Brasil tem primeiro Patrimônio Mundial Agrícola concedido pela ONU

Apanhadores de flores sempre-vivas da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, recebem reconhecimento internacional e passam a integrar a lista de 58 patrimônios agrícolas mundiais

O tradicional sistema agrícola dos apanhadores de sempre-vivas da Serra do Espinhaço (MG) recebeu  o reconhecimento internacional denominado Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM) concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), relembra o MAPA em sua retrospectiva 2020 na Rede Social Instagram.

O anúncio de reconhecimento do primeiro Patrimônio Agrícola Mundial brasileiro pela FAO ocorreu na sede do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com a presença da primeira-dama Michelle Bolsonaro, juntamente com a ministra Tereza Cristina e o representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala. Esta é a primeira visita de Michelle Bolsonaro ao Mapa. 

Essa certificação reconhece patrimônios agrícolas desenvolvidos por povos e comunidades tradicionais em diversas partes do mundo.

Com o reconhecimento das comunidades apanhadores de flores, o sistema de Minas Gerais passará a ser o quarto SIPAM da América Latina e o 59º patrimônio agrícola, envolvendo 22 países. Os outros três latino-americanos são o corredor Cuzco-Puno (Peru); o arquipélago de Chiloé (Chile) e o sistema de Chinampa no México. São sistemas ricos em biodiversidade agrícola e vida selvagem e importantes fontes de conhecimento indígena e culturas ancestrais.

Orgulho

O sistema agrícola da Serra do Espinhaço, praticado em seis comunidades nos municípios de Diamantina, Buenópolis e Presidente Kubitscheck formadas por camponesas e quilombolas, engloba a identidade cultural e a prática sociocultural de manejo e coleta das flores sempre-vivas, realizado há séculos naquela região.

Integrante dos apanhadores da sempre-vivas, Maria de Fátima Alves fala do sentimento de orgulho e vitória, após anos de luta e persistência pelo reconhecimento do trabalho. “Essa decisão é muito importante, pois vai contribuir para manter o sistema vivo e dar maior força para a continuidade do trabalho”, avalia Tatinha como é conhecida. Ela faz parte da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas – Apanhadoras de Flores Sempre-vivas (Codecex), que acaba de completar 10 anos de atuação.

Filha de pais de comunidades quilombolas, ela é um exemplo de que, de geração em geração, integrantes dessas comunidades transmitem seus conhecimentos no manejo das plantas e das atividades agrícolas, pastoris e extrativistas, cumprindo um importante papel de guardiãs da natureza. Ao mesmo tempo, garantem a autonomia alimentar por meio da produção agrícola de alimentos, como plantio de hortaliças, mandioca, arroz, entre outras culturas, e a criação de animais, com o pastoreio de gado curraleiro.

É um conjunto de práticas de convivência harmônica com o ambiente, mediante a preservação das tradições típicas da identidade cultural dessas comunidades, características que possibilitaram propor a candidatura do sistema mineiro à FAO. Com o reconhecimento, há agora, segundo Tatinha, as ações do plano de conservação a serem desenvolvidas, o que irá contribuir para dar sustentação à continuidade do trabalho de preservação, transmissão dos conhecimentos e acesso a novos mercados.

Biodiversidade

As seis comunidades que tiveram seus sistemas agrícolas reconhecidas pela FAO são Lavras, Pé-de-Serra, Macacos e as comunidades quilombolas de Raiz, Mata dos Crioulos e Vargem do Inhaí – estão numa área de aproximadamente 100 mil hectares e chegam a manejar mais de 400 espécies de plantas já catalogadas, incluindo as alimentares e as medicinais, cujos conhecimentos e práticas únicas são desenvolvidas ao longo de gerações para manter os recursos genéticos e melhorar a agrobiodiversidade.

Em relação às sempre-vivas – termo popularizado em virtude das características das flores, que depois de colhidas e secas, conservam sua forma e coloração – há cerca de 90 espécies manejadas de flores, com diversos formatos e cores.

No período de abril a outubro, apanhadores e suas famílias sobem a serra para a coleta, em áreas de campos rupestres do Cerrado, conhecida como Savana brasileira, que ocorrem a 1,4 mil metros de altitude. É nesses campos na Serra do Espinhaço que se encontram 80% das espécies de flores sempre-vivas no Brasil, de acordo com dados do dossiê enviado à FAO.

Os apanhadores permanecem por lá durante semanas. Para eles, é um momento de encontro entre as comunidades, promovendo a socialização. Além das flores são também coletados diversos tipos de folhas, frutos secos dentre outros produtos ornamentais, a depender da época do ano.

Texto com informação da Assessoria

Fotos: Divulgação

Post Author: Agro Floresta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *