EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA: NEGÓCIOS QUE COMBATEM A CRISE CLIMÁTICA

Por Beatriz Costa, Editora-Chefe

Em um dos biomas mais ricos do planeta, onde a biodiversidade encontra a sabedoria ancestral de povos tradicionais, está emergindo um novo modelo de desenvolvimento. Cada vez mais, startups e cooperativas da Amazônia têm mostrado que é possível gerar renda, conservar a floresta e combater a crise climática ao mesmo tempo.

São negócios de impacto socioambiental que fazem parte da chamada bioeconomia amazônica, setor em expansão que combina ciência, tecnologia, inclusão social e uso sustentável dos recursos naturais.

Startups com DNA amazônico

Um exemplo de inovação sustentável é a Muda Meu Mundo Amazônia, startup criada em Manaus que conecta agricultores agroecológicos de comunidades ribeirinhas a consumidores urbanos por meio de uma plataforma digital.

“A gente facilita o escoamento da produção de forma justa, valorizando quem planta sem agrotóxico e mantendo a floresta em pé”, explica a fundadora Camila Ramos. Em três anos, a iniciativa já atendeu mais de 200 famílias agricultoras e evitou o desmatamento indireto de cerca de 500 hectares.

Outra iniciativa promissora é a Biozer da Amazônia, com sede em Belém. A empresa desenvolve cosméticos naturais à base de óleos vegetais extraídos de espécies amazônicas, como o andiroba, o murumuru e o tucumã. Toda a cadeia é rastreada, da floresta ao consumidor.

“Nosso modelo de negócios inclui parcerias com cooperativas extrativistas e comunidades indígenas, que recebem pagamento justo e capacitação técnica”, afirma o CEO Rafael Monteiro. “Além de combater a mudança climática, promovemos geração de renda e protagonismo local.”

Cooperativas que fortalecem territórios

No interior do Amazonas, a Cooperativa de Mulheres Agroextrativistas de Tefé (COOMATEF) vem se destacando por sua atuação na produção de polpas de frutas nativas como cupuaçu, açaí e camu-camu, e também no aproveitamento de resíduos para produção de biofertilizantes.

“Tudo que fazemos é pensado para não gerar impacto negativo. Nossa força está no coletivo e no respeito à natureza”, conta Dona Iraci Lima, uma das fundadoras da cooperativa, que já exportou produtos para feiras na Europa.

Em Santarém (PA), a Cooperabac trabalha com o manejo sustentável do açaí e da castanha-do-pará. Os cooperados, em sua maioria quilombolas e ribeirinhos, utilizam técnicas tradicionais combinadas com inovações de baixo impacto ambiental.

Segundo o presidente da cooperativa, Antônio Silva, os resultados são claros: “Com a floresta em pé, temos mais frutos, mais água limpa e mais dignidade. Estamos mostrando que o futuro está aqui.”

Apoio e desafios

Apesar dos avanços, os empreendedores amazônicos ainda enfrentam desafios como acesso a crédito, internet de qualidade nas áreas remotas, infraestrutura precária e burocracia para regularização ambiental.

Para a pesquisadora Lívia Rocha, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), falta uma política pública robusta de fomento à bioeconomia: “Esses negócios são a chave para uma economia de baixo carbono e adaptada ao século XXI, mas ainda recebem pouco investimento.”

Em 2023, o lançamento do Fundo Amazônia+Bioeconomia, uma iniciativa conjunta entre BNDES e agências internacionais, reacendeu esperanças de fortalecimento do ecossistema de inovação verde na região.

As histórias dessas startups e cooperativas revelam um caminho viável — e urgente — para o desenvolvimento da Amazônia: um empreendedorismo sustentável, enraizado no território e na cultura local, que gera impacto social positivo e contribui diretamente para o combate à crise climática.

Enquanto o mundo discute o futuro do planeta, na floresta amazônica, esse futuro já começou — e ele é verde, comunitário e inovador.

Post Author: Beatriz Costa

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *