Luca D’Ambros há 19 anos mora em Maués e foi o primeiro a obter a certificação de produção orgânica de guaraná no município. Atualmente trabalha para inovar no mercado com a produção de um chocolate recheado de guaraná crocante
Em 2002 Luca D’Ambros chegou em Maués/AM e conheceu José Francisco Marques, o “Baiano”, um dos mais tradicionais produtores de guaraná. Dessa forte amizade surgiu a paixão pelo fruto e seus derivados.
Uma década depois o Baiano faleceu e Luca adquiriu a propriedade e continuou as atividades de cultivo, produção e beneficiamento do guaraná.
Luca é italiano, mas se apaixonou pela Amazônia e o guaraná. Depois de alguns anos vendendo a semente torrada para as indústrias de concentrado, como a grande maioria dos pequenos produtores de Maués, percebeu que os valores oferecidos pelas empresas não combinavam com os altos custos produtivos do guaraná tradicional.
Um passo à frente
O empreendedor resolveu investir em uma pequena máquina a vácuo para começar a embalar os primeiros pacotes de pó de alta qualidade, de amêndoas selecionadas, para poder preservar o aroma ao longo do tempo entre uma safra e outra.
Isso permitiu agregar valor ao produto e o guaraná do Luca virou uma referência, porque a qualidade do pó era mantida inalterada por meses como fosse recém moído. Essa embalagem diferenciada e o lançamento do primeiro site, permitiu que vários apreciadores de guaraná em todo o território brasileiro conseguissem ter acesso ao pó de guaraná da mais alta qualidade. Os pedidos foram crescendo, assim como o reconhecimento do produto.
Logo, somente o plantio do Luca não deu conta da demanda de pó, então foi necessário encontrar outros pequenos produtores próximos, mas todos com as mesmas características de qualidade, para aumentar o volume produzido e processado.
Foco no negócio
Hoje Luca é proprietário da empresa D’Amazônia Origens é vice-presidente da Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de Maués (Copermaues) com 38 cooperados, pequenos e micros produtores (alguns com poucas dezenas de kg de sementes produzidas) que participam da comercialização, e todos seguem o sistema tradicional de cultivo.
No Site na Internet https://www.guaranademaues.com.br/ ele explica que o guaraná orgânico de Maués é especial por seu processo de produção. Ele descreve que o guaraná de Maués é torrado a mão em grandes tachos de barro por 8 horas até perder praticamente toda a umidade. Assim adquiri o aroma característico e pode ser moído ultrafino
Além disso os micros e pequenos produtores de Maués não usam agrotóxicos no cultivo de guaraná.
Se a semente for de um fruto ainda não maduro, vai estourar durante a torrefação. Por isso o fruto do guaraná é colhido somente quando a casca vermelha abre e mostra o famoso olho. Tudo rigorosamente a mão.
O pó de guaraná vai perdendo o aroma com a exposição ao ar, por isso eles o embalam a vácuo logo depois da moagem, para que as características organolépticas sejam preservadas.
Certificação de produção orgânica
“Outro fator que nos diferencia é o valor correspondido aos produtores”, disse Luca. Na safra de 2018 a semente torrada foi paga aos produtores entre 50% e 70% a mais que o mercado tradicional (que abastece as indústrias de concentrados e refrigerantes) e chegou em algum caso a 100%.
Primeiro a obter a certificação orgânica no município, ainda em 2018, o produtor Luca D’Ambros ressaltou a qualidade do guaraná local e a necessidade de manter a sustentabilidade da cultura. “A diferença de valor do produto daqui não é simplesmente uma questão de preço. É porque o guaraná de Maués tem toda uma história por trás e é ela que ajuda a dar qualidade técnica, social e ecológica, elevando o seu patamar.”
Para os dois agricultores que receberam a certificação de produção orgânica, o valor chegou ao triplo da média de mercado. Com isso, os produtores estão cada vez mais buscando elevar a qualidade das sementes, para que o padrão de excelência seja mantido.
