FLORESTAS EM PÉ E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: É POSSÍVEL CONCILIAR?

Por Beatriz Costa, Editora-Chefe.

Enquanto os impactos da crise climática se intensificam e as fronteiras do agronegócio avançam sobre áreas sensíveis da Amazônia e de outros biomas brasileiros, uma pergunta central ecoa entre ambientalistas, gestores públicos e empresários: é possível promover o desenvolvimento econômico mantendo as florestas em pé?

A resposta, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, é sim — mas exige vontade política, inovação tecnológica e um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e regenerativo.

A visão da ciência

Para a bióloga e doutora em ecologia Dra. Márcia Farias, da Universidade Federal do Pará (UFPA), conservar a floresta não significa frear o progresso: “Pelo contrário. A Amazônia, por exemplo, possui uma biodiversidade imensa, com potencial para a bioeconomia, turismo ecológico e serviços ambientais. Estamos falando de riqueza, não de atraso.”

Segundo ela, as florestas fornecem serviços ecossistêmicos vitais, como regulação climática, conservação de água e proteção da biodiversidade. “Quando destruímos a floresta, não estamos apenas perdendo árvores, estamos colocando em risco nosso futuro econômico.”

Economia verde: lucro e conservação

O economista ambiental Eduardo Menezes, pesquisador do Instituto Clima e Sociedade (iCS), defende que o Brasil pode ser protagonista em uma nova matriz econômica: “Hoje, há um mercado global em expansão que valoriza produtos sustentáveis, créditos de carbono, cadeias de produção rastreáveis. Investir em floresta em pé é estratégico.”

Ele destaca que diversos municípios amazônicos que apostaram na regularização fundiária, no manejo florestal comunitário e em cadeias sustentáveis de valor – como o açaí, a castanha-do-pará e o cacau nativo – têm colhido resultados positivos.

“É uma equação complexa, mas viável. O problema é que ainda temos uma mentalidade extrativista, que precisa ser superada”, analisa.

A luta do ativismo

Já para a ativista indígena Sônia Aruê, do povo Kayapó e membro da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a chave para esse equilíbrio está na valorização dos povos tradicionais.

“Somos os verdadeiros guardiões da floresta. Nossos territórios têm os menores índices de desmatamento, e nossas práticas sustentáveis existem há séculos”, afirma. “Desenvolvimento não é só asfalto e soja. É também respeito à vida, à cultura e aos saberes ancestrais.”

Sônia alerta que muitos projetos de ‘desenvolvimento sustentável’ excluem as comunidades locais ou não garantem sua autonomia. “Não pode haver sustentabilidade sem justiça social.”

Iniciativas de sucesso

No município de Belterra (PA), a cooperativa de agricultores extrativistas Copabase tem mostrado que a união entre produção e conservação é possível. Com apoio de ONGs e de políticas públicas, os cooperados extraem óleos vegetais e cultivam produtos florestais não madeireiros com técnicas agroecológicas.

O resultado? Renda familiar ampliada, florestas preservadas e jovens que antes migravam para centros urbanos agora veem futuro em suas comunidades.

Caminhos possíveis

Apesar dos avanços, os desafios persistem. A falta de investimento, a precariedade da infraestrutura, a grilagem de terras e o desmonte de órgãos de fiscalização ainda são obstáculos.

Para o geógrafo e pesquisador do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Dr. André Vianna, é preciso integrar políticas públicas, mercado e sociedade civil: “A floresta pode ser um ativo econômico poderoso, desde que seu uso esteja baseado em ciência, inclusão social e governança participativa.”

Manter as florestas em pé não é apenas uma necessidade ecológica, mas uma oportunidade estratégica para o Brasil. O desafio é mudar o paradigma: deixar de ver a floresta como obstáculo e passar a vê-la como parte da solução.

O futuro do desenvolvimento sustentável no país depende da coragem de apostar em modelos que valorizem a vida, respeitem os povos originários e rompam com práticas predatórias do passado. Afinal, como disse a ativista Sônia Aruê, “não existe economia saudável em um planeta doente.”

Post Author: Beatriz Costa

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