O plano emergencial do Governo do Amazonas no âmbito do setor primário para atender as famílias em vulnerabilidade social, além de garantir a segurança alimentar da comunidade, assegurou a comercialização da agricultura familiar
Em tempos de pandemia pelo Coronavirus a Coordenação da Associação Comunitária Agrícola São Francisco do Caramuri – ACASFC, utilizou como principais ferramentas de comunicação as redes sociais, os grupos de whatsapp e ligações telefônicas para sensibilização dos moradores sobre os cuidados com a saúde.
As orientações embasaram-se no isolamento social, distanciamento mínimo de 02 metros entre as pessoas, uso de mascará, higienização das mãos e dos objetos comercializados; em caso de suspeita o isolamento do indivíduo e a separação dos objetos de uso pessoal.
Para colaborar com o acesso as máscaras alguns moradores confeccionaram voluntariamente dezenas de máscaras para distribuição gratuita na Comunidade. Além do mais, foram e são compartilhados momentos de orações e mensagens motivacionais.
A comunidade discutiu duas linhas de frente para o enfrentamento da Pandemia, sendo a primeira o acesso à assistência de saúde, visto que o cenário das políticas públicas direcionadas a saúde do Estado, há anos está precarizadas.
A comunidade conta, atualmente, com dois agentes comunitários de saúde, um agente comunitário de endemias e o atendimento mensal da Unidade Básica de Saúde Fluvial da SEMSA, em parceria com a Prefeitura de Manaus.
Dessa forma, houve grande preocupação em casos de emergências para eventuais vítimas do covid-19 na comunidade, que não dispõe de serviço do SAMU, contando apenas com veículos particulares; sendo, assim, como ferramenta mais eficaz de prevenção o isolamento social e a higienização das mãos; além das demais orientações dos órgãos de saúde.
Até o momento não houve nenhum caso confirmado na comunidade, porém, a partir do início de abril diversos moradores apresentaram sintomas como: gripe, febre, dor de cabeça, dor no corpo, falta de apetite, perda do paladar e olfato, em alguns casos a falta de ar.
Não surgiram casos graves com necessidade de remoção para hospital de campanha em Manaus. Além do atendimento clínico exclusivo para os casos de síndromes gripais e suspeitas de Covid, em junho retornaram à comunidade, por meio da UBSR Fluvial da SEMSA, profissionais voluntários da saúde que fizeram vídeos de orientações alimentares e exercícios respiratórios, além da divulgação do Acolhimento Psicológico disponibilizado pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA proporcionando aos moradores tranquilidade e garantia da atenção básica.
Economia
O segundo ponto para o enfrentamento da Pandemia pautou-se sobre a situação econômica e a produção agrícola dos moradores de Caramuri. Após o anúncios do Decreto do Governo do Estado sobre cancelamento das atividades públicas, os agricultores bem, como a Diretoria da Associação ficaram preocupados com a elevada produção de abacaxi e outras culturas as quais deveriam fazer parte do Programa de Regionalização da Merenda Escolar – PREME em parceria com a Agencia de Desenvolvimento Sustentável – ADS no ano de 2020.
Contudo, o Governo do Estado do Amazonas por meio do Sistema SEPROR, juntamente com a ADS lançou o plano de contingenciamento para enfretamento da pandemia no âmbito do setor primário referente ao fornecimento de gêneros alimentícios de acordo com a Lei nº 5.161/20, de 02 de abril de 2020 para atender as famílias em vulnerabilidade social e as Instituições Filantrópicas da Capital e Região Metropolitana.
O plano foi de tal impacto positivo que, além de garantir a segurança alimentar para quem necessita, assegurou a comercialização da agricultura familiar das associações e cooperativas credenciadas na ADS.
Mesmo diante de uma realidade difícil e dolorosa para as vítimas da pandemia, os agricultores de Caramuri ressaltam a importância das ações do Governo na área do setor primário garantindo a viabilidade de mercado, agregação de valor e a segurança alimentar, uma vez que, no início tudo parecia obscuro e sem solução para o agricultor, ou seja, a comunidade mesmo em tempos de pandemia continuou o cronograma de produção agrícola.
Com o agravamento dos casos e a disseminação dos vírus na Capital e na Região Metropolitana, a Diretoria da ACASFC resolveu cancelar todas as atividades programadas para 2020 como: Ação de Cidadania Rural realizada anualmente no mês de julho em alusão ao dia do agricultor, o Arraial Amigos de São Francisco realizado tradicionalmente no mês de julho, o Festival de Pesca Esportiva e a Feira da Agricultura Familiar no mês de setembro e o Natal Solidário realizado anualmente no mês de dezembro.
