Que a nossa quarta-feira seja repleta de bênçãos. Hoje, trago uma reflexão sobre a BR-319, uma rodovia inaugurada em 1976 que carrega muitas promessas, desafios e a esperança de um futuro melhor.
A BR-319 é frequentemente exaltada como a estrada da integração, capaz de transformar a economia do Amazonas, escoar os produtos da Zona Franca de Manaus e mudar a realidade do Estado. No entanto, ela também se tornou palco de discursos políticos e promessas vazias que ouvimos há quase cinco décadas: “Vou lutar pela BR-319”, “Conversei com o Presidente, e agora ela será asfaltada”, “Acabei de sair de uma reunião, e a BR-319 será prioridade”.
Enquanto os discursos se repetem, a realidade da estrada permanece: o trecho do meio, com 402 km, segue sem licença ambiental para asfaltamento.
Custos Elevados e Resultados Lentos
A manutenção da rodovia tem gerado altos custos. O Ministério dos Transportes investe anualmente entre R$ 150 e R$ 200 milhões, somando cerca de R$ 2 bilhões nos últimos dez anos. Por outro lado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) calcula que o asfaltamento integral do trecho central custaria mais de R$ 2 bilhões.
A Logística da Zona Franca e a Realidade Econômica
Acreditar que a BR-319 será o principal canal de escoamento da produção da Zona Franca de Manaus é uma visão que ignora a lógica econômica. O modal logístico predominante é o fluvial, que tem uma capacidade gigantesca. Um único navio de grande porte transporta até 1.600 contêineres por viagem. No total, mais de 300 mil contêineres são movimentados anualmente entre Manaus e outros destinos. Comparar essa eficiência com a capacidade limitada de uma rodovia sem infraestrutura adequada demonstra o equívoco de esperar que a BR-319 substitua o transporte fluvial.
Um Sonho Adiado
Mesmo com essas dificuldades, o asfaltamento da BR-319 continua sendo um direito legítimo dos amazonenses, não apenas para impulsionar a economia, mas para garantir o transporte seguro de produtos essenciais e o deslocamento da população. Quando assumi responsabilidades no desenvolvimento do Estado, propus um modelo inovador com a Matriz Econômica Ambiental, incluindo a ideia de transformar o trecho do meio da rodovia em uma “Estrada Parque”. A proposta incluía monitoramento por câmeras, passagens para animais e a criação de um destino turístico sustentável, conciliando infraestrutura e preservação ambiental.
Infelizmente, barreiras políticas e interesses econômicos frearam esse projeto. E, hoje, além do custo elevado, enfrentamos a resistência da ministra Marina Silva, que, alinhada a ONGs, segue criando entraves para a concessão da licença ambiental.
Que essa estrada, carregada de tanta história e potencial, deixe de ser um eterno palco de promessas e se transforme, finalmente, em realidade. Porque o povo do Amazonas merece mais do que lama e poeira; merece respeito, dignidade e oportunidades.
Texto: José Melo, ex-governador do estado do Amazonas.