Na luta pela preservação da Amazônia tem muitas pessoas. Eles são os guardiões da floresta
Além do desmatamento descontrolado, das queimadas e da urgente necessidade de demarcação dos territórios dos povos originários, é preciso cuidar de toda sua gente. Aqui, mostramos 11 guardiões da floresta que fazem de cada uma destas batalhas uma missão de vida:
EDILISE COSTA
“Diva da Floresta é toda e qualquer mulher que queira ajudar outra na Amazônia”, diz Edilise Costa, manaura de 40 anos, ao definir o grupo criado em outubro de 2019 que atua prestando assistência às famílias ribeirinhas em situação de vulnerabilidade social e mulheres vítimas de abandono e violência doméstica que vivem às margens da BR-319, que liga Rondônia ao Amazonas.
Formada em Serviço Social e pós-graduada em Gestão Pública, Edilise conta que o início do coletivo se deu quando uma amiga lhe pediu ajuda para acolher uma mulher que havia sido vítima de agressão.
“Nós a levamos até a delegacia e, depois, a encaminhamos a uma assistente social. Daquele dia em diante, nunca mais a deixamos sozinha e ajudamos a transformar sua vida”, lembra.
“Foi ali que percebi que poderia ajudar outras mulheres.” A seu lado, Edilise tem hoje um grupo de 40 voluntárias espalhadas por Manaus e mais quatro comunidades próximas que passaram por um curso de capacitação em empoderamento feminino oferecido pelo projeto Empoderar, da UFAM – Universidade Federal do Amazonas. O grupo, que começou em uma roda de conversa em frente à ONG Casa do Rio, promove debates, discute alternativas e troca de informações para ajudar no combate à violência – só nos últimos quatro meses, foram mais de 80 mulheres assistidas.
“Se uma ação ajudou a resolver um problema, compartilhamos os resultados”, explica.
“O fato de estarmos sempre próximas também facilita: se uma não está disponível, outra pode prestar atendimento em seu lugar.” Entre os planos para o futuro, estão a criação de um aplicativo para denunciar agressões e transformar o coletivo em um órgão oficial.
“Assim, conseguiremos brigar por políticas públicas que atendam às nossas demandas”, explica. “Nosso sonho é ajudar mais mulheres para que elas possam estudar, trabalhar e se empoderar cada vez mais.”
MARCIA NOVO
Em maio último, em pleno avanço da pandemia da Covid-19 no Norte do País, a cantora amazonense Marcia Novo, 32 anos, foi surpreendida com a mensagem de uma amiga da aldeia Inhãa-Bé, na zona rural de Manaus. O pedido era de socorro, já que várias famílias da comunidade estavam passando fome.
Marcia agilizou doações de cestas básicas, mas, vendo que seriam insuficientes, organizou uma vaquinha informal, com o auxílio de amigos e a mobilização de seus fãs pelo Instagram.
A movimentação deu origem à campanha @vidasindigenasimportam, que fornece alimentos, máscaras, kits de higiene e remédios para as comunidades de Manaus e que, em cinco meses, conseguiu ajudar mais de 1.500 famílias e um total de 4.000 pessoas.
O projeto escancarou vários problemas das populações indígenas, que, além da falta de estrutura básica de saúde, precisam lidar com a ausência de assistência social. “A situação é pior para os que vivem em contexto urbano,que são privados de ter atendimento especial nos hospitais da região por não serem considerados indígenas”, revela.
Com uma carreira que já soma 17 anos, Marcia conta que seu lado ativista pela Amazônia já existia, mas a atenção à causa indígena ficou mais aflorada coma pandemia.
E uma das maneiras de destacar a importância do resgate do orgulho das raízes dos povos originários foi o clipe da música “Réquiem”. Gravado no Teatro Amazonas, o vídeo promove uma ocupação deste espaço – que é um símbolo da colonização europeia – através da dança, rituais e a participação da professora Claudia Baré e da cantora Yra Tikuna.
“Sou muito criticada por ser uma mulher branca levantando uma bandeira que em tese não é minha”, conta a cantora. “Mas acho importante provocar uma reflexão. O índio vem gritando por um espaço que sempre foi dele. Estou aqui apenas para somar esforços e mostrar que, juntos, nós somos a esperança. É isso que faz sentido para mim.”
