Foram realizados 102 encontros em 91 municípios de 19 estados para levantar e validar os dados de cinco regiões do Brasil em 22 culturas
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou o 6° Seminário Nacional do Projeto Campo Futuro, que detalhou os resultados dos levantamentos dos custos de produção realizados em 2020 para grãos, cana-de-açúcar, frutas e hortaliças, café, pecuária de corte, pecuária de leite, aves e suínos.
Foram realizados 102 encontros em 91 municípios de 19 estados para levantar e validar os dados de produção das cinco regiões do Brasil em 22 culturas.
O Campo Futuro é uma iniciativa do Sistema CNA/Senar feita em parceria com universidades e centros de pesquisa para levantamento do custo de produção das atividades agropecuárias. O projeto alia a capacitação do produtor à geração de informação para a administração de custos, de riscos de preços e gerenciamento da produção.
Para o presidente da entidade, João Martins, é cada vez mais fundamental que os produtores tenham informação de qualidade para uma gestão eficiente da propriedade rural. “Apesar da peculiaridade de cada caso, afirmamos a importância do produtor ter a gestão da atividade na palma de sua mão, tanto para reduzir os impactos de crises como essa quanto para aumentar seus ganhos em conjunturas atípicas de mercado, como as ocorridas para alguns setores do agro em 2020”, afirmou.
GRÃOS
Os especialistas fizeram um panorama sobre os custos de produção na safra 2019/2020 e discutiram qual o reflexo financeiro disso para as culturas da soja, milho, trigo e arroz na próxima safra.
O pesquisador do Cepea, Mauro Osaki, apresentou os resultados dos custos de produção de soja, milho (primeira e segunda safras) e feijão levantados em 30 regiões do País.
O especialista dividiu as culturas em três grupos, sendo baixo, médio e alto desempenho, levando em consideração os fatores climáticos que levaram à quebra da safra, além dos fertilizantes, defensivos e sementes, insumos que segundo ele, contribuíram para o aumento do custo de produção dessas culturas.
SOJA
“Na soja, o custo da terra, que é variável, é muito importante porque tem aumentado bastante o arrendamento e isso eleva o custo de oportunidade do produtor, que precisa ser mais eficiente para continuar produzindo”.
Em relação aos mecanismos de venda, na safra 19/20, Osaki afirmou que 50% da produção foi vendida antecipadamente por barter (troca) ou venda antecipada. “Além disso, boa tarde dos produtores fez venda na colheita e poucas regiões conseguiram aproveitar bons preços”.
MILHO
O pesquisador dividiu os dados da cultura do milho em verão e segunda safra. Em relação ao milho verão, ele destacou que a produção apresentou um padrão altíssimo, com regiões produzindo acima de 12 toneladas/ha. “Com a rentabilidade, de modo geral, todo mundo conseguiu pagar seu custo operacional efetivo. Tivemos bom preço e boa produtividade”.
O milho segunda safra também teve uma produtividade muito boa, com 50% da produção já comprometida por venda antecipada. “Esse é um milho importante principalmente para o segmento de carnes. Porém, esse milho não estará disponível no mercado interno. Isso é um sinal de que precisamos melhorar as ferramentas de proteção de preço para o setor de aves e suínos que são os principais demandantes.”
ARROZ
Segundo Mauro Osaki, o arroz irrigado, por sua vez, é um setor que vem apanhando nos últimos anos, com rentabilidade negativa. Ele argumentou que o setor sofre mais que o da soja, porque trabalha com mercado doméstico. “O preço se forma em dólar, mas vende para o mercado doméstico em reais. Fora os custos de produção com fertilizantes, defensivos e energia elétrica (aumenta o custo da irrigação).
Apesar disso a safra 2019/2020 foi positiva, com a produção de 173 sacas de 50 kg e a receita bruta pagou todos os custos”.
TRIGO
Sobre o trigo, a produtividade média foi de 50 sacas por hectare nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O principal problema da cultura é a falta ou excesso de chuvas, afirmou.
Exceto a região de Castro (PR), que ultrapassou as 50 sacas/ha, os demais tiveram prejuízo e não conseguiram pagar seus custos totais. “Dificilmente os produtores permanecem na atividade. Podem permanecer para fazer rotação de defensivos, por exemplo, mas não para ganhar dinheiro”, disse.
Fábio Meneghin, da Agroconsult, apresentou uma análise dos custos e margens para soja e milho. Segundo ele, o principal vilão dos custos de produção foram os defensivos devido à taxa de câmbio. A rentabilidade da soja esperada na safra 2020/2021 é um aumento de 1,5 milhão de hectares com potencial de 134 milhões de toneladas, uma média de 58 sacas/ha. “Há uma demanda de 15 milhões de toneladas puxada principalmente pela recuperação do setor de suínos na China”.
Em relação ao milho, Meneghin ressaltou que o de segunda safra, com margem de aproximadamente R$ 2 mil por hectare é muito bom para o produtor. “Estimula a busca por tecnologia e mais produtividade.”
A estimativa de produção para o ano que vem é de quase 111 milhões de toneladas e uma demanda também de quase 111 milhões de toneladas, que surge da nova indústria de etanol de milho, além da indústria de proteína animal e para exportação.
Pecuária de corte
O setor vive um momento positivo, mas a boa gestão da atividade garante melhores índices de produção e uma proteína de qualidade. “Precisamos trazer a tecnologia de precisão para a nossa pecuária e tratar nossas pastagens e genética de maneira diferente. O pasto é a lavoura que alimenta o gado brasileiro de alta genética”, afirmou o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antônio Pitangui de Salvo.
O dirigente disse que o cenário para a carne bovina brasileira é favorável em longo prazo e que o Brasil continuará sendo o principal player no mercado. “No próximo ano devemos observar uma grande mudança nos hábitos de compra e consumo de proteína animal. Para o produtor, o maior desafio é a gestão, pois pode haver redução das margens”.
Texto com informação da Assessoria.
Fotos: Reprodução