Nativo da floresta, o açaí, fruto de grande valor para as populações tradicionais da Amazônia, caiu no gosto popular e ganhou fama nacional e internacional. Orgânica por natureza, a fruta apresenta uma cadeia produtiva crescente com potencial para atender diferentes segmentos da bioeconomia. Para garantir uma produção com maior qualidade, a Embrapa lançou, durante as comemorações online do seu 48º aniversário, a publicação “Euterpe precatoria Mart.: Boas Práticas de Produção na Coleta e Pós-Coleta de Açaí-Solteiro”.
A obra reúne informações sobre práticas e procedimentos que devem ser adotados em todas as etapas de produção dos frutos, desde o planejamento da safra até a comercialização da polpa pelas agroindústrias.
Cleísa Cartaxo, pesquisadora da Embrapa Acre e uma das autoras da publicação, explica que o processo de construção do material teve como ponto de partida o acompanhamento in loco das etapas de campo da produção de extrativistas do Acre, no Sul da Amazônia Ocidental. “A adoção das boas práticas é fundamental para garantir qualidade ao produto, mas, para esses procedimentos se tornarem viáveis, devem estar em conexão com a realidade do produtor, em função da diversidade socioeconômica que os extrativistas enfrentam na Amazônia”, acrescenta.
“A partir dessas recomendações, os produtores podem avaliar que procedimentos aplicados no dia a dia precisam ser adequados e as possíveis formas de ajuste. Isso vale tanto para o processo de extração como para o processamento do fruto”, reforça a pesquisadora.
Controle e aumento da produtividade
Os autores da publicação ressaltam que adoção das boas práticas de produção é também uma importante ferramenta de gestão na produção de alimentos, devendo ser aplicadas desde a produção da matéria-prima até a oferta/comercialização do produto final. Além de conferir qualidade, saúde, segurança e bem-estar ao consumidor, esses procedimentos podem contribuir para o fortalecimento da cadeia produtiva do açaí, tornando-a mais competitiva e inclusiva.
Com a incorporação dessas técnicas os extrativistas podem planejar e organizar as etapas de produção da cadeia do açaí, realizar melhorias no ambiente de trabalho e promover a racionalização de recursos financeiros e insumos. “São recomendações que aumentam a eficiência do processo de produção do açaí. O extrativista passa a ter uma visão global da cadeia e calcular o tempo de cada etapa da atividade para que os frutos cheguem até o mercado em boas condições de processamento”, explica Cleísa Cartaxo.
Cadeia crescente
A cadeia produtiva do açaí-solteiro desempenha um importante papel na base econômica dos estados da Amazônia e apresenta grande potencial de geração de negócios, renda e trabalho no campo, fatores que podem contribuir para desenvolvimento econômico e social para a região.
No Acre, os frutos de açaizeiro-solteiro estão entre as principais matérias-primas utilizadas na produção agroindustrial. Cerca de 90% de toda a polpa de açaí produzida no estado são de E. precatoria, oriundas, principalmente, de comunidades extrativistas de Feijó, município que ocupa o primeiro lugar em volume de produção.
Além da importância na segurança alimentar da população da região, o extrativismo do açaí tornou-se uma das principais fontes de renda em muitos municípios acreanos. “Considerando o potencial de mercado e o alto consumo da bebida na região, a adoção de boas práticas é fundamental para assegurar a sustentabilidade dessa cadeia produtiva.
Além da polpa do fruto, o açaí pode ser matéria-prima para diversos subprodutos na indústria de alimentos, farmacêutica e cosmética. A atividade contribui para a sustentabilidade da floresta e manutenção das famílias no campo, gera empregos diretos e indiretos e garante renda e qualidade de vida aos extrativistas de diversas localidades da Amazônia”, afirma o pesquisador da Embrapa Acre, Marcus Vasconcelos.
Outro aspecto relevante da cadeia do açaí é que a fruta já avançou além das fronteiras brasileiras. Uma produção sustentável e com qualidade assegura saudabilidade ao alimento e colabora para o cumprimento de metas descritas pela ONU em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aderidas e incentivadas pelo Governo Brasileiro, ressalta o pesquisador.
Parcerias
No Acre, a produção do açaí-solteiro conta com o apoio do Projeto Bem Diverso para adoção de boas práticas de extrativismo sustentável. Fruto da parceria entre a Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), o Bem Diverso busca assegurar os modos de vida de comunidades tradicionais e agricultores familiares, proporcionando renda e melhoria na qualidade de vida.
As ações com foco na cadeia do açaí contam também com o apoio do projeto MFAmazon, que faz parte do Projeto Integrado da Amazônia, financiado pelo Fundo Amazônia e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente. A iniciativa tem como desafio promover a troca de conhecimento científico sobre manejo florestal e o conhecimento local sobre extrativismo para a conservação da biodiversidade, possibilitando o desenvolvimento de territórios rurais na Amazônia, com renda e melhoria da qualidade de vida das populações locais.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa
Fotos: Reprodução