MILENA KOKAMA
Vice-presidente da Federação Indígena do Povo Kokama, a líder Milena Kokama já nasceu guerreira. Aos 63 anos, ela construiu uma trajetória de resistência, traduzida em constantes batalhas por direitos, território, educação e pela vida. “A luta indígena é cruel, para uma mulher, é ainda mais”, conta ela, via chamada de vídeo, no período em que esteve abrigada em Manaus pela chef Débora Shornik.
Perseguida por grileiros e madeireiros, não conseguia retornar para sua aldeia, no município de Santo Antônio do Içá (AM), no Alto Solimões. Atingidos em cheio pela Covid-19, os Kokama já tinham perdido, àquela altura, 60 vidas para a doença. Isolados, sem luz, TV ou internet, sofriam coma falta de informação e com o descaso do governo federal.
Ex-servidora pública, Milena não consegue trabalhar desde 2018.Manter-se viva e combater o desmanche da Floresta Amazônica tornou- se a sua rotina. “Estão matando a nossa mãe natureza e nós somos os seus guardiões. É uma troca: ela cuida de nós e nós cuidamos dela”, explica, emocionada.
Ainda que vivam em uma sociedade patriarcal, as mulheres indígenas são treinadas para defender seu povo e têm uma voz muito ativa em postos de confiança.
“Os pajés nos ensinam e nos deixam liderar.” Milena ajuda a promover o artesanato local como forma de manter viva a cultura de seu povo, mas diz que os indígenas têm muito mais a ensinar. “Não é a tecnologia que vai salvar o planeta, é a mãe natureza. Sem ela não existe vida. O homem branco tem de entender que nós, indígenas, não somos o problema, somos parte da solução. Precisamos nos unir para preservar o que ainda temos.”
Apesar do cenário difícil, Milena se recusa a baixar a guarda. Incansável, ela quer acreditar no amor e em um País melhor. “Estou viva porque creio que existem pessoas boas que se importam conosco. Preciso ter fé que elas existem em maior número do que as que nos veem como inimigos. Quero resistir. Me recuso a não ter esperança, pois lutar por direitos é lutar pela vida.”
Milena deixa no ar uma pergunta para reflexão: “Que legado você quer deixar para as próximas gerações, o da vida ou o da destruição?”
PAJÉ DURVALINO DESSANA
Assim como em todo o restante do País, a chegada da Covid-19 assustou os moradores de São Miguel da Cachoeira, município com o maior número de indígenas do Brasil e que fica a quatro dias de barco de Manaus, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela.
“No início, achávamos que fosse uma gripe, mas, quando as pessoas começaram a morrer, vimos que era uma doença nova e perigosa”, conta Durvalino Moura Fernandes, pajé do povo Dessana. A herança de curandeiro lhe foi passada pelo pai, que era uma liderança na aldeia.
“Foi ele quem me ensinou os efeitos medicinais das plantas, das ervas e das raízes, além das rezas.” Com a morte dele, Durvalino obedeceu a tradição e assumiu o controle de sua comunidade e até hoje utiliza os ensinamentos. “Onde eu moro, os pajés são considerados médicos e procurados pelos indígenas quando estão machucados ou com algum problema na família, no casamento e em outras áreas da vida.”
Kasybi, como é chamado na língua materna, completa agora 65 anos e é o mais velho de cinco irmãos. Aos 9 anos, foi levado para um internato de missionários onde ficou até os 19, quando desistiu dos estudos e da vida religiosa e se casou com a indígena Judite.
Foi uma complicação no parto do primeiro filho que fez com que ele voltasse a se dedicar à medicina da floresta e virar um pajé–oukumu/kumuã, como são chamados entre os seus. Durvalino também a tua no Bahserikowi ’i Centro de Medicina Indígena , fundado em 2017 e que recebe pessoas do mundo inteiro em busca de cura e remédios feitos por eles.
Para o pajé, estar nas páginas de Vogue é a esperança de que o trabalho dos kumuã seja respeitado. “Os brancos não reconhecem nossas rezas e nossos remédios’’, diz.“Quero que mostrem ao mundo o que está sendo feito aqui, para que valorizem a nós e a nossa cultura.”
RITA TEIXEIRA
Rita Auxiliadora Teixeira, mulher de riso fácil e fala delicada, mas assertiva quando o assunto se refere às suas pares, é um sopro de esperança, e uma de nossas quatro capas do mês. É ela quem acolhe e apoia vítimas de violência doméstica em Capanema, a 165 km de Belém.
