Da coleta em um longínquo e chuvoso local na floresta amazônica até o instante de ser saboreada, a castanha-do-pará ou castanha-do-brasil percorre um caminho comercial peculiar, um processo ainda pouco conhecido dos consumidores no Brasil e mundo afora.
Entre as publicações sobre o tema, a mais recente é Cadeia de comercialização da castanha-do-pará na Amazônia Brasileira: novos rumos, velhos hábitos, que acaba de ser lançada (acesse aqui) pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
A demanda mundial pela castanha-do-pará, também conhecida como castanha-do-brasil, em especial a amêndoa (parte interna da semente), movimenta a economia das comunidades tradicionais da região, como os ribeirinhos, indígenas e quilombolas, garantindo grande parte da renda familiar.
Toda a produção nacional de castanha vem da Amazônia, de onde a castanheira (Bertholletia excelsa S.B.H) é nativa. É um comércio expressivo: no ano de 2015, por exemplo, o valor da produção de castanha ultrapassou R$ 100 milhões. No entanto, como é dito na publicação, quem menos se beneficia economicamente pelas toneladas de produto comercializado são os comunitários.
A pesquisa que originou a publicação foi realizada na comunidade remanescente de quilombo Cachoeira Porteira, localizada na Reserva Biológica (Rebio) do Rio Trombetas, no município de Oriximiná, estado do Pará. As 103 famílias participantes não fogem à regra: dependem, como centenas de outros extrativistas da Amazônia, da coleta da castanha para sobreviverem, em especial no período das chuvas, quando realizam essa atividade. Em contrapartida, os quilombolas conservam os antigos castanhais, como já vêm fazendo na região há cerca de dois séculos.
Para o engenheiro-agrônomo Everaldo Nascimento de Almeida, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) e um dos autores, a publicação evidencia a importância da coleta de castanha da Amazônia como prática de obtenção de renda sustentável em uma unidade de conservação de recursos naturais, além de descrever o processo de organização social da comunidade no momento da coleta. “Tudo é muito bem organizado, desde quem pilota os barcos para levar os quilombolas às áreas de coleta, até quem cozinha e realiza a coleta”, relata o autor.
Um grande esforço e coragem é exigido dos coletores de castanha. “É um trabalho muito cansativo e perigoso. Os quilombolas enfrentam inúmeras adversidades, como naufrágios nas pequenas embarcações para irem aos pontos de coleta de castanha, correndo risco de afogamento, e picadas de animais peçonhentos”, descreve o autor.
Ao lado de Everaldo Nascimento de Almeida, são também autores de Cadeia de comercialização da castanha-do-pará na Amazônia Brasileira: novos rumos, velhos hábitos o economista Divino Herculys Lima, a socióloga Manuella Mattos Porto e o geógrafo José Ferreira da Rocha. O trabalho contou com o apoio técnico do Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará).
*Embrapa