As biojoias, confeccionadas com materiais naturais como sementes, fibras e couro sustentável, vão além de simples acessórios. Elas representam um modelo de economia sustentável que valoriza a biodiversidade e beneficia comunidades locais, transformando recursos naturais em peças únicas, conectadas à cultura amazônica.
Esse setor não só gera renda e atrai consumidores nacionais e internacionais, como também fortalece o empreendedorismo feminino e incentiva a preservação ambiental. “Quando transformamos sementes ou couro de pirarucu em biojoias, estamos contando uma história de respeito pela natureza e mostrando que a floresta em pé vale mais do que derrubada”, afirma Sebastiana da Silva, artesã e empresária de Manaus.
A jornada de Sebastiana no artesanato começou em meio a desafios. Com a crise financeira que afetou o país, ela precisou fechar sua loja de produtos comerciais. “Foi um momento difícil, mas não desisti. Comecei com peças pequenas de artesanato. Meu filho, que já tinha interesse em design gráfico, passou a criar canecas e bottons personalizados”, relembra.
O cenário ganhou novo rumo quando o esposo de Sebastiana precisou se afastar do trabalho por motivos de saúde. “Queríamos encontrar algo que ele pudesse fazer em casa. Meu filho pesquisou na internet e encontrou luminárias feitas com canos de PVC. Ele sugeriu que tentássemos. Foi um sucesso: meu filho criava as artes gráficas, e meu esposo produzia as peças com o nosso apoio”, conta Sebastiana.
A família começou a expor seus produtos em feiras regionais como a Feira do Eduardo Ribeiro, a Agrofam e eventos da ADS. “Essas feiras foram essenciais para ganhar visibilidade, especialmente entre os turistas. Apesar do retorno financeiro, ainda sentimos a falta de maior reconhecimento do público local”, destaca a artesã.
Além das luminárias, o ateliê da família diversificou materiais e técnicas, ganhando destaque com a produção de biojoias – acessórios feitos com elementos naturais como sementes, madeira, bambu e couro de pirarucu. “A biojoia é mais do que um adorno. É uma conexão com a natureza e a sustentabilidade. Cada peça reflete o uso consciente dos recursos da Amazônia”, explica Sebastiana.
Entre os materiais utilizados estão o ouriço de castanha, sementes de açaí e fibras naturais. “Ao utilizarmos o que a floresta nos oferece, mostramos que é possível gerar renda e sustentar famílias sem agredir o meio ambiente”, afirma.
Apesar do crescimento da demanda por produtos sustentáveis, o mercado de biojoias ainda enfrenta desafios como a falta de visibilidade local e a necessidade de maior capacitação técnica. “As pessoas de Manaus precisam valorizar mais o artesanato local. Temos muitos artesãos talentosos que merecem reconhecimento”, pontua Sebastiana.
Sebastiana e sua família planejam lançar novos produtos, explorando materiais inovadores e mantendo a sustentabilidade como prioridade. “Queremos expandir sem perder nossa essência. Nosso objetivo é continuar levando a cultura amazônica para o mundo e mostrando que arte e economia sustentável podem andar juntas”, conclui.
Ao unir tradição, inovação e respeito à natureza, as biojoias não apenas ajudam a preservar a biodiversidade, mas também promovem o desenvolvimento econômico da Amazônia. Esse setor reforça a importância de manter a floresta em pé, demonstrando que a economia criativa é uma ferramenta poderosa para inclusão social e preservação ambiental.
Texto e Fotos: Sandrine Moraes
Edição: Beatriz Costa