Lá, atua como educadora e agente social no Mmnepa – Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense – organização que trabalha incentivando o empoderamento, ensinando conceitos de economia solidária, saúde feminina, encorajando-as a lutar contra a violência doméstica e auxiliando no resgate da autoestima, conquistada por meio da independência financeira.
Através do programa, muitas delas geram renda vinda da produção de hortas orgânicas, costura, produção de mel de abelha, doces e cosméticos à base de frutos e plantas da região. Nascida em Castanhal e criada em Santa Maria, municípios no interior do Pará, desde muito cedo, Rita, 50 anos, participa de ações voluntárias na comunidade de Capanema, onde vive, e que é conhecida pelos altos índices de violência doméstica e vulnerabilidade social.
Seu primeiro desafio na vida foram os estudos, concluídos com dificuldade: a mãe, uma de suas maiores inspirações, vendia galinhas para conseguir comprar o material escolar. Tanto esforço, valeu a pena: Rita foi a primeira professora de formação de adultos na cidade.
Hoje, com a ajuda de doações, assistência médica, social e o apoio de outros voluntários, consegue auxiliar as 600 mulheres atendidas pelo movimento.
Ela é uma das brasileiras que conseguiu vencer a Covid-19 e conta que, depois disso, sua esperança por dias melhores só aumentou, inclusive porque viu que as moradoras da sua comunidade não se abateram diante dos muitos desafios trazidos pela pandemia.
“Apesar de tudo, é bonito ver como as empreendedoras aqui do Pará começaram a produzir muito mais. A doença também despertou a solidariedade”, reflete. Seu maior desejo é que haja mais respeito pelas pessoas e a natureza.“Para mim, a Amazônia ideal seria um lugar onde as etnias e a ancestralidade fossem valorizadas, e o desmatamento e a expulsão de pessoas de suas terras para explorar não acontecessem.”
UÝRA SODOMA
Emerson Munduruku é biólogo, mestre em Ecologia, educador e artista visual. Nasceu, há 29 anos, em Santarém (PA), à beira do rio Tapajós. Aos 5 anos, mudou-se para Manaus com os pais e, de tanto conviver e interagir com a Floresta Amazônica, acabou seguindo seus instintos para escolher a biologia como disciplina de estudo.
“Moro e fui criado na periferia. É onde me sinto de verdade,mas a floresta também é muito especial para mim. Cresci conversando com ela, ainda que inconscientemente”, conta. Seu ativismo pela vida de seu povo e pela “Vovó” – como ele se refere à floresta – encontraram na arte e na entidade Uýra Sodoma uma poderosa plataforma comunicadora.
Alter ego de estética drag, meio bicho, meio planta, a personagem de Emerson defende a vida, humana ou não, através de foto performances – intervenções realizadas e fotografadas em ambientes urbanos – que, assim como o seu ofício de educar jovens ribeirinhos e indígenas do interior do Amazonas, o levam a viajar o ano todo dentro e fora do estado.
A pandemia afetou bastante essa dinâmica, já que cursos e apresentações foram cancelados ou adiados. Turistas também deixaram de chegar às comunidades para gerar renda local através do comércio de artesanato e de outras atividades culturais.
“É um momento que afeta a vida econômica, social e espiritual de todos, mas principalmente dos mais vulneráveis em aldeias indígenas, quilombos e periferias”, lamenta Emerson, que se autodenomina “A Árvore Que Anda”.
Devidamente registradas em seu perfil no Instagram (@uyrasodoma), que tem mais de 16 mil seguidores, as transformações de Emerson e as causas defendidas por ele, além de enaltecerem a cultura indígena, buscam lançar luz também sobre as comunidades pretas e LGBTQIA+.
“Nós, indígenas, costumamos ser humildes, reconhecendo-nos como parte da natureza e não separados ou donos dela”, explica. Viver em comunidade, e não ilhados em bolhas autocentradas como nos grandes polos urbanos, é uma das lições principais.
“Ao invés de corrermos apressados, apagando o ontem para garantir um futuro inexistente, aqui vivemos o presente e respeitamos o passado.” O legado de luta e resiliência ancestral, combustível de força frente aos etnocídios, inspira Emerson e Uýra a agirem: “Seguiremos insistindo em viver”.
