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Aqui no Sul do país o frio está tão intenso que nem o chimarrão e o café quente estão conseguindo nos aquecer

 

“Imagine um peão caseiro
guapeando o inverno, solito,
entre a fumaça do pito
e o vermelho do braseiro.
No seu mate sem parceiro
e em noites de solidão,
consolando o coração,
que chora por uma dona,
entre a cuia e a cambona,
num bordonear de violão…”

(Odilon Ramos)

 

Por aqui os gaúchos sempre dão um jeito de se proteger contra o frio, seja embaixo do poncho, com luvas nas mãos, o chimarrão aquecendo, aquela comida quentinha, um chocolate quente, ficar na beira da lareira, colocar o pinhão na chapa do fogão a lenha, com uma estufa nos pés, fazendo churrasquinho na lareira, comendo um feijão, uma sopa quente na janta, tomando um vinho, se vestindo cheio de roupas, há os que gostam do frio e os que adoram o verão.

Entrevistamos alguns gaúchos para sabermos como eles estão se virando nesse frio com temperaturas bem negativas e se eles gostam do inverno.

NÁDIA MILETO – Alegrete – RS

…”Eu adoro o frio, gosto muito do inverno até por causa da minha saúde. Gosto porque me remete a infância, tenho lembranças muito lindas, na qual eu considero importantes.

A minha mãe era costureira que batalhou muito para criar os filhos, juntamente com o meu pai que era pedreiro. Quando éramos crianças, eu e meus irmãos, ela nos acordava no inverno de manhã cedo, ainda estava noite, para irmos pra escola e morávamos no município de São Francisco de Assis, saíamos cedo, “quebrando geada”, como se fala por aqui. Na cabeça colocava uma touca de piloto que aparecia só os olhos, ela mesma tecia a touca, e quando chegávamos na escola morríamos de vergonha, mas era bem quentinha. Antes de sair tomávamos um café bem reforçado com leite e quando não tinha pão era polenta com queijo ou salame para irmos bem alimentados para a escola.

Foram anos de boas lembranças e a tarde no sol a gente comia bergamota e laranja direto do pé da árvore e a brincadeira era sempre tentando nos esquentar. Gostava muito de ir para fora (chácara, sítio) lá os parentes madrugavam para trabalhar, enfrentando a geada, tirando o leite das vacas, ajudávamos a alimentar os animais, essas são lembranças do frio. Mandavam a gente descascar e debulhar milho e para tomar banho era uma função, tinha que colocar latas com água pra aquecer no fogão a lenha e tomar o banho de bacia, tinha que ser rápido para não passar frio, uma fase boa onde vivemos a nossa infância.

Hoje em dia para passar o frio tomo uma taça de vinho quando chego do trabalho, os italianos costumam tomar um cálice sempre. Adoro a lareira acesa, fico encantada olhando as brasas, ver a transformação do fogo, energias. Adoro tomar sopa, mas não deixo de sair de casa porque a gente tem que viver as estações, se a gente ficar só dentro de casa no inverno iremos ficar deprimidos. Tem que sair e pegar um sol, se reunir com os amigos e comer um ensopado de mandioca, porque devemos viver as fases de nossa vida, a infância, juventude, idade adulta e terceira idade, precisamos viver!”…

 

MARCOS CARAFFA- Três de Maio – RS

…”Gosto muito do frio, embora me judie bastante em termos de saúde.

Quando está frio, o trabalho de campo, como Engenheiro Agrônomo, segue normalmente, mas sempre acompanhado do chimarrão. Nos momentos de folga, pinhão na chapa, leituras, filmes e futebol na televisão bem enrolado nas cobertas.”…

SIBELE PINTO SALDANHA – Alegrete – RS

…”Eu gosto do frio, porque é uma estação aconchegante. Quando eu estou de folga, gosto de ficar debaixo das cobertas, saborear sopas, caldos e um chocolate quente, comer bergamota no sol, que é uma rotina aqui do Rio Grande do Sul.”…

Escritora

Márcia Ximenes Nunes Chaiben

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