Entre as obras de infraestrutura urbana previstas pelo Governo do Estado do Pará para a capital paraense, Belém pode receber a implantação de parques lineares no decorrer dos canais das avenidas Tamandaré e Visconde de Souza Franco.
O conceito, reeditado de maneira pioneira no Brasil ainda no início do século XX, faz referência a uma intervenção urbanística que busca reproduzir um fenômeno que ocorre naturalmente no entorno de rios, lagos e lagoas.
Mais do que um recurso visual agradável para os centros urbanos, os chamados parques lineares urbanos se configuram como áreas multifuncionais, na medida em que apresentam funções sanitárias, ecológicas e sociais.
Nesse sentido, o arquiteto e urbanista esclarece que a implantação dos parques lineares se configura a partir da criação de uma faixa permeável e pouco inclinada em torno desses corpos de água nas cidades, locais que geralmente são cercados por prédios e por pavimentos impermeáveis, que não possibilitam a absorção da água da chuva, como asfaltos, concreto, pedra. “Assim, o parque linear seria o que chamamos de dispositivo de infraestrutura verde, porque é baseado em vegetação e de certo modo imita o que vemos em bosques e florestas”.
BENEFÍCIOS
Entre os benefícios possibilitados por essa faixa verde no entorno de rios e lagos está, portanto, a absorção natural de água da chuva, permitindo a infiltração natural da água de subida da maré do rio que o parque margeia. Mas o professor reforça que, para que esses e outros efeitos benéficos sejam alcançados, os parques lineares precisam atender a algumas características básicas.
“Um parque linear precisa, obrigatoriamente, estar ligado a outras obras e dispositivos na sua área de influência de inundações e alagamentos, que é a área de influência de um rio (ou canal, como passamos a chamar alguns deles); essa área de influência é o que chamamos de bacia hidrográfica”, explica. “Basicamente uma bacia hidrográfica é um “buraco” extenso e nem sempre muito perceptível pela população, recortado por rios e lagos que se influenciam mutuamente, quando a maré sobe, ela sobe em todo aquele território, por exemplo”.
Dessa forma, Juliano considera que os parques lineares devem ser pensados para estar ligados – por tubos ou canaletas, superficiais ou enterrados – a outras obras, como faixas verdes rasgadas continuamente ao redor de quarteirões inteiros, com grama e plantas baixas como arbustos ou árvores pequenas. Outro exemplo citado por ele é a criação de tanques com vegetação nas cidades, podendo ser pequenos ou grandes.
“Os pequenos em geral chamamos de jardins de chuva, são preenchidos com seixo, cascalho, areia, argila e terra fértil e grama com arbustos. Ficam em áreas térreas ao ar livre em um edifício ou entre edifícios. Os tanques grandes em geral chamamos de alagado construído, de bacia de retenção, lagoa pluvial, há variações, mas basicamente é um lago artificial, com peixe, com vegetação nativa nas margens, que serve para receber o excesso de alagamento da cidade, para que o lago fique repleto, mas a cidade, em suas áreas mais altas, seja poupada”, esclarece.
“Todos esses elementos precisam existir e funcionar ao mesmo tempo e ser interligados por tubos, canaletas e não apenas termos o parque linear recebendo o acúmulo das águas de chuva desde as terras mais altas da bacia, escoando de modo rápido e destrutivo até chegar no ponto mais baixo, que é a beira do rio”, conclui.
Fonte: Diário do Pará