A explosão em Beirute, no Líbano, nesta semana, tem sido relacionada a um armazém onde estavam guardadas 2.750 toneladas de nitrato de amônio, produto usado na produção de fertilizantes. O Brasil tem um mercado de 36 milhões de toneladas de fertilizantes. Diante disto, especialistas debatem sobre o uso do elemento químico na agricultura brasileira.
Participaram do debate Daniel Vidal Pérez, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ), José Carlos Polidoro, pesquisador e especialista em fertilizantes da mesma instituição, e Cleiton Vargas, vice-presidente de vendas e marketing da Yara Brasil, com mediação de Fabrício de Martino.
Polidoro abriu os trabalhos com um breve histórico. “Em 1918 Fritz Haber, inventor da síntese de amônia ganhou o Prêmio Nobel de Química. Se fosse hoje, ganharia o da Paz, porque esse invento gerou todos os fertilizantes nitrogenados do mundo. E essa criação é responsável por alimentar 40% da população brasileira. Logo depois, ele se associou a Carl Bosch, outro Prêmio Nobel de Química, que desenvolveu a produção industrial dessa substância”.
O nitrato de amônio é feito por uma mistura do gás amônia com o ácido nítrico, aí faz-se a solução do nitrato de amônio. A produção mundial total é de 48 milhões de toneladas. “A partir daí divide-se em diferentes produtos finais, em formato de bolinha, nitrato de amônio e cálcio, nitrato de cálcio, nitrocálcio…”, revela Cleiton
Vale lembrar que existem quatro tipos principais de fertilizantes, e o Brasil é um grande importador: a ureia, o mais consumido no mundo, o sulfato de amônia, o nitrato de cálcio e o já mencionado nitrato de amônio. Esses dois últimos afetam a qualidade sensorial de produtos que consumimos in natura, como frutas e legumes.
Para Daniel, o acidente, que ainda assombra o mundo, se deve, basicamente ao não seguimento das regras de manuseio da substância como o nitrato. “Ele provoca uma forte reação química quando mal utilizado. Para chegar ao cenário de Beirute é necessária uma fonte de calor que leve a temperatura a mais de 200 graus Celsius. Ali, infelizmente, foi um exemplo de tudo que não deve ser feito”.
A chance de um acidente como este acontecer no Brasil é infinitamente menor. O nitrato de amônio não explode sozinho, é possível manuseá-lo sem medo, mas com cuidado. Já Polidoro acredita que houve erro humano na explosão. “Quando alguém se deliciar com uma tangerina ponkan bem suculenta pode ficar tranquilo, existe nitrato de amônio ali”, brincou o pesquisador.
Cleiton ressaltou ainda que se ficarmos um ano sem produzir fertilizantes metade da população mundial fica sem comida. “Esse insumo produz um papel fundamental para alimentar uma população mundial em constante crescimento”.
*Via Embrapa Fotos: Reprodução