DIONÉIA FERREIRA
Uma das maiores vozes em defesa dos povos amazônicos, a líder ativista Dionéia Ferreira é articuladora da Reta (Rede Transdisciplinar da Amazônia), que reúne diferentes nomes da região em ações em torno da construção de um equilíbrio socioambiental e do auxílio à emancipação econômica de mulheres, através da inclusão de novas tecnologias às atividades já exercidas por elas, como artesanato e o manejo sustentável.
“O combate à violência contra mulheres, crianças e adolescentes ou a implementação de uma renda sustentável também são funções da Reta”, explica Dionéia, que nasceu em um seringal situado no município de Humaitá, região do rio Madeira, no sul do Amazonas, há 45 anos.
Formada em Economia pela Universidade Federal, em Manaus, trabalhou por dez anos na Gillette/P&G, onde entrou como estagiária e saiu como analista de remuneração.
Mas foi quando decidiu se dedicar a consultorias socioambientais que realmente encontrou sua vocação. Entre 2010 e 2018, foi gestora do Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC), na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Igapó-Açu, que fica em um trecho da rodovia BR-319. Inaugurada em 1976, a estrada que liga Manaus a Porto Velho (RO) é pouco asfaltada e as comunidades indígenas próximas sofrem com invasões e desmatamento.
Coma pandemia, as reuniões com os colegas das associações comunitárias foram suspensas e encontros em vídeo não são uma opção, já que internet é coisa rara por lá. “O descaso coma política indigenista coloca os locais em situação vulnerável, pois o sistema de saúde é precário e nas aldeias, inexistente”, lamenta.
Mas esmorecer é verbo que não se conjuga ali. “Desejo que indígenas e ribeirinhos consigam manter sua autonomia”, diz. Barrar a destruição de terras e direitos tornou-se a principal missão da ex-economista. “Tenho esperança de que um mundo melhor ainda é possível.”
THIAGO CAVALLI
“A Amazônia foi um chamado”, diz Thiago Cavalli, 42 anos, quando relembra sua chegada, 11 anos atrás. Formado em Artes do Corpo pela PUC -SP, decidiu largar a pauliceia e trocou as milhas acumuladas por anos por uma passagem para o lugar mais longe possível, atrás de um propósito de vida.
Oito horas depois de atravessar os rios Solimões e Negro, rodar 170 km de estrada de terra e navegar de canoa por mais de uma hora, chegou à beira do rio Tupana, no Amazonas. Cercado de água e natureza em estado bruto, veio a epifania: decidiu que ali construiria um lugar para experimentar novas maneiras de existir.
A princípio, a Casa do Rio, uma casinha abandonada à beira de um igarapé, serviu de residência artística. Percebendo as demandas da comunidade, sua varanda transformou-se em uma sala de aula de ensino fundamental para 25 jovens. Em 2014, a ONG foi oficialmente fundada e, de lá para cá, foram inúmeras iniciativas para acolher a cultura do povo da floresta e trabalhar pela autonomia das comunidades dos municípios de Careiro Castanho e Manaus.
“A mulher é um dos focos primordiais da Casa do Rio, incentivamos o empreendedorismo feminino baseado na alimentação, trabalhos manuais e no conhecimento ancestral”, explica Thiago. A organização tem apoio de instituições como a Brazil Foundation, marcas como Cris Barros e da Vogue.
“Hoje, as artesãs têm independência financeira, com 70% de aumento na renda familiar”, diz, orgulhoso.
Atividades com agroecologia, educação, empreendedorismo e o apoio aos vulneráveis durante a pandemia da Covid-19 impactaram até hoje mais de 5.000 pessoas. Novas metas estão no horizonte, como uma movelaria de design com manejo florestal comunitário e uma cozinha-laboratório.
Com uma jornada intensa feita como coração, é fácil imaginar, que, mesmo com dificuldades, Thiago consiga cultivar um sentimento de esperança. “Ela existe, sim. Na compreensão de que somos a própria natureza, e não o centro de tudo.”
EMILLY NUNES
A paraense Emilly Nunes cresceu entre a capital Belém e a paradisíaca Ilha de Marajó. Com ancestrais indígenas na família, a modelo de 21 anos trabalhou como operadora de caixa e vendedora em uma empresa de telefonia até trocar os desfiles com os sapatos da mãe pelas passarelas.
Em ascensão na carreira – ela estampa este mês sua segunda capa de Vogue –, Emilly acompanha atenta a luta do povo amazônico.“O desmatamento deveria ser uma das maiores preocupações do Brasil, pois, além de alterar o ecossistema, envolve impunidade e crimes ambientais”, opina.
