COP30 em Belém: o que está em jogo para o Brasil nas negociações climáticas internacionais?

Por Beatriz Costa

Com a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), o Brasil assume um papel de destaque nas negociações climáticas globais. Mais do que anfitrião, o país estará no centro das discussões que definirão os próximos passos no enfrentamento da crise climática. Mas afinal, o que está em jogo para o Brasil nessa conferência?

Um palco global no coração da Amazônia

A escolha de Belém para sediar a COP30 não é apenas simbólica: ela representa o reconhecimento da importância da Amazônia como bioma estratégico na regulação do clima mundial. O Brasil tem a oportunidade de demonstrar liderança climática a partir do território amazônico, destacando soluções baseadas na floresta em pé, no conhecimento dos povos tradicionais e na transição para uma economia de baixo carbono.

As metas brasileiras e o desafio da credibilidade

O Brasil se comprometeu, no Acordo de Paris, a reduzir em 48,4% suas emissões de gases de efeito estufa até 2025, em relação aos níveis de 2005, e alcançar a neutralidade climática até 2050. Contudo, especialistas apontam que os retrocessos ambientais nos últimos anos e o aumento do desmatamento colocaram o país em uma posição delicada.

Com a nova gestão federal reforçando o discurso ambiental e reposicionando o Brasil no cenário internacional, a COP30 será o teste definitivo da coerência entre discurso e prática. O governo precisará apresentar resultados concretos no combate ao desmatamento ilegal, avanço da bioeconomia e investimentos em energias limpas.

Diplomacia verde: reconstruindo pontes

A presença do Brasil na COP30 não se limita às negociações ambientais. O evento também representa uma oportunidade de reposicionar o país como liderança diplomática no Sul Global. Ao lado de outras nações latino-americanas, africanas e asiáticas, o Brasil deve reforçar a cobrança por financiamento climático justo, especialmente para países em desenvolvimento que sofrem com os impactos da mudança do clima, mas têm menor responsabilidade histórica.

O Itamaraty tem atuado para articular posições conjuntas no G77+China e defender mecanismos como o Fundo de Perdas e Danos, aprovado na COP27, mas ainda pouco operacionalizado. Além disso, será fundamental que o Brasil apoie a criação de mecanismos de mercado mais justos e transparentes para o comércio de créditos de carbono.

Expectativas da sociedade civil

A realização da COP30 no Brasil também despertou uma forte mobilização da sociedade civil, que exige participação ativa nas decisões e representação nos espaços oficiais da conferência. Indígenas, quilombolas, jovens e lideranças comunitárias têm cobrado do governo federal e da ONU estruturas mais inclusivas e transparentes.

Organizações esperam que a COP30 deixe como legado não apenas promessas, mas também investimentos concretos em educação climática, proteção de territórios e estímulo a economias sustentáveis.

Um divisor de águas

A COP30 será, portanto, um divisor de águas. Para o Brasil, é a chance de recuperar sua imagem internacional, liderar com exemplo e colocar a Amazônia no centro das soluções para a crise climática. Para o mundo, será um momento decisivo de cobrança de compromissos, negociação de metas mais ambiciosas e fortalecimento da cooperação global.

O sucesso da conferência dependerá da capacidade do Brasil de articular interesses diversos, ouvir vozes plurais e, acima de tudo, provar que é possível crescer protegendo o meio ambiente — com justiça social, equidade e visão de futuro.

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