Estamos diante de um desafio jamais posto a outras regiões no país e até mesmo no mundo, que é crescer economicamente ao mesmo tempo em que se conservam seus recursos naturais
A Amazônia sempre foi vista como um lugar a ser integrado, meio que fora do eixo das agendas de desenvolvimento. As expectativas de integração nacional desta vasta área, principalmente após a derrocada da produção da borracha, deram origens a inúmeras iniciativas que se mostraram descompassadas com a nossa realidade. E como mudar esse processo? Existe outra maneira de desenvolver a região que não passe pelos mecanismos clássicos de crescimento econômico?
Questões como essas não são de fáceis resoluções. É difícil dimensionar quais outros processos seriam necessários para que décadas de visões distorcidas sobre a região fossem mudadas para processo mais complexos de desenvolvimento, que considerassem, por exemplo, nossas particularidades sociais, históricas, geográficas, culturais, ambientais e políticas.
Ainda é muito questionado se uma economia de base florestal é capaz de mudar o panorama de aumento do desmatamento ilegal na região e, ao mesmo tempo, melhorar indicadores econômicos e socias na Amazônia. A reposta mais rápida, mas não a mais simples, é, sim. Mas para isso precisamos avançar em uma série de infraestruturas que permitam o desenvolvimento de novas matrizes econômicas ligadas a nossa vocação.
Vale destacar, que ainda somos a região com piores índices de educação (da básica ao ensino superior), temos a menor produção científica do país e concentramos o menor número de mestres e doutores, quando comparados com outras regiões. Não há dúvidas de que para o salto que estamos falando precisamos com urgência pensar nas mudanças desses números.
É preciso também que reconheçamos nossas desigualdades regionais internas; estados como Pará e Amazonas podem e devem cooperar para um crescimento mais homogêneo internamente.
Talvez a estratégia mais adequada seja a composição de redes de cooperação científicas que permitam produzir conhecimento a partir da biodiversidade regional e dos serviços ambientais produzidos pela floresta. Por meio da Força Tarefa dos Governadores pelo Clima e Floresta (GCF) a integração das agendas ambientais dos Estados da Amazônia Legal está se concretizando.
Há boas perspectivas de curto prazo de uma construção integrada de políticas públicas que possam modernizar o processo de licenciamento ambiental e também do monitoramento dessas atividades. Seria importante que outros setores também avançassem nessa direção. Nesse quesito, destaco o Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, que tem se empenhado em ser uma plataforma para a construção integrada desses novos modelos econômicos.
Apesar das várias crises que atravessamos, e agora falando mais do Amazonas, podemos vislumbrar o ambiente propício para a diversificação dessa matriz econômica tendo a floresta como grande diferencial competitivo para vários setores, inclusive para a agronegócio.
Sobre o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento e às Queimadas
Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente o governo do Amazonas acabou de publicar o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento e às Queimadas aqui no Estado. As ações do plano serão direcionadas aos municípios localizados no sul do estado, área de intensa pressão do desmatamento ilegal e com o maior número de focos de calor registrados no monitoramento de 2019.
No PPCDQ já existem recursos na ordem de 88 milhões de reais para que as ações foquem também em regularização fundiária e ambiental e na modernização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas – IPAAM.
A estratégia principal é a ampliação da governança ambiental para que pequenos produtores e agricultores familiares tenham acesso a regularização de suas áreas para ampliação do acesso ao credito e da modernização das suas atividades produtivas, reduzindo o impacto ambiental dessas atividade.
Ainda que os desafios sejam historicamente imensos, creio que há sim, apesar de tudo, condições de mantermos o otimismo para mudarmos o ciclo vicioso de destruição da floresta e dos nossos recursos naturais e transformar num circuito virtuoso de inovação onde a conservação da Amazônia será a base para a nova economia da região, inclusive dando suporte para que setores tradicionais da economia possam dar um salto competitivo em uma nova economia onde o Brasil tem chances concretas de ser líder mundial.
Não é exagero dizer que estamos diante de um desafio jamais posto a outras regiões no país e até mesmo no mundo, que é crescer economicamente ao mesmo tempo em que se conservam seus recursos naturais. É preciso retomar o esforço anterior da última década e robustecer as estratégias para o desenvolvimento científico da região.
É mais necessário ainda prever que esse “novo” modelo leve em consideração às particularidades de cada Estado, mas que ao mesmo tempo, o principal enfoque seja naquilo que nos une e nos define enquanto região.
Temos que encontrar caminhos para que o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental não sejam antagônicas, como muitos tem considerado em nossos dias. Encontrar as respostas para esse equilíbrio é fundamental para o futuro mais sustentável que todos esperamos.
Texto: Secretário estadual do Meio Ambiente, Eduardo Taveira
Fotos: Reprodução