Evento virtual reúne técnicos do Brasil, China e Equador para trocar experiências sobre assistência técnica digital

Os principais desafios e oportunidades da a utilização de tecnologias digitais em serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) foram debatidos na última quinta-feira (22) durante o Fórum Brasil, que reuniu profissionais do Brasil, China e Equador. Os participantes apresentaram modelos e experiências bem-sucedidas que utilizam tecnologias digitais nos serviços assistência técnica e debateram a utilização dos canais digitais como ferramenta de promoção e comercialização de produtos e serviços da agricultura familiar.

O evento virtual foi realizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil (Mapa), a Rede Latino-Americana de Serviços de Extensão (Relaser), a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

O secretário de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil, Fernando Schwanke, fez a mediação do encontro falou sobre a Ater no Brasil. Ele lembrou que o acesso aos serviços de Ater varia consideravelmente de acordo com a região: 48,9% no Sul, 24,5% no Sudeste, 16,4% no Centro-Oeste, 8,8% no Norte e 7,3% no Nordeste.

“Isso mostra o desafio que temos de ampliar a base de atendimento aos agricultores em todo o território federal. Por isso, em 2020, lançamos o programa Ater Digital, com o principal objetivo de fazer a governança do que está acontecendo no Brasil no âmbito da Ater, organizando as informações, compartilhando os conhecimentos, promovendo a inovação e capacitando profissionais”, afirmou o secretário.

Outra ação que ganhou destaque foi a parceria do Mapa com o IICA na implementação serviços de consultoria agrícola digital a agricultores familiares do Nordeste do Brasil. O Nordeste foi a região escolhida para a primeira fase do projeto, que deverá atender 100 mil pequenos produtores rurais, entre eles criadores de caprinos e ovinos, forte atividade econômica na região, e produtores de milho e de variedades locais de feijão.

O agricultor familiar atendido pelo projeto receberá informações de extensão rural por meio de mensagens de celular, duas vezes por semana. Com linguagem simples, ele terá acesso a dados meteorológicos, técnicas de plantio, manejo das culturas, informações sanitárias e rendimento das colheitas. 

Plataforma digital 

A especialista da Unidade de Implementação do Processo de Reforma Institucional do Ministério da Agricultura e Pecuária do Equador, Lorena Torres, e o diretor de Desenvolvimento e Implementação de TI do órgão, Maurício Chasi, apresentaram a Hackatón Ecuador, uma plataforma desenvolvida para promover a comercialização de produtos da agricultura familiar. 

“A iniciativa foi motivada pela aparição da Covid-19, que provocou graves problemas na comercialização local e internacional da agricultura, atingindo, principalmente, os pequenos produtores, que se viram obrigados a buscar novos mercados para vender os seus produtos”, explicou Lorena Torres. 

Rodadas de negócio 

O Oficial de Comércio e Sistemas Agroalimentares da FAO Mesoamérica, Pablo Rabczuk, falou sobre a utilização de espaços virtuais para a realização de rodadas de negócios e como essa ação pode criar oportunidades para os pequenos produtores. 

“Antes da pandemia, essa já era uma alternativa inovadora. Agora, com a pandemia, esta é a alternativa para aproximar produtores e compradores e para gerar oportunidade comerciais também”, disse Rabczuk. 

As rodadas de negócios são pontos de encontro e permitem que os empreendimentos rurais estabeleçam contatos comerciais com potenciais sócios estratégicos, clientes e fornecedores, por meio de reuniões virtuais, organizadas com participantes em qualquer lugar do mundo, usando um celular ou computador com internet. 

Em 2020, a partir de articulação entre a FAO, o IICA e a Secretaria de Integração Econômica da América Central (Sieca), aconteceram duas séries de rodadas de negócios virtuais para o setor agroalimentar, no âmbito das agendas e planos de recuperação econômica diante da pandemia. 

“Ao todo, participaram 948 empreendimentos da agricultura familiar e empresas compradoras. Foram realizadas 1.549 reuniões. E o resultado foram intenções de negócios que somam praticamente 16 milhões de dólares. Essa iniciativa contou com participação de empresas de 23 países da América Latina, Caribe, Europa e Ásia”, destacou Pablo Rabczuk. 

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E-commerce

O desenvolvimento de mercados digitais de comercialização de produtos agrícolas e a experiência e-commerce na China foram temas abordados pelo assessor sênior de Relações Públicas do Alibaba Group, Wei Liu. 