A decisão foi baseada em dois fatores causados pela Pandemia a nível mundial, primeiro a fragilidade da saúde dos moradores da Comunidade e região diante da facilidade de transmissão do vírus; visto que os eventos culturais e as ações de cidadania em Caramuri sempre contou com público expressivo.
O segundo fator implicará nas parcerias públicas uma vez que as ações estão voltadas para o combate a Covid principalmente nos centros urbanos, assim também nos referimos aos patrocínios oriundos do setor privado; uma vez que a economia foi atingida pela crise causada pela Pandemia impossibilitando o acesso as doações necessárias para realização de eventos como o Natal Solidário.
Os Comerciantes locais, mesmo distante da fiscalização fizeram a diferença na Comunidade, seguiram à risca as regras limitando o número de pessoas no estabelecimento comercial com uso obrigatório de máscara.
“Testei positivo para Covid – 2019”
Enquanto isso, Eu Daniel Leandro Presidente da ACASFC sacrifiquei minha rotina semanal na Comunidade, trabalho como Assistente Social na Secretaria de Saúde em Manaus, todos os finais de semana e feriados retornava à comunidade para colaborar nas atividades comunitárias, rever os familiares e amigos; após os primeiros casos confirmados em Manaus cancelei as viagens para evitar um possível contagio do vírus e assim transmitir para os comunitários de Caramuri.
Como profissional da saúde estamos vulneráveis na linha de frente ao contágio pela Covid, o que de fato ocorreu no dia 16 de abril ao sentir os primeiros sintomas comuniquei a Coordenação da Vigilância do Distrito de Saúde Rural, após ser notificado fui orientado para iniciar o isolamento social, nos dois primeiros dias apenas sentir estado febril e leves incômodos na garganta.
No dia 20 de abril passei pela fase mais crítica dos sintomas, fui acometido por fortes crises de falta de ar, vomito e diarreia; a princípio parecia uma crise de ansiedade, longe dos familiares fui acolhidos por duas famílias de amigos, resisti para não ir ao pronto socorro, a partir desse dia foram 07 dias de crises de falta de ar, perda de apetite e consequentemente perda de peso com 06 quilos a menos.
Com a notificação recebi em domicílio a equipe do Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas – LACEAN/AM para coleta do exame de Covid, após fui acompanhado por atendimento gástrico, clinico e psicológico via chamada de vídeo para evitar o contato social, assim segui as orientações médicas e nutricionais para restabelecimento da saúde, contudo não havia confirmado se de fato era ou não Covid.
Após encerrar o isolamento social no dia 30 de abril reinstalei o aplicativo SASI e preenche corretamente com o código de identificação dos profissionais da saúde, assim consegui agendar para o dia 15 de maio, dia do Assistente Social, o teste rápido na Escola de Enfermagem da UFAM no Bairro de Adrianópolis, o qual testei positivo para Covid – 2019.
Confesso que foi um alívio, agradeci a Deus pela oportunidade de testemunhar a vitória sobre o vírus que há muitos colegas e amigos foram contaminados ou perderam a vida. No acolhimento da Escola de Enfermagem o Enfermeiro responsável orientou-me que continuasse os cuidados mesmo com 15 dias após o isolamento social, pois a Covid é desconhecida sobre suas consequências, pouco se sabe por se tratar de um novo vírus na história da humanidade.
Atualmente continuo com os cuidados necessários com a saúde sobre orientação médica, passei por uma reeducação alimentar e retornei gradativamente ao trabalho devido a fragilidade a qual fui acometido. Mantenho o uso de máscara, a higienização das mãos e dos objetos e alimentos comercializados. Não retornei a comunidade desde o dia 23 de março, mantenho contato com os familiares e demais moradores pelas redes socais e por vídeo chamada.
Portanto, concluo com a seguinte reflexão, como Cristão Católico Apostólico Romano afirmo que passar pela experiência do sofrimento nos leva a maturidade da fé, enriqueci nossa alma e nos ensina a redescobrir nossa essência. O sofrimento que o mundo foi acometido pela Pandemia, e muitos antes pelas várias formas de eliminar a vida não somente por enfermidades, mas pela violência, pela guerra, pela fome, pelo egoísmo, o egocentrismo e a corrupção humana, talvez não seria necessária outra lição para nos tornarmos mais humanos, solidários, e justos diante da necessidade do outro.
Texto: DANIEL LEANDRO DA SILVA / PRESIDENTE DA ACASFC
Fotos: Reprodução