e manufaturadas como vendem o Uruguai e a Argentina, por exemplo.

As alternativas de comercialização estão sendo buscadas, podemos citar o Programa de Certificação de Lã Gaúcha da Arco que com comparsas de esquila certificadas e qualificadas para a correta colheita de lã, com melhor qualidade já conseguiu vender algumas toneladas para o Uruguai com o preço um pouco melhor, lãs finas e médias.

Outra expectativa é a abertura de uma nova indústria de lavagem de lã em Santana do Livramento que poderá desafogar um pouco mais a lã suja que está estocada. Então, acredito que o caminho está na qualificação da colheita da lã, com certificação e a busca de começarmos a vender mais lã processada, ao invés de somente a lã suja.

 Outra questão é a divulgação da lã ovina, suas qualidades e inúmeras utilidades no mercado interno que é pouco explorado. Há muito desconhecimento da população brasileira sobre a lã e a ovinocultura. A gente consome aquilo que conhece, então é preciso trabalhar esse potencial.”…

 

Quais os destinos que podem ser dado para a lã ovina?

…”Além do destino têxtil de fios, tecidos e vestuário, a lã pode ser usada em objetos de decoração, em estofamentos de veículos e aviões (não é inflamável) como isolante térmico e acústico,  entre paredes ou coberturas, e existem algumas pesquisas para incorporação em concreto para diminuir a ocorrência de rachaduras em paredes, como adubo orgânico (restos de lãs que não vão para a indústria), como substratos de hortaliças, entre outros.

Escritora

Márcia Ximenes Nunes

Post Author: Márcia Ximenes Nunes

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