Para oferecer soluções digitais rurais, o Grupo tem uma estrutura de serviços variados. “Temos um ótimo sistema de delivery, com mais de 3 milhões de motoqueiros registrados e distribuídos por toda a China. Também possuímos agências de turismos para as áreas rurais. No cenário educacional, nós temos a universidade da Alibaba e outros institutos e centros de treinamento, além de um grupo que oferece serviços financeiros para os produtores”, explicou o assessor. 

Wei Liu compartilhou o exemplo de produtores do condado de Luochuan, localizado no Norte da província de Shaanxi, na China, uma região produtora de maçãs. “Nos últimos anos, a produção caiu, pois eles não conseguiam vender seus produtos. Fizemos uma pesquisa com os consumidores e descobrimos que eles não achavam as maçãs saborosas. Realizamos uma pesquisa técnica e o problema não estava no tipo de maçã, mas na padronização. Implantamos um padrão para o plantio e, por meio das soluções digitais, conseguimos nos comunicar com os agricultores que estão economizando adubo, recursos hídricos e tendo um melhor resultado”. 

Comunicação Online 

O assessor técnico da Central do Cerrado para Comercialização, Gestão de Projetos e Acesso a Políticas Públicas, Alexandre Lage, apresentou a experiência da cooperativa em comercialização online. “O primeiro site foi criado em 2010, mas o comércio online na época era pouco efetivo, pelo menos no que diz respeito aos produtos da agricultura familiar. Ao longo dos anos, a cooperativa também enfrentou dificuldade na manutenção, na atualização de informações e, com o surgimento de novas plataformas, o nosso site ficou um pouco desatualizado”, lembrou Lage. 

A equipe da Central do Cerrado percebeu, então, a necessidade de realizar uma ampla reformulação na sua comunicação online. A reformulação do site da cooperativa foi iniciada em 2019. Em 2020, o processo foi acelerado devido à pandemia. “À medida que a loja virtual começou a funcionar, a gente se deparou com processos que precisavam ser feitos dentro da cooperativa. Assim como toda loja, precisa ter um fluxo de atendimento aos clientes e de montagem de pedidos, precisa desenhar toda uma operação logística”, explicou o assessor técnico. 

Como benefício para os agricultores familiares e seus empreendimentos, o site se tornou mais um canal de comercialização, que abrange todo o território nacional, e também um meio para difundir informações sobre os empreendimentos familiares e seus produtos. 

Comercialização 

A palestra “Experiência prática de comercialização – do saco amarrada ao código de barras” encerrou a programação do Fórum Brasil. O técnico da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR/BA), Egnaldo Xavier, disse que existem aspectos visíveis e invisíveis da comercialização: a exposição dos produtos, embalagem, divulgação e forma de pagamento são pontos que sempre recebem atenção, enquanto o armazenamento, o planejamento, a gestão, o processamento, a logística e a negociação ficam invisíveis. 

“Da porteira para dentro o assessoramento técnico é muito importante, mas o fortalecimento dessas organizações para acessar mercados, nas suas diferentes modalidades, também é importante. É aí que entra a questão do assessoramento técnico especializado”, ressaltou.  

A presidente da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), Denise Cardoso, falou sobre a rede de comercialização da cooperativa. Fundada em 2004, na Bahia, a partir da união de 44 agricultoras, que desejavam organizar a produção e comercialização, hoje, a cooperativa possui 271 cooperados e tem capacidade para produzir, anualmente, 800 toneladas de doces. O carro-chefe é o doce feito de umbu. 

Os produtos são comercializados em 17 cidades do Brasil e também exportados para Alemanha e França. “Temos parceria junto à Central da Caatinga para essa comercialização. A Coopercuc está em várias redes e espalhada pelo Brasil. Hoje, somos referência em torno dessa questão da representação a partir de frutas nativas da Caatinga. Isso é bastante importante para os nossos cooperados e para a nossa ação de cooperativismo aqui na Bahia”, afirmou Denise Cardoso. 

O apoio na comercialização da base produtiva é um dos focos da Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga (Central da Caatinga). O diretor-presidente, Adilson do Santos, explicou que o trabalho envolve a identificação de oportunidades de negócios e clientes para os filiados, apoio na logística de distribuição e outros aspectos. 

“Também apoiamos a operação direta de comercialização dos produtos em redes de supermercados, lojas físicas e mercados institucionais. São estratégias que utilizamos para realizar a comercialização dos produtos”, destacou o presidente da Central. 

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa

Fotos: Reprodução

Post Author: Agro Floresta

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