Há dois anos que eles produzem guaraná certificado orgânico é com todas as notificações da Europa Estados Unidos da América e do Brasil e eles negociaram a venda desse guaraná em grãos com uma empresa de exportação 100% Amazônia que já exporta produtos amazônicos há muito tempo como castanha, óleos, frutas e guaraná.
Essa empresa comprou o guaraná certificado e pediu para a cooperativa fazer o processamento para transformar esse guaraná em grãos em pó, embalar e colocar em caixas e enviar para Manaus.
Neste mês de abril 2020 foram embarcadas 6,4 toneladas de guaraná em pó entregues a exportadora 100% Amazônia e beneficiados pela Cooperativa Agropecuária dos Produtores Rurais de Maués, para a Associação dos Agricultores Familiares do Alto Urupadi (AAFAU).
Ao todo foram comercializados 11.159 kg desde janeiro de 2021, um volume financeiro de mais de R$ 390 mil, que vai para o bolso dos produtores rurais familiares, movimentando a economia local.
“Trata-se de um sucesso que começou há 5 anos com o Sebrae Amazonas, através do Sebraetec, por meio do Projeto de Bioeconomia coordenado pela analista técnica Wanderleia dos Santos Teixeira de Oliveira”, comentou o vice-presidente da Cooperativa, Luca D’Ambros que realizou o processamento orgânico da fruta.
Atualmente o quilo ultrapassa a R$ 32,00 onde a média do mercado não orgânico gira em torno de R$ 15,00 a R$ 16,00, o que evidencia o ganho dos produtores rurais da cadeia orgânica.
Logística em parceria
Em abril de 2018, uma importante parceria foi fechada com uma empresa de logística de São Paulo, para que o Guaraná de Maués possa ser despachado de forma mais rápida e mais barata para as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, facilitou a comercialização.
A empresa recebe os lotes de guaraná já selados e identificados na origem, e procede com a separação, embalagem e despacho toda vez que uma compra é feita pelo site. A Nota Fiscal Eletrônica é emitida e enviada ao cliente que pode acompanhar a entrega através do site da transportadora expresso ou pelos Correios.
Na grande São Paulo acontece de receber o guaraná no dia sucessivo à compra.
Usina de Copermaues
Hoje, o guaraná produzido por Luca e pelos seus vizinhos, é processado na cidade na usina de beneficiamento da Copermaues, onde é descascado, selecionado, moído e embalado a vácuo. A usina conta com máquinas industriais de alto rendimento, e um moinho 100% inox com uma peneira de 2 dízimos de milímetro para produzir um pó extremamente fino e é embalado no máximo em 24 horas da moagem.
A Indicação Geográfica do Guaraná de Maués é realidade! Depois de mais de 10 anos do início do processo no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), nessa safra vários produtores já foram auditados para poder vender guaraná com o selo de Identificação Geográfica (IG). O selo é a garantia de que toda a cadeia produtiva do guaraná destes produtores, em especial, tem certificação e isso garante ao grupo mercado e melhor preço.
Os resultados do Selo, atestando a procedência já está dando resultados. Foram comercializados 11.159 kg desde janeiro de 2021, um volume financeiro de mais de R$ 390 mil, que vai para o bolso dos produtores rurais familiares, movimentando a economia local
Segundo Luca durante o seminário da biodiversidade que foi organizado pelo Sebrae em Maués, no outubro do ano passado, surgiu a ideia da produção de um chocolate usando o cacau de Maués e no interior dele guaraná crocante, produzido, a partir do guaraná processado em pó.
“Estamos na construção desse crocante de guaraná que é totalmente natural. Estamos testando esse guaraná misturado na barra de chocolate. Você morde essa barra de chocolate e sente o crocante do guaraná dentro. Trata-se de uma porção de guaraná em pó muito fino “, disse.
Por Dulce Maria Rodriguez
Fotos: Divulgação