Para reverter este processo, Emilly acredita que é preciso um consumo mais consciente de alimentos, priorizando a produção sustentável e causando, assim, o mínimo impacto ao meio ambiente. A modelo se esforça para contribuir com o seu povo, promovendo costumes locais e participando do movimento “Tudo por um Sorriso”, que acontece em Soure, na Ilha de Marajó.
“Fazemos doações de cestas básicas para pessoas vulneráveis, levando, literalmente, um sorriso para quem mais precisa”, explica. Exemplo de perseverança, Emilly acredita que essa é uma característica da população amazônica. “Nossa missão é lutar por um mundo equilibrado, livre de ações devastadoras e do egoísmo.” É comesse pensamento que ela alimenta o desejo de que a floresta seja valorizada com ações concretas. “Esperança, para mim, não é apenas acreditar, mas agir.”
SAMELA SATERÉ
Samela Sateré, de 23 anos, do povo Mawé, é o braço brasileiro do Fridays for Future, movimento criado em 2018 pela estudante sueca Greta Thunberg e cujas principais ações consistem em realizar manifestações como a Greve Global pelo Clima, que aconteceu em 2019 e reuniu mais de 2 milhões de pessoas em várias capitais do mundo.
Como uma jovem conectada e politizada, a estudante de biologia e artesã usa sua conta no Instagram (@sam_sateremawe) para ampliar o alcance de seu ativismo.
“Quando percebi que poderia usar minha imagem como uma forma de influenciar as pessoas a ter mais interesse na proteção do ecossistema e na redução de CO2, entre outras coisas, comecei a agir de forma mais digital”, conta Samela, que faz ações de conscientização ambiental desde a adolescência. “Acredito que ninguém é jovem demais para fazer a diferença.”
Mesmo vivendo no centro de Manaus, ela destaca a importância que o território amazônico tem para os povos originários e faz críticas duras à gestão atual. “Graças a um governo genocida que só visa o lucro, as queimadas estão mais fortes do que nunca, estamos assistindo a um aumento gritante do desmatamento e da mineração, que está acabando com os nossos rios e florestas”, aponta.
“Mostrar ao mundo que todos precisam preservar essas populações, e não apenas explorar o território, é a única maneira de evitar consequências ainda maiores para o ambiente e para a humanidade. Como indígenas, entendemos que fazemos parte da natureza. Além de nosso território, ela é nosso corpo e nosso espírito e, se um dia acabar, nós morreremos junto.”
DÉBORA SHORNIK
Quatro anos depois de desembarcar em Manaus para comandar o restaurante de cozinha amazônica Caxiri, a chef paulistana Débora Shornik encontrou uma maneira de devolver tudo o que aprendeu ali. Junto a mulheres indígenas da comunidade, ela coordena a abertura do Biatuwi-Casa de Quinhapira, um restaurante que funcionará em um casarão nas dependências do Centro de Medicina e Cultura.
A iniciativa conjunta surgiu para gerar renda para a população indígena local, que foi fortemente atingida pela pandemia da Covid-19. “Eles já cultivavam essa ideia, mas, como estavam ficando cada vez mais sem recursos, decidimos partir para a ação”, explica.
Ela já adianta que pretende apenas atualizar as tradições culinárias dos povos tradicionais, valorizando suas técnicas, sabores e saberes. “A ideia é não interferir nas receitas e muito menos ensiná-los a cozinhar. Dou apenas um direcionamento, mostrando, por exemplo, como manipular alimentos em um estabelecimento ou empratar uma refeição, sempre com todo respeito e cuidado do mundo”, afirma ela, que, por anos, foi braço direito de Paola Carosella no Arturito.
O carro-chefe da casa será a Quinhapira, um caldo apimentado à base de água e sal onde são cozidos peixes, e que ganhará uma versão menos condimentada e outra vegetariana – tudo para abrir a possibilidade para que mais pessoas experimentem a iguaria.
Débora vem ensinando a rotina de uma cozinha profissional às duas chefs indígenas que irão comandar o restaurante. Além da comida, outro objetivo da ação é incentivar a produção de insumos usados no local, possibilitando assim geração de renda para as comunidades. “Quero fazer uma retratação da história e combater a desigualdade de oportunidades. Me orgulha fazer parte dessa iniciativa que é não apenas para os indígenas, mas protagonizada por eles.”
Com informações da Revista Vogue
Fotos: Hick Duarte