Sessenta e sete jornais deixaram de circular na Venezuela desde 2013 e, pelo menos 25 deles fecharam. O governo realizou mais de 150 ações de censura à Rádios e suspendeu o sinal de 10 estações de televisão estrangeiras
Faz anos que a imprensa venezuelana não tem motivos para comemorar, mas neste sábado (27 de junho) é o Dia do Jornalista no meu país. Nós, jornalistas somos considerados inimigos pela ditadura de Nicolas Maduro e, muitos estamos no exílio por defender a democracia e a liberdade de expressão na Venezuela e por não se submeter ao desastre econômico.
È um grande desafio ser jornalista na Venezuela. Carreira da qual me orgulho e amo com paixão. Além de enfrentar a censura do governo de Maduro para deixar registro das atrocidades do regime socialista, tem que ser superados obstáculos como a falta de internet e a conectividade restrita a 1,1 megabit por segundo; ou a falta de energia, que deixam os profissionais sem condições para divulgar as informações. Agora, até a mobilidade diária está complicada, pela falta de gasolina para realizar o trabalho.
Neste momento, a indústria jornalística da Venezuela está atingida, não apenas pelas restrições através de medidas governamentais, mas da situação econômica. Relatórios divulgados por fontes de credibilidade mostram um panorama sombrio para os meios de comunicação venezuelanos e estrangeiros.
De acordo com o Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS), nos primeiros cinco meses do ano foram fechadas 42 rádios, em sete estados. Em muitos casos, eram emissoras de regiões rurais.
O governo venezuelano já bloqueia domínios de vários veículos investigativos, tirou do ar veículos que considera críticos, que são as televisões estrangeiras, e vários programas de rádio foram fechados, que eram alguns que sobravam como refúgio para divulgar informações.
Eu passei pelo desmonte dos veículos de comunicação em meu País. Trabalhei no jornal El Nacional que chegou a fazer 75 anos. Foi o último jornal independente e referencia como escola de muitos profissionais. El Nacional faliu pela pressão governamental e ausência de publicidade, ficou sem dinheiro para importar o papel e a tinta, que não se produz na Venezuela e, sem condições para pagar um salário razoável para os jornalistas, teve que demitir em massa, por falta de capital.
O rádio e a televisão não escaparam ilesos dessas medidas arbitrárias, desde 2005, a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) realizou cerca de 150 ações de censura e suspendeu o sinal de 10 estações de televisão estrangeiras.
Restrições de acesso à Internet
Desde que o Decreto do Estado de Alarme na Venezuela foi anunciado em 13 de março de 2020, devido à emergência sanitária gerada pela pandemia do COVID-19, as restrições ao acesso à Internet aumentaram, devido à precariedade dos serviços e pela falta de energia em todas as regiões; além de bloqueios e ataques a plataformas de mídia e profissionais da imprensa.
Somente entre janeiro e abril de 2020, o IPYS Venezuelo registrou 98 casos de violações online. Esse número mostra a exacerbação desses incidentes quando comparado aos dados de 2019, no mesmo período, quando foram contados 58 casos.
Este ano, essa organização realizou uma série de medições que avaliaram as dificuldades de acesso às informações de interesse público em 26 portais informativos e em páginas da web dedicadas à cobertura de dados sobre o Coronavírus; a partir das conexões de provedores públicos e privados, Cantv, Digitel e Movistar.
Também foram realizados testes para determinar a velocidade da internet em 16 estados do país. A conclusão, foi que “a velocidade da internet na Venezuela continua a enfraquecer e prejudicar as liberdades de informação dos cidadãos”.
De acordo com os 215 testes coletados e analisados por essa organização, a velocidade média de navegação na internet da Venezuela durante março e abril de 2020, a partir de serviços de rede fixa, foi de 1,1 megabit por segundo (MPs). Este número reflete que a situação da conectividade no país continua se deteriorando.
As dificuldades aos espaços informativos na internet estão se tornando mais frequentes. Isso ocorre em um país, onde o fornecimento de informações da mídia tradicional é cada vez mais escasso, devido à pressão do governo e à crise política e econômica.
Exercer o jornalismo é um grande desafio na Venezuela, mas também é como essa informação é divulgada para todos os cidadãos. A nação bolivariana, é uma ditadura socialista, de inspiração cubana.
Texto Dulce Maria Rodriguez
Foto: Arquivo